dema
À sobrevivência urge esforço ingente,
desatolar de pútrida lama,
pisar, quem sabe, firme concreto,
depois, deitar em macia grama
e, então, liberto, sonhar, demente
voláteis cirrus no azul sem teto.
Caminho zopo rumo ao
destino,
não tendo em mente o
menor sucesso,
nada de pressa nem
desatino,
jornada que não requer
regresso,
qual andarilho pastor
menino
de ovelhas mortas, sou
peregrino.
Projéteis vazam-me sem
licença
a decretarem minha
sentença,
nenhum arrimo pra que
eu abrace
ou laço alheio que
aqui me enlace.
Céu cor de chumbo
pesa-me aos ombros,
pecado-chumbo de ser
humano
e assim chafurdo e
assim eu me afundo
longe a esperança de
um outro mundo.
Sou presa fácil do
canibal,
quer seja irmão, seja
pai, amigo,
imerso inteiro no lamaçal,
é qualquer deles meu
inimigo.
Sou morte certa a
blefar da vida,
também a vida a mofar
da morte,
só tenho vida enquanto
houver sorte
sei que o futuro é
somente a morte.
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