terça-feira, 27 de agosto de 2013

Labaredas

dema 
O fogo alto, com labaredas gigantes e lambentes,
alimentadas pelo vento forte,
devasta, em minutos, a vegetação de entorno.
Faz pó negro do capim seco e da folhagem semiverde,
que até então se prestava a alimentar o gado.
Assim, o seu retorno abrupto,
entusiástico e voluptuoso,
queimando as mágoas
e um resto de verde esperança que habitava meu coração.
Sobram-me apenas cinzas,
as quais, abundantes e ainda quentes,
espalho sobre as lembranças boas e tristes
que, na vida, advieram com tua ausência.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Mais irônico do que fúnebre.


dema
Aos que amam e aos que odeiam a segunda feira.

Adeus!
Eis que me vou,
infeliz como cheguei
(quem sabe isso ora mude...).
Agradeço a Deus por ter vivido,
por óbvio, experiência única.
Até mais aos que ainda ficam.
Que não destruam a Terra
ou morrerão todos de fome.
A quem amei, desejo o bem.
Aos que me odiaram, peço a Deus
permissão para que se trumbiquem
(se nunca fui santo, não é agora que o serei).
Aos que me amaram, quem sabe ainda me amem,
beijo seus corações e desejo que cumpram seu destino.
A quem sonha, que continue a sonhar,
pois o nefelibata vive melhor do que o andarilho.
A quem desejou minha morte,
que se transforme em morto-vivo
e sinta o que é a morte em vida.
E aos que expectam pelo que deixo,
que aguardem abrir o testamento.
Fui.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

CONTRATO

dema

Vou contratar-te para seres minha musa,
trabalharás como minha inspiração.
Serás bem paga, pois em troca desse múnus
eu certamente te darei meu coração.

Tu não me vês, eu não te vejo. Combinado?
Eis que assim não haverá qualquer desejo
e se algum dia me encontrares num ensejo,
não saberás que sou o teu apaixonado.

Falar de amor e de tudo que almejas,
não deixar fora também preocupações.
Solta tu’alma, permite que ela adeje
e entenderás todo o porquê das ilusões.

Das musas gregas me cansei, eu sou sincero,
sejam da Ática, Etólia ou Beócia.
Por vezes penso que se dedicaram ao ócio
ou inda inspiram a “Ilíada” de Homero.

É que preciso de u’a musa mais à mão,
que com presteza estimule o meu estro,
mesmo que faça com qu’eu sofra de paixão,
mas da rotina me expulse por sequestro.

Tenho certeza, tu não te arrependerás,
só não garanto sobrevida virtual.
Mister como esse não encontrarás igual,
já os teus direitos a Deus reivindicarás.

Assina logo esse contrato de trabalho,
vem adentrando ágil o meu pensamento.
Desnecessário maquiagem ou agasalho,
meu coração será o teu departamento.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Estrela errante

dema

Estrela errante,
sem galáxia,
de beleza exuberante,
no espaço perambula,
machucando corações
de nós outros,
navegantes de alma pura.

Quimera maliciosa,
lábios rosa, beijo em riste,
fez-se doce, até dengosa
pra deixar-me depois triste.

Quando eu quase inda menino,
apossou-se de meus sonhos,
sorrindo, fingiu que era
ninfa-musa de meus mimos.
Mas partiu como viera,
tornou os dias enfadonhos,
aboliu-me as primaveras.

O tempo sem pressa
bem depressa passa
e induz o olvido
a dar o ar de sua graça.

Mesmo tardia, de novo ela vem
e o bom navegante então não se contém,
entrega, imediato, o coração franzino
que teve raptado não mais que menino.

Dir-se-ia, portanto, aqui dèjá vu,
tão logo chegara, eu a vi partir.
Tirou-me a esperança, também minha calma
e, de sobejas, tomou a minh’alma.

Estrela errante,
‘strela sem galáxia,
pra mim, navegante,
foste só desgraça.

Estrela bandida
no espaço vagueia.
Que sejas maldita,
sem luz e bem feia.


http://www.demaisilva.com.br/ESTRELA%20ERRANTE.htm

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

É PRECISO AMAR

dema

Se em minh’alma,
a tristeza faz moradia ,
fenece o corpo,
cheira apodrecido;
olhos secos e fundos,
olhar moribundo,
ausentes as lágrimas
à  visão de mundo.

Mórbida lua no céu passeia,
pra fugir de estrelas, qualquer clarão;
busca esconder-se nas negras nuvens,
irmã desertora de meu coração.

De preferir-se, por certo, a morte
à maldita sorte,
não ter na vida uma paixão.
Os ecos moucos, no ataúde,
vindos de sinos, badalos roucos,
noticiando tardia ida
do indigente que errou a trilha
e, despercebido,
chegou à vida.

Alma esquisita
a vagar maldita
pelo infinito a descoberto,
fantasma certo do caminheiro
que anda perdido pelo deserto.

É preciso amar...

MINHA MENINA

dema

Tu bebes do sangue
que em minhas veias corre.
Em troca me dás
só palavras de afeto.
Bem vês que aos pouquinhos
a minh’alma morre,
onda se quebrando lá no mar aberto.
Mui foges de mim,
fosse eu sombra da morte,
perene ameaça
a mudar tua sorte.
É que sabes de há muito,
desde pequenina,
que tu sempre foste

SE SOUBESSE(S)

dema

Se antes soubesse eu de ti,
que nutrias por mim tanto amor,
entregar-te-ia minh’alma
sob a forma de uma linda flor.

Se soubesse que acaso sofreras,
pois me amando, a mim não tiveras,
pediria outra vida ao bom Deus
pra repor todos os dias teus.

Se eu soubesse teu sorriso triste,
quando ainda poucas primaveras,
dar-te-ia a alegria que existe
no universo de todas as eras.

Se eu soubesse o quanto me amaras,
eu jamais a teria esquecido.
Esquecido, eu me considerava,
levando a vida sempre ressentido.

Ah, soubesse eu que tanto me amavas,
porque muito também te amei;
não sabia que por mim choravas
nem soubeste que por ti chorei.

Eis passada nossa vida inteira,
retraçados destinos de outrora,
chega um anjo à toda carreira,
a contar-nos do amor só agora.

Se antes soubesse eu de ti,
que nutrias por mim tanto amor,
entregar-te-ia minh’alma
sob a forma de uma linda flor,
pra quando aspirasses tuas palmas,
te inebriasse meu suave olor.

http://www.demaisilva.com.br/SE%20SOUBESSES(S).htm

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Malfadada utopia

dema

Como é doído não ter vivido
uma paixão juvenil.
Mal nascida, rompida viu-se,
sem razão, sem sentido.

Embora não seculares,
Bonaparte proferiria:
“Quarenta elípticas te contemplam,
malfadada utopia!”

Vindo à tona o porquê
do inesperado esmaecer,
doce ao ego, amargo à alma,
o gosto se anuncia.

Revés do aprazível sabor
das ligeiras cartas brotado
(arte bruta de corações em chama,
prescindência do dizer “Te amo”),
da lembrança flui gosto de mágoa,
depressivo sentir derrotado.

Missivas, parem!
De repente não mais transitaram,
sem explicação nem adeus,
tal a criança que se perde sem onde,
sem para onde.

Supita-me um vazio no peito.
Engulo seco.
Umedecem-se meus olhos.
Vejo a lágrima que rola.

Foi-se
a vida de duas vidas,
sinas diversas vividas,
relegado o “se”.

No reencontro,
o olhar vesgo varre ao reverso
a linha do tempo;
toda escusa condenada,
punibilidade caduca.

Não mais chance às almas-metades.
Saudade profunda
de um passado-futuro ausente.

Meu coração se aperta.
Desvaneço.