dema
(Para que não sejam
esquecidos os civis que morrem de fome nas cidades sírias sitiadas por tropas
governamentais e grupos extremistas.)
Com
fome nasci,
nela
me tornei,
dela
não fugi,
por
ela me enterrei.
Vim
à luz sitiado,
eis
porque não a vi;
quadriênio
encurralado:
Al-Qaeda,
Daesh,
Al-Assad
e aliados.
Não
mais que um pedaço de gente,
nunca
o fora completamente.
Os
olhos esbugalhados,
ninavam-me
sons do abdômen,
não
sei quantos dias dormi.
Beberiquei
leite aguado,
por
óbvio contaminado.
Se
acaso algum dia comi?
Em
pesadelos, talvez:
figo,
tâmaras, quibes,
pão
com babaganuche
na
casquinha de siri.
Como
eu, os guris de Kefraya,
os
pele e ossos de Fu’ah,
reais
transformers tornados
de
uns malditos filhos de Alá.
Sonâmbulo
acordado, previ
chegar
o comboio da ONU,
que
de longe, muito de longe,
vinha
matar nossa fome.
Vibrei,
temi, tremi.
Retenho
a visão derradeira,
mamãe
estendida na esteira,
nem
forças para um afago
com
poder do gesto de um mago.
Ei,
o comboio, olha lá!!!
Mas
eu já do lado de cá.
Se
em Madaya nasci,
ainda
que sem viver,
também
em Madaya morri.
Meu
nome faz lembrar Alan,
contudo,
é Ali.
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