quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

A VIRADA


Eis que 2009 chega ao fim.
Para a terra é mais um movimento de translação que se completa.
Talvez um pouquinho mais de temperatura na superfície, que provavelmente se equilibra com o resfriamento do planeta, gradual e permanente.
Para o calendário é mais uma página virada.
Para a humanidade, um marco a mais na evolução do saber científico, tecnológico, que possivelmente não compensa a degradação dos valores construídos ao longo de sua existência.
Psicologicamente, significa festa, conquista, graça e desgraça.
Pensamentos se elevam até a esperança de nova vida, mais saúde, um concluir de curso, um novo aniversário da criança, ou
uma simples taça de champagne.
É o momento da avaliação, da revisão e das promessas: de um quilo a menos, de um esforço a mais, de finalizar o inacabado, de deixar um vício; mas há de ser, sobretudo, a hora do agradecer, se nada em especial existir, pelo que de mais sagrado, a vida.
Ao político, abre-se o período de caça às articulações, ao voto. Tem-se que lutar, ainda que com esforço e dinheiro alheios, pela permanência ou pela tomada do poder: o que é o homem senão seu próprio lobo (Hobbes).
Ainda: a oportunidade da lembrança, dos fatos, dos amores, das vidas idas e das chegadas.
A todo modo, sobrepõe-se a ocasião do
brinde
ao que vier de novo
e do desejo de
saúde,
paz
e
bem!
FELIZ ANO NOVO!!!

DEMA

domingo, 20 de dezembro de 2009

Solidão

Dema

Solidão me traz poema,
Impulsiona a minha pena.
Convoca musas de estro
N’outro lado do Universo

Chegando devagarinho,
Se encontravam longe, longe,
Se achegando com carinho,
Me desnudam, jovem monge.
M’abraça a mais bela e beija,
Diz qual ser verso primeiro.
E uma a uma, desfilando,
Ditam até o derradeiro.
Eu que sequer tinha um tema,
Já burilando um poema,
Qu’as musas vão declamando
Na busca de outro vate,
Qual descabelado tanto,
Sem inspiração se abate.

Uma borboleta nova,
Vez liberado casulo,
Batendo as asas afora,
No espaço perambula.
Ressonando os versos muitos
Da obra mal acabada,
d’amores embevecidos,
Febris paixões se enlaçando,
Tramas de enlouquecidos,
Ternura se derramando.
Ora é a vida que goteja,
Me questiona ou dignifica
Que da morte Deus proteja
Quem lembranças crucifica.
Ou então é a natureza,
Esse espelho do Deus trino,
Que preenche co’a beleza
A minh’alma de divino.
E assim toco a labuta
De tentar novo poema,
Eis a minha eterna luta,
Qu’a solidão torna amena."
 
Só ela me traz poema,
Impulsiona a minha pena.
Convoca musas de estro
N’outro lado do Universo.


sábado, 12 de dezembro de 2009

Dois anos sem meu pai.


Dema


Hoje faz dois anos que o Senhor levou meu pai, aos oitenta e três anos, após dezessete dias de internação em UTI.

Sebastião Inácio da Silva, assim era seu nome. Caçula entre quinze irmãos, de dois casamentos de seu pai. Um homem simples, que muito mal escrevia e pouco mais que soletrava. Mesmo assim, leu a Bíblia por inteiro e diversas vezes.

Papai era um homem de temperamento forte, nervoso e, ao revés,  extremamente afetivo. Jamais usou de violência, sabia controlar-se e chorava em qualquer despedida, até quando assistia suas novelas.

À sua moda, muito amou minha mãe e para nós, seus quatro filhos, nunca mediu qualquer esforço.

Papai me via como seu ponto de apoio, se bem que, em verdade, ele era minha fortaleza. Muitos dos princípios que norteiam meu agir advêm dele. Ensinou-me, fazendo o mesmo a meus irmãos, a ser honesto, a praticar a justiça, a humildade, a não acomodação, o respeito aos outros, o temor a Deus e a agradecer-LHE pela vida, pela saúde, pela inteligência...

Papai, por toda a vida, trabalhou a terra, não própria, mas em arrendamento. Tirou dela, com a força de seus magros braços e o suor do seu rosto, o sustento para sua família até que cada filho adquirisse autonomia.

Seu sonho de riqueza consistia em um dia poder ter uns poucos alqueires de terra fértil, para plantar no que fosse seu e, num pequeno pasto, ver algumas vacas leiteiras que iria adquirir. Quando isso poderia ter sido alcançado, já não tinha idade apropriada e ânimo suficiente para tal empreitada.

Uma das virtudes que nele eu mais admirava era o seu senso de justiça. Se tivesse estudado Filosofia, provavelmente se encantaria com KANT, tal era a presteza com que cumpria suas obrigações. Era um excelente pagador, mas também não admitia ser lesado dolosamente.

Papai amava sua família e gostava de se ver rodeado dos filhos. Adorava, com os poucos amigos arrebanhados, usar seu tempo de lazer num joguinho de truco, tanto que baralhos não lhe faltavam, nunca, entretanto, com apostas.

Seu nome não será dado a praça, rua, avenida, viaduto ou qualquer obra pública, porque jamais esteve em evidência.
Para mim, contudo, sua marca se acha inserta no meu próprio modo de ser e muito na minha maneira de agir.

De uma coisa tenho certeza: está junto de Deus.

Se eu tivesse que escolher o seu epitáfio, escreveria:

“Aqui estão os restos mortais de um homem justo”.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

MINHA ESCOLA

Prof. Adilson Cunha (Pindamonhangaba/SP)
05/12/2009


O ano que está chegando ao fim prometia. E se analisarmos em profundidade, concluiremos que não foi diferente. Hoje não existe escola boa nem escola ruim, pois uma série de fatores faz com que uma sobrepuje a outra. A clientela faz a diferença. A aplicação de um eleva o nível da escola toda.
Lá se foram o Saresp e a Prova Brasil. Duas avaliações de governos diferentes dentro de um mesmo país. Enquanto esta do Governo Federal, aquela do Paulista.
Dois mil e nove foram de investimentos e de reformas, tanto na escola como fora dela. Mas no ar fica um questionamento:
-----Por que será que o governo está derramando pecúnias pelo estado todo? Nos demais anos não havia recursos?
Mas falemos daquilo que aconteceu na EE “Prof. Antonio Apparecido Falcão”. Todos que deparam com placa, colocada visivelmente na entrada, ficam perplexos com o montante do investimento: meio milhão de reais. Mas no ar fica mais um questionamento:
----O que será que foi feito para ter consumido tanto?
Grande parte foi para a quadra. Foi feita uma nova poliesportiva. E o restante foi investido no prédio.
As empresas que ganham a licitação visam lucro. Quanto menor o custo, maior é a sobra. Ela entrega a conclusão daquilo que estava proposto, o estado recebe, mas, passado algum tempo, já está necessitando de novos reparos.
Voltemos ao prédio. O banheiro masculino, usado pelos alunos, em matéria de tempo, os funcionários trabalharam nele, quase todo o tempo que a empreiteira tinha em disponibilidade. O feminino foi mais rápido. Os bebedouros foram todos demolidos e refeitos. Só um detalhe: as torneiras não mais fecham. Se gasta água em demasia. E como falar aos nossos alunos sobre água? Como faremos se é um produto da natureza que está se escasseando?
Adentremos o pavilhão. Os banheiros internos, usados pelo corpo docente e administrativo, masculino e feminino, foram revisados. Melhor falando, foram quebrados e feitos novamente. Mas os questionamentos continuam no ar:
----Por que trocaram as peças que estavam funcionando? E agora: as águas jogadas no piso correm em direção aos ralos ou em direção às portas?
Durante o tempo de permanência da empresa no recinto escolar, faz-se barganhas, aconchavos, pois é muito dinheiro em jogo, e ela acaba fazendo algumas coisas que não estavam no planejamento. Tudo é oficioso. E a fachada vai ficando linda, bonita. Mas é preciso subir as escadas.
Subindo as escadas, chegamos aos lugares onde os alunos permanecem por mais tempo. E as perguntas vão fluindo.Questionamentos no ar:
---- Os quadros de giz foram reformados. Por que se têm dificuldades em escrever neles? Por que será que as tomadas elétricas não funcionam? Por que é preciso usar extensão elétrica?
A reforma da elétrica não fazia parte da planilha? Por que não fizeram como nos banheiros, jogando tudo no chão e fazendo tudo novamente? Por que não colocaram fios e conectores novos? Assim não precisava usar extensão elétrica de um recinto ao outro.
Vamos ao corredor. Ficou todo amarelado. Mas esqueceram que a tinta não adere aos tijolos refratários. Mais tarde os arrependimentos virão. Existirão outros recursos e tudo será feito novamente. Dinheiro público é assim mesmo: vai pelo ralo e lá na frente tem gente esperando pelas enxurradas. Mas ficam no ar os questionamentos;
----Falam do Plano de Aceleração do Governo Federal, mas o Governo Paulista também não tem o seu? Olhem as estradas vicinais que estão sendo reformadas. São milhões de reais espalhados pelo estado. Mas olhem, principalmente a qualidade dos serviços. É dinheiro público vazando pelos ralos.
A minha escola ficou bonita por fora, mas o pessoal que nela trabalha ainda não teve suas perdas salariais refeitas. Mas continua no ar o questionamento:
----O funcionalismo público não merece ser valorizado?
É preciso dar um cavalo para quem diz a verdade.
Até outra vez.

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