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Súbito, vimo-nos lançados à deriva no século XXI.
Cataclismos naturais e humanos sacodem o planeta. Deus e o Diabo parecem
disputar um caldeirão com lava efervescente derramando-se sobre a crosta. O
primeiro, tentando esfriá-lo, enquanto o segundo, incandescê-lo mais.
Sabe-se lá se em consequência do aquecimento global, seja
por ação humana ou da própria dinâmica evolutiva dos corpos celestes, nesta
centúria, desde o início, a superfície terrestre vê-se conturbada. Seguidas são
as reacomodações das placas tectônicas (subducção e obducção), com seus efeitos
imediatos, a exemplo dos terremotos, maremotos e derramamento de lava vulcânica.
Intensas ainda as lembranças dos grandes abalos sísmicos, tais os que ocorreram
no Peru - 2001, na Indonésia - 2004 (mais de 220 mil vítimas; originário na
Ilha de Sumatra, com o violento tsunami, atingiu cerca de treze países do
Sudeste Asiático); no Haiti, em 2010 (destruindo
praticamente a capital, Porto Príncipe, além de outras cidades insulares); na
Península de Oshika, no Japão, em 2011 (acima
de 13 mil mortes e milhares de feridos, seguido do terrível tsunami que
inutilizou a central nuclear de Fukushima); forte terremoto do Nepal, em 2015
(que pôs abaixo parte da capital Katmandu); no Chile, também em 2015, e
inúmeros outros de magnitude menor em variadas partes do mundo. Constantes,
outrossim, as secas e inundações, com consequências funestas para a população
das áreas atingidas (Bósnia, Brasil, Estados Unidos), além de furacões e tornados
que insistentemente castigam as terras e a gente americanas.
Não bastassem intempéries naturais, populações inteiras
veem-se assoladas por doenças (endemias), sobremodo aquelas socialmente
“excluídas” em razão de pobreza, subnutrição, nula ou ínfima assistência
sanitária, falta de educação, moradia, tanto em países atrasados, quanto em
desenvolvimento, até mesmo de primeiro mundo. O vírus “ebola” dizimou milhares
de pessoas em plagas africanas (epidemia), paralelamente à AIDS (que alcança aglomerações
humanas de qualquer nível de crescimento); ora, a dengue, a chikungunya e o
Zika vírus espalhando-se assustadoramente pelo território das Américas
(pandemia). O câncer segue foiçando milhares de vidas por ano em todo o globo,
com incidência maior nos países menos desenvolvidos.
Pior, talvez, do que os fenômenos naturais e doenças,
afigura-se, a meu ver, o comportamento de grupos sociais contemporâneos, numa
denotação típica de selvageria, instigando-nos à interpretação de que a
sociedade humana, de algum modo, opta por voltar às origens de sua barbárie,
promovendo o extermínio de minorias étnicas ou intentando incrementar a
insegurança de civis inocentes, quer em áreas desenvolvidas, quer em países em
desenvolvimento e do chamado terceiro mundo. Invocando pretextos religiosos
(fundamentalistas), impõem o terror sobre indivíduos incautos e de bem e, geralmente,
desprovidos de meios de defesa. A ganância pelo poder, de referidas hordas armadas,
leva-as ao extermínio fratricida em regiões com vazios de governança, bem assim
a atos terroristas em países que se opõem a suas intentonas expansivas e
assassinas, suscitando o medo e a insegurança em todos os continentes, mormente
Eurásia, África, até América. Inolvidável a ofensiva contra as “torres gêmeas”,
o onze de setembro de 2001 e os recentes ataques terroristas na Europa (França,
Bélgica) e nações de África e Ásia. Isis, Al-Qaeda, Boko Haram, Taliban,
Al-Shabaab, Hezbollah destacam-se como assassinos sanguinolentos de civis,
incluindo minorias étnicas, mulheres, idosos e crianças. A ação desses bandos
tem trazido o pandemônio às suas vítimas, ocasionando o esvaziamento
demográfico das regiões atacadas, com a fuga desenfreada de residentes para a
Europa (migrantes e refugiados), por meios de transporte exploradores e nem
sempre adequados, do que resulta transformar o Mediterrâneo em verdadeiro
cemitério hídrico.
Ademais de tudo isso, os valores éticos e religiosos vêm
perdendo a supremacia na cultura ocidental (e na oriental), do que se
aproveitam as quadrilhas de poder para, em satisfação de sua ganância por
dinheiro e riquezas, praticar toda e qualquer espécie de falcatrua, assaltando
os cofres públicos e reduzindo Estados à falência, tudo em detrimento dos
cidadãos comuns, obrigados que são a arcar com as consequências de atitudes
dessa natureza. A corrupção, hoje, se apresenta disseminada, sobretudo em
países em desenvolvimento e de menor nível de progresso, operando como traça
avassaladora da riqueza das nações.
Todavia, apesar de tanta barbárie, que possivelmente
deixaria atônitos os vândalos invasores do Império Romano, a poesia sobrevive e
se posiciona como instrumento poderoso de denúncia da truculência sofrida pelos
oprimidos, ainda, como detectora e cantadora do que resta de bom e de belo na
natureza e no coração das pessoas.
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