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sábado, 30 de abril de 2016

Criatura


dema

Ser criado, perenal me quero,
ainda que em memória apenas,
registrar a vida, assaz pequena,
para calma no meu desespero

Fatia única do transitório
implantada no momento eterno,
torne-a, o Ser Perfeito, um compulsório,
pois que originário sou de termo.

Haverá alguém que assim não pense,
que se perpetuar jamais quisera,
ou, malgrado o viver não compense,
vê-se conformado a esta esfera?

Duvido haja criatura humana
que nunca se imaginou divina;
por mais que se lhe pareça insana,
essa aspiração muito fascina.

Talvez presa à sua natureza
esteja a inveja da eternidade
e se travista artigo de  nobreza
a ânsia vã da perpetuidade.


em demasilva

domingo, 24 de abril de 2016

Paisagem


dema


Ipê frondoso, em traje azul, de mãos dadas co’amarelo,
nas verdes margens do regato, das águas mui cristalinas,
a lavar os seixos brancos como ao pátio de um castelo,
onde flertam, os mancebos, com furtivas messalinas.

Quando em vez, a pata mãe, a liderar os pintainhos,
corta as águas turbulentas, navegando com destreza,
para treino dos meninos, inda tão pequenininhos,
cujo fito é o de somar-se aos mimos dessa natureza.

Mais ao longe o gado pasta, ruminando à boca cheia,
relva fresca, suculenta, que dispensa sobremesa;
na folhagem ribanceira, mil trinados e gorjeios,
melodia necessária a complemento da beleza.

Debruçado sobre a nuvem, enquanto expõe sorriso largo,
gargalhando intimamente de tanta satisfação,
o senhor deste universo, após cumprido o próprio encargo,
sopra bênção e paz imensa na paisagem oração.

Imagino, à noite, a lua, nessas águas, refletida,
sendo causa para inveja ao sol que brilha nas manhãs,
pois que chega acompanhada de estrelas bem vestidas
e com broche em diamante, todas gêmeas irmãs.

Me pergunto, preocupado, vendo o belo paraíso,
qual rumo lhe será dado pelo então destinatário,
pois se sabe, de antemão, quão minúsculo é seu juízo,
ante tão rico tesouro, será ele perdulário?


em demasilva

terça-feira, 19 de abril de 2016

Lançamento - coparticipação - CAMARINHAS DE POESIA II


Lançamento:
"Camarinhas de Poesia II"

Obra coordenada por Ivone Gomes de Assis, publicada por Assis Editora. Conta com a participação de 56 escritores de Uberlândia e Região. É fruto do Sarau "Gotas Poéticas", evento cultural que acontece toda última quinta feira do mês, de fevereiro a novembro, na Assis Editora, Rua José Antônio Teodoro, 76, B. Aparecida - Uberlândia-MG.
Com o patrocínio de SANKHYA GESTÃO DE NEGÓCIOS, Camarinhas II aborda a temática "Sustentabilidade cultural", no caso, alicerçada em três pilares: ecologicamente correto, culturalmente diverso e socialmente justo. 

Vale a pena conferir: Quarta Feira - 20/04/2016 - 19:00 hs - Auditório Cicero Diniz (Prefeitura Municipal)

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Apesar da barbárie, a poesia

dema

Súbito, vimo-nos lançados à deriva no século XXI. Cataclismos naturais e humanos sacodem o planeta. Deus e o Diabo parecem disputar um caldeirão com lava efervescente derramando-se sobre a crosta. O primeiro, tentando esfriá-lo, enquanto o segundo, incandescê-lo mais.
Sabe-se lá se em consequência do aquecimento global, seja por ação humana ou da própria dinâmica evolutiva dos corpos celestes, nesta centúria, desde o início, a superfície terrestre vê-se conturbada. Seguidas são as reacomodações das placas tectônicas (subducção e obducção), com seus efeitos imediatos, a exemplo dos terremotos, maremotos e derramamento de lava vulcânica. Intensas ainda as lembranças dos grandes abalos sísmicos, tais os que ocorreram no Peru - 2001, na Indonésia - 2004 (mais de 220 mil vítimas; originário na Ilha de Sumatra, com o violento tsunami, atingiu cerca de treze países do Sudeste Asiático);  no Haiti, em 2010 (destruindo praticamente a capital, Porto Príncipe, além de outras cidades insulares); na Península de Oshika, no  Japão, em 2011 (acima de 13 mil mortes e milhares de feridos, seguido do terrível tsunami que inutilizou a central nuclear de Fukushima); forte terremoto do Nepal, em 2015 (que pôs abaixo parte da capital Katmandu); no Chile, também em 2015, e inúmeros outros de magnitude menor em variadas partes do mundo. Constantes, outrossim, as secas e inundações, com consequências funestas para a população das áreas atingidas (Bósnia, Brasil, Estados Unidos), além de furacões e tornados que insistentemente castigam as terras e a gente americanas.
Não bastassem intempéries naturais, populações inteiras veem-se assoladas por doenças (endemias), sobremodo aquelas socialmente “excluídas” em razão de pobreza, subnutrição, nula ou ínfima assistência sanitária, falta de educação, moradia, tanto em países atrasados, quanto em desenvolvimento, até mesmo de primeiro mundo. O vírus “ebola” dizimou milhares de pessoas em plagas africanas (epidemia), paralelamente à AIDS (que alcança aglomerações humanas de qualquer nível de crescimento); ora, a dengue, a chikungunya e o Zika vírus espalhando-se assustadoramente pelo território das Américas (pandemia). O câncer segue foiçando milhares de vidas por ano em todo o globo, com incidência maior nos países menos desenvolvidos.
Pior, talvez, do que os fenômenos naturais e doenças, afigura-se, a meu ver, o comportamento de grupos sociais contemporâneos, numa denotação típica de selvageria, instigando-nos à interpretação de que a sociedade humana, de algum modo, opta por voltar às origens de sua barbárie, promovendo o extermínio de minorias étnicas ou intentando incrementar a insegurança de civis inocentes, quer em áreas desenvolvidas, quer em países em desenvolvimento e do chamado terceiro mundo. Invocando pretextos religiosos (fundamentalistas), impõem o terror sobre indivíduos incautos e de bem e, geralmente, desprovidos de meios de defesa. A ganância pelo poder, de referidas hordas armadas, leva-as ao extermínio fratricida em regiões com vazios de governança, bem assim a atos terroristas em países que se opõem a suas intentonas expansivas e assassinas, suscitando o medo e a insegurança em todos os continentes, mormente Eurásia, África, até América. Inolvidável a ofensiva contra as “torres gêmeas”, o onze de setembro de 2001 e os recentes ataques terroristas na Europa (França, Bélgica) e nações de África e Ásia. Isis, Al-Qaeda, Boko Haram, Taliban, Al-Shabaab, Hezbollah destacam-se como assassinos sanguinolentos de civis, incluindo minorias étnicas, mulheres, idosos e crianças. A ação desses bandos tem trazido o pandemônio às suas vítimas, ocasionando o esvaziamento demográfico das regiões atacadas, com a fuga desenfreada de residentes para a Europa (migrantes e refugiados), por meios de transporte exploradores e nem sempre adequados, do que resulta transformar o Mediterrâneo em verdadeiro cemitério hídrico.
Ademais de tudo isso, os valores éticos e religiosos vêm perdendo a supremacia na cultura ocidental (e na oriental), do que se aproveitam as quadrilhas de poder para, em satisfação de sua ganância por dinheiro e riquezas, praticar toda e qualquer espécie de falcatrua, assaltando os cofres públicos e reduzindo Estados à falência, tudo em detrimento dos cidadãos comuns, obrigados que são a arcar com as consequências de atitudes dessa natureza. A corrupção, hoje, se apresenta disseminada, sobretudo em países em desenvolvimento e de menor nível de progresso, operando como traça avassaladora da riqueza das nações.
Todavia, apesar de tanta barbárie, que possivelmente deixaria atônitos os vândalos invasores do Império Romano, a poesia sobrevive e se posiciona como instrumento poderoso de denúncia da truculência sofrida pelos oprimidos, ainda, como detectora e cantadora do que resta de bom e de belo na natureza e no coração das pessoas.

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http://www.demasilva.com/PINEDITOS/APESAR_DA_BARBARIE.html

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Como a luz da estrela guia

dema


Longe de mim a pretensão de eternidade
(mesmo porque, se nascido, não a teria),
externo, contudo, meu desejo-prioridade,
que a vida dure quanto a luz da estrela guia,
viajante do universo em direção ao infinito,
cuja orla aconchega areia branca sem detrito,
imaginário fim de ilimitado território,
não importa o itinerário, retilíneo ou aleatório,
pois acalma quem mordisca e belisca com arrelia,
o intenso desespero de viver por mais um dia.
Assombra-me o desdém com que muitos tratam a vida,
tal se folhas farfalhando quando sopra o forte vento,
néscios de seu valor, sorvem-na como bebida
e, em seguida, quebram a taça, em razão do desalento.
Pudesse, eu, domar o “cronos”, por certo o destruiria,
impedindo que a mudança nos fizesse envelhecer,
nesse ponto invejo a Deus  na sua soberania,
sem começo, meio e fim, jamais há de fenecer.
Nem pensar que eu tema a morte, sei que dela não se evade,
mas o gosto pela  vida faz com que me acovarde,
inda assim me considero, com a sorte, assinalado,
trago as marcas do amor num coração tatuado.



sábado, 2 de abril de 2016

Ter-te

 dema

                            Para Leonice, minha esposa.

Quisera eu jamais ter de ter alguém,
mas sem te ter, juro, não sou ninguém;
inda que o mundo inteiro fosse meu,
sem ti, por certo, eu não seria eu.

Não te reduz o ter-te a posse minha,
por óbvio, não também a propriedade;
ah, ter-te é completar-nos quais metades,
fazer de mim o rei, de ti rainha.

Ter-te, pra longe, expulsa a solidão,
jorra na noite o brilho das estrelas,
descobre atrás das nuvens o clarão
da lua receosa de perde-las;

é refletir no mar toda a beleza
que a luz do sol esconde enquanto dia
e, que ao cair da tarde, principia
a expor quão extasiante é a natureza.

Ter-te é, sim, navegar à toda vela
por mares nunca dantes conhecidos,
é não me preocupar com a procela,
enfrentar ventos fortes destemido.

Ter-te é me projetar rumo ao infinito,
descuidar se haverá outro amanhã,
então, tocar a vida sem conflitos,
nem me lembrar da morte no divã.

Quisera eu jamais ter de ter alguém,
mas sem te ter, juro, não sou ninguém.