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quinta-feira, 14 de abril de 2016

Apesar da barbárie, a poesia

dema

Súbito, vimo-nos lançados à deriva no século XXI. Cataclismos naturais e humanos sacodem o planeta. Deus e o Diabo parecem disputar um caldeirão com lava efervescente derramando-se sobre a crosta. O primeiro, tentando esfriá-lo, enquanto o segundo, incandescê-lo mais.
Sabe-se lá se em consequência do aquecimento global, seja por ação humana ou da própria dinâmica evolutiva dos corpos celestes, nesta centúria, desde o início, a superfície terrestre vê-se conturbada. Seguidas são as reacomodações das placas tectônicas (subducção e obducção), com seus efeitos imediatos, a exemplo dos terremotos, maremotos e derramamento de lava vulcânica. Intensas ainda as lembranças dos grandes abalos sísmicos, tais os que ocorreram no Peru - 2001, na Indonésia - 2004 (mais de 220 mil vítimas; originário na Ilha de Sumatra, com o violento tsunami, atingiu cerca de treze países do Sudeste Asiático);  no Haiti, em 2010 (destruindo praticamente a capital, Porto Príncipe, além de outras cidades insulares); na Península de Oshika, no  Japão, em 2011 (acima de 13 mil mortes e milhares de feridos, seguido do terrível tsunami que inutilizou a central nuclear de Fukushima); forte terremoto do Nepal, em 2015 (que pôs abaixo parte da capital Katmandu); no Chile, também em 2015, e inúmeros outros de magnitude menor em variadas partes do mundo. Constantes, outrossim, as secas e inundações, com consequências funestas para a população das áreas atingidas (Bósnia, Brasil, Estados Unidos), além de furacões e tornados que insistentemente castigam as terras e a gente americanas.
Não bastassem intempéries naturais, populações inteiras veem-se assoladas por doenças (endemias), sobremodo aquelas socialmente “excluídas” em razão de pobreza, subnutrição, nula ou ínfima assistência sanitária, falta de educação, moradia, tanto em países atrasados, quanto em desenvolvimento, até mesmo de primeiro mundo. O vírus “ebola” dizimou milhares de pessoas em plagas africanas (epidemia), paralelamente à AIDS (que alcança aglomerações humanas de qualquer nível de crescimento); ora, a dengue, a chikungunya e o Zika vírus espalhando-se assustadoramente pelo território das Américas (pandemia). O câncer segue foiçando milhares de vidas por ano em todo o globo, com incidência maior nos países menos desenvolvidos.
Pior, talvez, do que os fenômenos naturais e doenças, afigura-se, a meu ver, o comportamento de grupos sociais contemporâneos, numa denotação típica de selvageria, instigando-nos à interpretação de que a sociedade humana, de algum modo, opta por voltar às origens de sua barbárie, promovendo o extermínio de minorias étnicas ou intentando incrementar a insegurança de civis inocentes, quer em áreas desenvolvidas, quer em países em desenvolvimento e do chamado terceiro mundo. Invocando pretextos religiosos (fundamentalistas), impõem o terror sobre indivíduos incautos e de bem e, geralmente, desprovidos de meios de defesa. A ganância pelo poder, de referidas hordas armadas, leva-as ao extermínio fratricida em regiões com vazios de governança, bem assim a atos terroristas em países que se opõem a suas intentonas expansivas e assassinas, suscitando o medo e a insegurança em todos os continentes, mormente Eurásia, África, até América. Inolvidável a ofensiva contra as “torres gêmeas”, o onze de setembro de 2001 e os recentes ataques terroristas na Europa (França, Bélgica) e nações de África e Ásia. Isis, Al-Qaeda, Boko Haram, Taliban, Al-Shabaab, Hezbollah destacam-se como assassinos sanguinolentos de civis, incluindo minorias étnicas, mulheres, idosos e crianças. A ação desses bandos tem trazido o pandemônio às suas vítimas, ocasionando o esvaziamento demográfico das regiões atacadas, com a fuga desenfreada de residentes para a Europa (migrantes e refugiados), por meios de transporte exploradores e nem sempre adequados, do que resulta transformar o Mediterrâneo em verdadeiro cemitério hídrico.
Ademais de tudo isso, os valores éticos e religiosos vêm perdendo a supremacia na cultura ocidental (e na oriental), do que se aproveitam as quadrilhas de poder para, em satisfação de sua ganância por dinheiro e riquezas, praticar toda e qualquer espécie de falcatrua, assaltando os cofres públicos e reduzindo Estados à falência, tudo em detrimento dos cidadãos comuns, obrigados que são a arcar com as consequências de atitudes dessa natureza. A corrupção, hoje, se apresenta disseminada, sobretudo em países em desenvolvimento e de menor nível de progresso, operando como traça avassaladora da riqueza das nações.
Todavia, apesar de tanta barbárie, que possivelmente deixaria atônitos os vândalos invasores do Império Romano, a poesia sobrevive e se posiciona como instrumento poderoso de denúncia da truculência sofrida pelos oprimidos, ainda, como detectora e cantadora do que resta de bom e de belo na natureza e no coração das pessoas.

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http://www.demasilva.com/PINEDITOS/APESAR_DA_BARBARIE.html

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