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sábado, 2 de abril de 2016

Ter-te

 dema

                            Para Leonice, minha esposa.

Quisera eu jamais ter de ter alguém,
mas sem te ter, juro, não sou ninguém;
inda que o mundo inteiro fosse meu,
sem ti, por certo, eu não seria eu.

Não te reduz o ter-te a posse minha,
por óbvio, não também a propriedade;
ah, ter-te é completar-nos quais metades,
fazer de mim o rei, de ti rainha.

Ter-te, pra longe, expulsa a solidão,
jorra na noite o brilho das estrelas,
descobre atrás das nuvens o clarão
da lua receosa de perde-las;

é refletir no mar toda a beleza
que a luz do sol esconde enquanto dia
e, que ao cair da tarde, principia
a expor quão extasiante é a natureza.

Ter-te é, sim, navegar à toda vela
por mares nunca dantes conhecidos,
é não me preocupar com a procela,
enfrentar ventos fortes destemido.

Ter-te é me projetar rumo ao infinito,
descuidar se haverá outro amanhã,
então, tocar a vida sem conflitos,
nem me lembrar da morte no divã.

Quisera eu jamais ter de ter alguém,
mas sem te ter, juro, não sou ninguém.

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