dema
(Há algo estranho no
reino da minha máquina,
pois aqui fora sempre
um torrão de lástima.
Derrama incrivelmente
imensa alegria,
clareando a noite
como a luz do dia.)
As lágrimas molham-me o rosto,
quase nunca me sinto assim
alegre, muito bem disposto,
é a noite sorrindo pra mim.
Não vejo razão para o pranto,
motivo pra tamanho encanto,
porquê dessa endorfina extra
que vem mascarar minha sexta.
Talvez seja o caso de um brinde
ou grande comemoração.
Seria, quiçá, um acinte
da vida pro meu coração?
Mas, por outro lado, percebo:
jamais fora eu renegado;
Deus fez-me saudável mancebo,
ser triste é que foi meu pecado.
Na vida não sofri agruras,
tive amor, carinho, amizades,
se bem que poucas aventuras,
mas todas pra deixar saudades.
Afinal, eis que eu me questiono
por que não coser u’a permuta:
dar à tristeza um outro dono e
fazer da alegria mi’a luta?