DEMA
Outrora, nos cafundós do universo, entre tantas, uma voz dizia:
"Em mim mesmo sinto a vida.
Vejo nas coisas do mundo muita harmonia.
Embasbaco-me com o céu azul e,
olhando a vida,
vejo-a mesquinha.
Olho prá você... quanta beleza!
Vejo seu sorriso... quanta tristeza!
(Alegria da hipocrisia)
Bebo do cálice de angústia dos homens.
Na solidão, sorvo a melancolia.
Sinto o perfume das rosas.
Na flor? - Vejo a vida.
Na dor do irmão há esperança
de u'a mão, de alívio.
No ser, a pressa de ser, a insolidez do espaço.
Há no tempo a saudade.
Vejo saltar das mãos cansadas
a fome do pão merecido.
A náusea humana
aniquila o sentido da vida e quase invalida
o plano divino.
Olho a náusea e vejo ali a vida.
Olho a quase mãe e, a seguir, ouço o grito da criança:
não nasci!!!
Está ali a vida:
no quadro do artista sem sucesso,
na poesia que li,
no pastor que fala, fala só... só fala;
nas teorias pessimistas,
no canto à liberdade,
nos 'prazeres egoístas'.
Olho o mundo e vejo ali a vida.
Mundo de homens restos de homem... pobres homens!
Mundo pobre!!!
Uma borboleta voa 'daqui-prali'... que beleza!...
veja a vida!
O sol nasce sempre,
ou fez a noite quente,
ou faz a noite fria.
_ Paira, Espírito! Paira sobre as águas e guarda o AMOR, pérola na escuridão perdida!"
Houve uma vez, nos cafundós, um mundo e nele a vida. Outrora... nos cafundós do universo.