domingo, 26 de julho de 2015

Quero sentir a vida


dema

Quero:

- dilatar o tempo em meu pensamento,
- converter em hora a fração minuto,
- prolongar o dia até virar semana
  para eternizar cada bom momento;
- do descer do sol em busca do poente,
  seguir seu trajeto pelo firmamento;
- não dormir à noite se houver estrelas,
- confessar pra lua meu contentamento.

Sentir:

- o sabor do instante muito especial
  que conduz a vida a uma só folia;
- o bater contínuo de um coração
  que, frente àtristeza e na alegria,
  põe-se a vibrar à custa de emoção;
- no amor verdadeiro a oração profunda
  que transmuda em ato  a mera intenção.

A vida:
- regalo dos deuses, sem cupom de preço,
- isenta, então, de preclusão efêmera;
- destinada, enfim, para a eternidade
- sendo a morte apenas o seu recomeço.

demaisilva


sexta-feira, 24 de julho de 2015

Terra de ninguém

dema

      Às minorias vítimas de extermínio pela barbárie

Viver ou morrer,
há diferença?
Casa em escombros,
esposa estuprada,
sequestradas as filhas,
e o filho crucificado.

A quem matar?
Como morrer?

Se Deus existe, onde está?
Que chão é este?
E a gente que nos desbarata?

Por quê chorar, não há mais.
Secaram-se as lágrimas,
Aviva-se o ódio.

O pó das relíquias destruídas
alveja a terra do óleo negro,
que o sumo nosso insiste em fazê-la escarlate.
Vê-se a história saqueada.
Resta nada.

Onde o Ocidente?

Sobre a areia
umedecida ao borbulhante líquido das artérias,
órgãos esbugalhados lançam derradeiro olhar
sobre os próprios corpos acéfalos.

Alá, leva-me a outra esfera!
Mil vezes o pipocar da metralhadora!

Ergo os braços e corro
para estrangular a morte.
Vejo gotas vermelhas que espirram
e perseguem os projéteis que me vazam...
Cambaleio... camba... leio...
Não leio mais...

terça-feira, 21 de julho de 2015

Feitiço

dema

Ao me olhar, em ti penso,
parte de mim distante,
personagem do meu sonho,
torno-me inteiro, intenso,
figura de grilo falante,
nunca, porém, enfadonho.

Querendo-te, há muito, envelheço,
almas num só espaço,
além terra, horizonte, céu,
do paraíso, o começo,
atadas com ímpar laço,
ao fundo, estrelas por véu.

Não sei dizer se amor,
(o amor, o que será?)
ante unidade dos seres,
ausente qualquer temor,
ao certo, o eterno dirá:
fazem-se por merecer.

Antinômico tudo isso,
tal mecanismo perfeito
(jura-se ser teimosia)
carrega, contudo, um feitiço:
juntas, as peças, defeito,
separadas, harmonia.

em demasilva

segunda-feira, 20 de julho de 2015

XX ENESER – APARECIDA – SP – JULHO/2015





De 17 a 19 de julho/15, estivemos participando do XX Encontro Nacional de Ex-Seminaristas Redentoristas, em Aparecida/SP, no Antigo Seminário Santo Afonso. Como sói acontecer, foi um evento maravilhoso, quando nos confraternizamos com velhos e novos amigos e, em nossas orações, com o Cristo Redentor e a Virgem Aparecida. O encontro é uma promoção da UNESER, através de sua diretoria, a quem transmitimos nossos agradecimentos e parabenizamos pela excelente organização. "As mulheres na bíblica" - esta a temática da palestra acontecida no sábado (18). No mesmo dia, às 18:00, participamos de missa solene no Santuário de Aparecida, com transmissão pela TV Aparecida.



terça-feira, 7 de julho de 2015

Na corda bamba

dema

Quem anda na corda bamba
não brinca de forca ou ciranda,
xinga da boca pra fora,
e reza dela pra dentro.
Se cai na cacimba, chora.
Pra não verter fingimento
de ironia ou de sofrimento,
com fama de gente ruim,
a exclusão diz-lhe sim.
Se o poço não tiver fundo,
vaza ao outro lado do mundo.
Mas, o inferno, onde será?
Deus não ajuda chegar lá.
Cedo ou tarde, pouco importa,
irá bater à sua porta.
Na borda do precipício,
rabo preso não ata o que o tem,
possivelmente o juízo
varrido do lugar preciso,
que acorda, senão pro hospício,
em mandar para o além.
Mentira goebbeliana,
verdade em que se acredita,
nem se rodando a baiana,
libera o autor da desdita.
Então, muito pelo contrário,
vitima a sentenciada
na mente em que originária,
assim na de quem a imita.
A roda do mundo gira,
chega ao poder outra gente,
que, tangendo as cordas da lira,
começa a pensar diferente...



DEMASILVA

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Quando o momento espelha a eternidade


dema


Dilatado, envolvente,
o sentimento impregna o momento:
não se negue à tristeza seu glamour,
nem à alegria o fundo de tristeza que a sustenta.

Carente de ecoar-se,
a música suave clama pelo silêncio.
É ele quem fala mais alto ao espírito,
Deus também escuta e aquiesce.

Vibra o coração à lembrança boa,
aperta-o a perda iminente.

Embora a esconda, o amor sabe de sua fonte:
os olhos choram por te perder,
a razão recusa-se a dar aceite,
mas a alma implora para que fiques.


DEMAISILVA

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Efemeridade indigesta


dema

Indigesta ainda a efemeridade,
mesmo deglutindo-a sem qualquer dieta;
talvez seja o espírito a fazer alarde,
por temer-se extinto frente à morte certa.
Quem dera certeza se me adviesse,
em fala ao ouvido, do Ser Substrato,
de que sobrevida, à moda de benesse,
tem-se garantida para o etéreo nato.
Quiçá se esvaísse esse temor medonho
de aproximação do fatal momento,
quando vista a vida tal qual lindo sonho
ou somente um mero acontecimento;
um bater de alma para a liberdade
no emancipar-se para a eternidade;
porém, não sou mais de que apenas pó,
agregado, ora, espalhado, após.
Há milhões de coisas das quais nunca eu soube,
como de outras tantas jamais saberei;
que ao soprar, o vento, mui sagaz, me roube
o medo terrível a quem me entreguei.
Tão só me dou conta de que aqui estou;
bem sei, não demora para eu ter partido,
posto nem responda quem de fato sou
ou se acaso a vida me terá valido.



DEMAISILVA