dema
(Disposição aos que me prezam.)
Quando
eu morrer, basta-me um velório simples.
Que
chorem um pouco por minha partida,
depois,
sorriam: que alívio!
Não
me velem por muitas horas.
Como
eu, ninguém gosta de mau cheiro.
Estando
meu corpo estirado entre candelabros
(cuidem
para que ainda não o queimem!),
busquem-me
um buquê de rosas vermelhas,
viçosas
e perfumadas.
Mostrem-mo
e o entreguem à minha amada.
Ela
que as guarde tão só enquanto vivas,
após
o quê, há de deitá-las fora.
Essa
será minha homenagem póstuma
a
quem, nesta vida, terá me amado de verdade.
Nada
de desidratar alguma pétala e dela fazer relíquia.
O
que importa é a homenagem gravada na memória.
Findo
um prazo adequado,
conduzam
meu corpo ao crematório.
Assim,
estarão dispensados, por minha causa,
da
intolerável visita de finados
ou
mesmo insusceptíveis de algum remorso,
quando
impossível ou esquecida,
se
o esquife descer à cova.
Fora
com as cinzas!
De
preferência, espalhem-nas sobre as águas de um rio
ou
reservatório de alguma hidrelétrica.
Por
favor, não as utilizem como ingrediente
de
algum five o’clock tea.
Se
algum bem material lhes restar como herança,
sejam
comedidos na divisão.
Os
quinhões hão de lhes acrescer,
jamais
de os dividir.
Tenham
a fineza de conservar por alguns anos
(a
critério dos que as detiverem)
as
obras literárias que produzi.
Prescindível
sua leitura, ainda que esporádica,
sendo
suficiente que, vendo-as, lembrem-se
de
que já existi.
Não
se desesperem com esse fato fúnebre.
A
vez de cada um chegará.
Pressa
para tanto não se faz necessário.
Quando
se vive o ciclo natural,
a
morte chega devagar.
Morre-se
paulatinamente:
o
metabolismo lerda,
a
melanina exaure-se,
a
ossatura fragiliza-se e murcha,
os
cabelos somem,
as
vistas se enfraquecem,
fígado
e rins vão se cansando,
o
coração passa a bater ofegante,
os
pulmões definham,
as
juntas se enrijecem,
dissipa-se
a libido,
os
genitais rendem-se à lei da gravidade,
retraem-se
as gengivas,
dentes
amolecem e caem,
as
cadeiras “crocanteiam”,
colam-se
vértebras da lombar ou cervical,
a
pele enruga-se,
o
viço “desviça”,
evapora-se
a beleza,
a
esperança se desespera,
a
depressão derruba...
Gradatim,
tudo fenece.
De
então, para que a vida se esvaia por completo,
não
é preciso mais do que uma enfermidadezinha oportuna,
gripe,
tuberculose, pneumonia
ou,
quem sabe, uma queda brusca ao tropeço de um degrau.
Se
Deus existe, certamente me acolherá em espírito.
Se
não, continuem acreditando que Ele os está a amparar.
Segurem-se
na Sua mão.
A
todo modo, saibam que lhes desejo a paz
e
que também me deixem em paz.
Após
tudo isso,
fui...