quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Sedentas


dema

À tarde, perambulo no entorno ao jardim.
Transpirando em bicas, qual minas copiosas,
surpreendo cravos, violetas, jasmins
a morrerem de sede, mãos dadas co’as rosas.

Dói-me vê-las dobrando-se ao sol escaldante.
Peço a Deus pra irrigá-las a cada manhã.
Oro, genuflexo, defensor reclamante,
imputando ao orvalho um poder-talismã.

Sabem todos que as flores exalam perfume.
Dizem outros também que, não raro, elas falam,
mas, no momento, choram em alto volume;
bem verdade, ao me verem, por água me imploram.

Eis que, de repente, o céu veste-se de nuvens.
Bate um vento frio, vem a tudo empurrando.
Puxa pelos cabelos, sem pedir passagem,
uma chuva raivosa a seguir seu comando.

Derrama e derrama tanta água e granizo
que, ao final, mal se sabe sua serventia;
quanto às flores, por certo, há temor e alegria;
para muitos,  no entanto,  tão só prejuízo.

Se bem que restado algumas hastes quebradas,
brincam de roda flores jovens e meninas
e minh’alma, espiã, vê-se maravilhada,
pois viço de plantas é poema com rimas.