sábado, 25 de janeiro de 2020

Quando o amor se vai



dema

Quando o amor se vai, a vida também parte,
sem estrela-guia, ruma ausente aonde;
torre que balança, cai, e assim esconde
o que, erguida, tinha de beleza e arte.
Tem-se o norte relegado à própria sorte
ou, então, amontoado de escombros,
onde o amor busca esconder fadada morte
e dar vida à solidão, causando assombro.
Olhos antes, como estrelas, cintilando,
são, agora, de uma opaca transparência,
denunciam que a alma está murchando
e que a mente se aproxima da demência.
Cada dia traz aceno de um adeus,
melhor fora se houvesse um gesto só,
é o sofrer fortalecendo-se em parcelas,
aos pouquinhos, apertando mais o nó.
Escraviza, faz, dos dois, pobres judeus,
com certeza hão de vir graves sequelas.
Por mais lúgubre revele-se o ocaso
bem no fundo, resta um raio de esperança
de que ainda, mesmo com um certo atraso,
novo amor asile o velho na lembrança.





terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Delimitações sutis



dema

Sutil por demais delimitar os sentimentos:
até onde amor e depois ódio,
daqui rotina, dali indiferença,
de cá frustração, de lá desconsolo;
saber se ama, se odeia,
se amada, se odiada.
se venera, se detesta,
se ri ou se chora.
Oh tenuidade!
Palavras vazias vazam da boca,
camuflam o voz da alma.
Vida insossa que belisca, questiona, intriga.
Busca-se conhecer a intensidade do afeto,
a profundeza do desamor.
Que digam os deuses sábios
como distinguir o sentir real do dissimulado,
do travestido de avesso;
em que confiar sem decepção.
Atos, por vezes, são teatrais.
Quando sim e quando não?
Perde-se, não raro, em tais minudências,
que se avolumam e deprimem.
Vale a fé, corre-se o risco:
Verdade? Perfídia?
Afinal, o que é e o que não é?




sábado, 4 de janeiro de 2020

A graça de uma ventura



dema

Meu presente roubado pelo passado,
do futuro, resta o fado.
Presépio deserto,
cruzeiro pelado;
o seguro, Deus do lado.
Ninguém recosta em meu travesseiro,
sigo o giro noturno  inteiro.
Contra o amor, sou vacinado,
ultrapassa meu calado.
Sagrado na tristeza
e na solidão, com certeza.
Nada de mágoa ou de amargura,
levo a vida na mão segura
de Deus, enquanto de Seu agrado,
até porque viver me parece
gozar a dádiva de uma ventura.