segunda-feira, 4 de junho de 2018

A noite



dema


Desde pequenino, chamo a noite de irmã.
Ouve meus lamentos, suaviza minh’alma,
torna-me pronto para, em cada manhã,
peitar obstáculos sem perder a calma.

Se me maravilha o cintilar das estrelas,
cismo a perfeição da estrutura do universo.
Lembrar da morte traz o temor de perde-las
e se presta a romper co’a feitura do verso.

É ela quem incita a buscar aventura,
quem conduz para a festa ou, quiçá, ao prazer,
para bem longe expulsa qualquer amargura
e me dá o condão de poder esquecer.

Sabe dos meus segredos e os guarda seguros,
inda conta muitos dos vários que detém;
na verdade, confesso, para ela eu juro
jamais revelar algum deles para alguém.

Em seu coche me vejo a correr por galáxias,
tão veloz que atropelo os lerdos cometas;
vou longe, muito longe desta Via Láctea,
tocar, com os arcanjos, as suas trombetas.

Matuto, penso, repenso, acho interessante
como ela sempre responde os quesitos meus;
quanto mais eu me ponho do mundo distante,
mui mais perto me vejo do encontro dom Deus.

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