segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Infesto plasma

dema


Por que não ter sido eu diferente,
empolgado como tanta gente,
gosto por festa e farta folia,
a fazer da vida só alegria?

Mas fui plasmado com a tristeza
misturada a infrene solidão,
fato sem causa, enorme estranheza
sequer plausível explicação.

O que esclarece o tornar-me assim,
se a mão de Deus sempre esteve em mim?
Ou sou fruto do meu próprio meio,
desprovido de qualquer anseio?

Talvez more aqui minha fraqueza:
na não conquista dos ideais,
total entrega à própria incerteza,
não ter amado como os demais,
jamais sorrido pra vida boa,
não expurgado essa desventura
de solitude que a mim magoa,
nunca vivido  outras aventuras.

Sou veloz fuga do social,
crítico assaz do que for banal,
a indiferença cotidiana,
a rotina em nada puritana;
sou desprazer do que se aproxima,
o mau agouro da liberdade;
sou o desgosto que te alucina,
o vil desdém de tua vaidade;
sou o joio bravo  trançado ao trigo,
sou quase morto, se bem, inda vivo,
sou amálgama da torpe vida,
pétala murcha da sempre-viva;
sou tua gastura de cada dia,
a razão solo de tua porfia.




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