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quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Human(íde)o

dema


À sobrevivência urge esforço ingente,
desatolar de pútrida lama,
pisar, quem sabe, firme concreto,
depois, deitar em macia grama
e, então, liberto, sonhar, demente
voláteis cirrus no azul sem teto.


Caminho zopo rumo ao destino,
não tendo em mente o menor sucesso,
nada de pressa nem desatino,
jornada que não requer regresso,
qual andarilho pastor menino
de ovelhas mortas, sou peregrino.

Projéteis vazam-me sem licença
a decretarem minha sentença,
nenhum arrimo pra que eu abrace
ou laço alheio que aqui me enlace.

Céu cor de chumbo pesa-me aos ombros,
pecado-chumbo de ser humano
e assim chafurdo e assim eu me afundo
longe a esperança de um outro mundo.

Sou presa fácil do canibal,
quer seja irmão, seja pai, amigo,
imerso inteiro no lamaçal,
é qualquer deles meu inimigo.

Sou morte certa a blefar da vida,
também a vida a mofar da morte,
só tenho vida enquanto houver sorte
sei que o futuro é somente a morte.




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