domingo, 25 de outubro de 2015

Amor bumerangue

dema

Tantas vezes te foste, levando esperanças,
quantas estas brotadas de que voltarias.
Sonhos macabros, juras de eterna vingança,
mesmo estando acordado a fingir que dormia.
Ah, mil vezes te amei nos mil “quandos” partias,
dor sofrida de ausência das ternuras tuas,
reiteradas medidas do amor em fatias,
percebido tão forte em qualquer despedida.
Desérticos tempos a uma pobre alma nua,
suportados apenas por fé desmedida,
absoluta certeza de breve revinda
da donzela de branco, sempre, sempre linda.
Incontáveis se deram as volúpias, confesso,
no frenético expectar de cada regresso:

o abraço longo, o beijo  fremente,
as roupas rasgadas sobre o piso frio,
fora a ocasião, nunca assim macio;
corações aos saltos, almas canibais,
unindo-se em chamas de paixão demente.
Imagino, por fim, o medo que sentias,
de, no teu retorno, eu não te querer mais.
Sei, tinhas certeza, de que em certo dia,
deixaria, meu peito, de acolher teus ais.
Bem recordo o instante em que de mim tiraste
o cristal de cicuta que me tombaria.
De um único gole, total a sorveste
e, num baque surdo, te quedaste fria.
Diante do espelho, hoje ainda contemplo,
tua imagem morta nas minhas meninas.
Só após um tempo, fecham-se as cortinas,
as íris castanhas, que aplaudem o momento.


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