quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Vadiagem

                                                                             dema

Perambulo pela quadra na calçada e, sem cautelas,
Pisoteio os cacos verdes de garrafas da noitada
Que os gajos descuidados derrubaram das janelas,
Perfurando-me os solados nessa ação pouco pensada.


Dos pés sangram-me as plantas, como se desprotegidas,
Espelhando a consciência das donzelas medievas,
Que aos caprichos dos mancebos se entregavam ressabidas,
De joelhos confessando-se aos padrecos mais piegas,


(Porém, ávidos dos fatos da alcova dos gaiatos
Pra espalharem na aldeia mesmo à guisa de boatos,
Ou lograrem algum proveito, fazendo uso de chantagem,
Dos valetes poderosos bulinando a criadagem).


Que assim fosse eu quisera nessa era hodierna,
Mas é o Eros quem impera sobre a anaxiologia,
Vangloriando liberdade e mania ultramoderna,
Os estranhos se entregam em jornadas de orgia.


Certamente ora bocejam nas pranchetas de trabalho,
Gracejando entre colegas sobre quem foi mais canalha,
Navegando na internet à procura dos relatos,
Mal cumprindo seus deveres acordados em contrato.


Ou então já se organizam para a próxima parada
De consumo, de erotismo, de outra farra agitada,
E no dia imediato, ao fim do coito abusado,
Perguntar-se ela a ele: Qual seu nome, meu amado?


Cacos verdes pisoteados, cacos d’almas mui vazias.
Me questiono assoberbado: Até quando se vadia?
Vida é só boemia ou há esperança nesse quadro?
Pode alguém me responder ou somente eu estou errado?
...

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