(dema)
Meu quarto ladeia a rua.
Deitado de costas, quando posso, costumo olhar para fora e
seguir o movimento das nuvens no céu ou o pipocar das estrelas à noite.
Vespertina.
Súbito, instintivamente, ergo os olhos à janela. Ali, inesperada
e indesejavelmente, ela aparece. Alfanje negro e brilhante sobre os ombros,
manto escuro com ornamentos escarlates sobre a cabeça e descendo por sobre o
corpo.
Eis que, nas pontas dos pés, com a mão esquerda, desnuda a face, a entrever uns olhos negros e fundos mas
salientes no rosto cadavérico e num abafado e cavernoso assopro, como se
surpresa em me ver, exclama:
_ Ah, é aqui que você
mora!
Um calafrio percorre, da cabeça aos pés, meus pelos e
ossos, autorizando-me tão só balbuciar:
_ Hannnnnn!?
Estarrecido e mudo permaneço.
Depois de um tempo, não sei quanto, reabro os olhos. Ela se
foi. Até quando?
Em cinco anos, é a segunda vez que me visita.
Quanto me resta? Deus sabe.
Um dia a mais é festa.
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