quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Canarinho



dema

Eu já tive um canarinho
que vivia sem gaiola,
cantava do próprio ninho
ao som da minha viola.

Alegrava as manhãs,
voejava no jardim,
depois, num bater de asas,
vinha pra pousar em mim.

Certo dia aventurou-se
em visitas ao vizinho,
do que fez sua rotina,
sempre com retorno ao ninho

Todavia, de uma feita,
sem sequer dizer-me adeus,
bateu asas para o mundo,
talvez pra juntar-se aos seus.

Eu fiquei aqui sozinho,
carregado de saudade,
enquanto meu canarinho
se esbaldava em liberdade.

Quis tirá-lo da lembrança
pra reduzir minha dor,
mas não se perde a esperança,
quando se trata de amor.



Carpe vitam!




dema

A tempestade me alerta
lançar fora meus receios,
que a vida segue em oferta,
sem redutores, sem freios.

Um convite a pisar fundo,
a viver grande aventura,
a esquecer-me d’outro mundo,
peitar este com bravura.

Ademais, será verdade
que um’outra vida haverá,
se quem partiu, cedo ou tarde,
não regressou pra contar?

O dia passa depressa,
não há como segurá-lo,
como a noite que se apressa
pra findar sem intervalo.

Gozar a vida é um dom,
condão que nem todos têm;
há quem motive algo bom
valer menos que um vintém.

Enquanto a chuva serena,
vou revendo meu projeto,
pra que esta vida pequena
seja um programa completo.