segunda-feira, 27 de maio de 2019

Atração e repulsa



dema

Elétrons em giro ao núcleo,
satélites aos planetas,
planetas aos sóis,
sóis em orbitais galácticos.
Gulosos de matéria e luz,
buracos negros engolem galáxias
para, ao depois, hibernarem no escuro Universo.
Talvez regurgitem ou reproduzam novos big bangs.
Atração e repulsa, as donas do pedaço físico e metafísico.
Uma aproxima, junta, une,
donde empatia, amizade, amor;
outra empurra, espalha, expande;
deflagrada ou detonada, mata.
Se a ninguém mais atrais,
se nada ou ninguém te atrai,
se és pura inércia,
clama o fim, que tua hora é certa.
Cava a cova,
deita e espera!


terça-feira, 21 de maio de 2019

Anverso e reverso



dema

Em essência,
um contrassenso:
(Que fazer? _ Paciência!
Sinto e penso.)

Sou sólido e líquido,
matéria e espírito;
carne e osso,
canela e pescoço;
um tubo em dobras
de entrada e sobras.

Amo e odeio,
sou belo e feio;
inteiro e metade,
modéstia, vaidade;
sou espúrio e puro
no claro e no escuro.

Nasci, vou morrer,
sou efemeridade,
porém, quero viver
para a eternidade;
não sei donde vim
nem para onde vou,
mas sei que do fim
só Deus escapou.

Sou coragem e medo,
transparência, segredo,
anjo e diabo,
um bicho sem rabo;
loquaz e mudo,
todo ouvidos e surdo.

Sou frágil e forte,
com azar e sorte;
feliz e infeliz,
sou réu e juiz.

Escravo e dono,
tenho insônia e sono;
sou querer e instinto,
sou verdade, mas minto.
Sou tudo e sou pouco,
prudente e louco.

Eis que assim sendo,
não sei até quando,
chorando ou blefando,
sigo vivendo.




sexta-feira, 17 de maio de 2019

Digital divina


dema

Leva-me a outros rincões, a névoa fria,
onde mal chega o sol, senão boreal.
Um raio dourado? Quão bom seria!
Rasgar a bruma e eu me ver real,
erradicar-me do moroso tempo
que me prende, hiberna e consome.

Longe se vai o moço de ver
a silhueta esbelta e se apaixonar.
Grita seu nome, mas a cerração
consome o grito, tudo é tão perto,
mais que finito.

Entorpecida, peleja, a mente,
buscar alegria, inda que esmaecida,
virtuais memórias e novos rumos.
Avizinha-se, todavia, a noite de cintilares opacos,
que o espaço denso sequer descortina.
Donde o farol a clarear visão
do Universo vivo que nos conduz?

No tempo, esperto e lento,
linha sutil ao longo se estira,
traço digital que ampara a vida
do começo ao fim, divino.
Exsurge, então, ufano e grande
e sobrepõe-se à névoa etérea
das galáxias em rodopios,
prova viva de existência e comando,
Deus.
Curvo-me: amém.


http://www.demasilva.com.br/PINEDITOS/DIGITAL_DIVINA.html