quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Vadiagem

                                                                             dema

Perambulo pela quadra na calçada e, sem cautelas,
Pisoteio os cacos verdes de garrafas da noitada
Que os gajos descuidados derrubaram das janelas,
Perfurando-me os solados nessa ação pouco pensada.


Dos pés sangram-me as plantas, como se desprotegidas,
Espelhando a consciência das donzelas medievas,
Que aos caprichos dos mancebos se entregavam ressabidas,
De joelhos confessando-se aos padrecos mais piegas,


(Porém, ávidos dos fatos da alcova dos gaiatos
Pra espalharem na aldeia mesmo à guisa de boatos,
Ou lograrem algum proveito, fazendo uso de chantagem,
Dos valetes poderosos bulinando a criadagem).


Que assim fosse eu quisera nessa era hodierna,
Mas é o Eros quem impera sobre a anaxiologia,
Vangloriando liberdade e mania ultramoderna,
Os estranhos se entregam em jornadas de orgia.


Certamente ora bocejam nas pranchetas de trabalho,
Gracejando entre colegas sobre quem foi mais canalha,
Navegando na internet à procura dos relatos,
Mal cumprindo seus deveres acordados em contrato.


Ou então já se organizam para a próxima parada
De consumo, de erotismo, de outra farra agitada,
E no dia imediato, ao fim do coito abusado,
Perguntar-se ela a ele: Qual seu nome, meu amado?


Cacos verdes pisoteados, cacos d’almas mui vazias.
Me questiono assoberbado: Até quando se vadia?
Vida é só boemia ou há esperança nesse quadro?
Pode alguém me responder ou somente eu estou errado?
...

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Afonso Cavalcanti - o poligraduado

Recebi e-mail de Jandaia noticiando-me sua 4ª graduação no Ensino Superior, agora em História. Não bastassem as outras, é Mestre, Doutor e "n" vezes pós-graduado. Sua colação ocorreu em 10/09/11, tendo sido o oradador da turma, ocasião em que proferiu o discurso a seguir.

Parabéns, Senhor Mestre e Doutor.

Eis sua fala:

CULTURA, SOCIALIZAÇÃO E MODIFICABILIDADE: FORMATURA EM HISTÓRIA  *Afonso de Sousa Cavalcanti  - afonsoc3@hotmail.com

Primeiramente a saudação a todos os convidados e que estarão compondo a mesa de formatura....Estimada Professora Ana Tereza Fraga, nossa ilustre tutora, orientadora e amiga...Queridos formandos em História pela UNIASSELVI... 
Nossa permanência no Curso de História nos proporcionou mudanças profundas em nossos seres. Aqui chegamos na condição de acadêmicos para galgar pouco a pouco os degraus dos saberes e atingir a meta de detentores do Diploma de graduação em História. O MEC informa que menos de 12% dos brasileiros conseguem atingir a possibilidade de conclusão de um curso superior. Hoje estamos ultrapassando esta barreira.A socialização deste curso nos submeteu a um processo através do qual, ao longo de três anos,  aprendemos e interiorizamos os elementos socioculturais oferecidos por intermédio da base da matriz curricular do Curso de História, sob a administração da UNIASSELVI e com a ajuda impar da Professora Ana Tereza Fraga. Os meios a que fomos submetidos, via conteúdos e estratégias de ensino do EAD, nos proporcionaram modificações profundas na estrutura de nossa personalidade. Antes éramos simples acadêmicos, hoje somos graduados em História, dotados de direitos e obrigações para ensinar. Fomos influenciados por experiências e agentes sociais significativos e nos adaptamos ao ambiente social qualificado por conhecimentos da historiografia.
Este processo foi alcançado por nós na organização do Curso de História através de três classes significativas de objetivos. Nesta grande organização chamada UNIASSELVI e sob o comando da nossa competente tutora, Professora Ana Tereza Fraga, modificamos nossas fragilidades individuais e buscamos alguns objetivos, tais como: aprender a aprender, gostar de conhecer, conviver em grupo e agora ser graduados para garantir o direito de sermos professores.
A análise sociológica nos leva a entender que, nesta organização chamada Curso de História, os indivíduos procuram pelo poder, pelo status, por ascensão na escala hierárquica. Os objetivos podem ser vistos quando executamos as tarefas interessantes (participamos das aulas, fizemos discussões em grupo, realizamos as avaliações diversas e caminhamos para o desenvolvimento e sucesso profissionais). Para tanto, os três objetivos ou variáveis sociais são vistos e explicados nos termos TECNOLOGIA, PRECEITOS E SENTIMENTOS. Por Tecnologia, entende-se o saber fazer, como fazer, como adquirir a teoria e a prática necessárias para executar com perfeição as tarefas almejadas, tais como: ser professor e também pesquisador. Por Preceitos, conferem-se as leis, as normas, as regras, os regulamentos, os mandamentos, todo e qualquer ordenamento que recai sobre o sujeito agente, orientando-o, no sentido correto, para que o executor de tarefas alcance êxito pleno. Os Sentimentos compreendem o fechamento dos objetivos, Se houver o alcance pleno da tecnologia, acompanhado da concepção correta dos preceitos, dificilmente os sentimentos poderão falhar. Por sentimentos positivos, pode-se afirmar filosoficamente que estes se fundamentam no bom uso das três faculdades individuais: a racionalidade, a sensibilidade e a intuição.
Durante estes anos de frequência no Curso de História vivemos os três momentos da dialética: o positivo, o negativo e a unidade. O positivo sempre esteve demonstrando os bons resultados, como o direito de ingresso no curso (via vestibular ou através de comprovação de documentos que conferiam participação anterior em curso superior), como a permanência com resultados satisfatório nas obtenções de notas e de frequência satisfatórias e mais, nas boas possibilidades de poder pagar as mensalidades. O negativo nos rondou em todo o tempo, nas condições que nos causaram alguns sofrimentos, cansaços e desgastes. Estes podem ser vistos nos sacrifícios das viagens de nossas casas até o local do curso, nas economias feitas para honrar com as obrigações financeiras da Uniasselvi, nos medos de ter que enfrentar notas baixas e até mesmo ter que fazer novamente as disciplinas. A unidade apresenta o positivo e o negativo ao mesmo tempo. Como positivo do momento da unidade fica o gosto, o prazer e a satisfação de obter um diploma de licenciado em História e de ora em diante conquistar uma vaga de professor no Ensino Fundamental e Médio e ainda abrir novas portas para a pós-graduação. Como negativo da unidade, podemos perceber que, de ora em diante, seremos responsabilizados pela condição de poder ensinar, de poder abrir as mentes de nossos aprendizes para que sejam sujeitos críticos do sistema e o mais grave deste negativo é o de saber que o professor não é um profissional valorizado como deveria ser.
Querida Professora Ana e queridos colegas de turma, Ivaiporã, o Paraná e o Brasil nos acolhem porque conseguimos vencer. Os brasileiros e principalmente os paranaenses poderão contar conosco, pois agora somos mais em tecnologia, em preceitos e sentimentos. Nós amamos o Brasil. Viva a História! Sejamos felizes!
Muito obrigado!
Afonso de Sousa Cavalcanti.

domingo, 11 de setembro de 2011

No quente verão...

                                         dema

Estende-se a noite
A prolongar o dia.
A janela aberta,
Um calor de açoite.
Alhures, o sono deambula
E a mente, desperta,
A seu turno, qual vadia,
Pelo tempo fugidia,
Em lembranças e temores
Perambula.


Prazeres e mazelas brotam virtuais,
Perpassados todos sem cronologia,
Vão ditando a ordem, como em rituais,
Forjados na premência de sua ousadia.


Que será de Tânia? E de Manoela?
Onde a Betânia, onde a Gabriela?
Quem lhe diz de Vânia, sua Cinderela?
E de Edivânia, a linda prima dela?


Ainda menino e as estripulias
De brincar de pique, de morder as tias,
De brigar na escola, de coçar ferida,
Passar merthiolate, hum! que dor doida;


E depois da escola, de vazar pra roça,
De correr da vaca por causa da cria,
Dar-lhe uma pedrada, entrar na palhoça,
Morrendo de medo, pois se o chifre enfia...


Quando adolescente, perdido em si mesmo,
Mas buscando a esmo profissão decente,
Pinta Mariana, ah! Deus, que princesa!
Porém, vagabunda, só tinha beleza.


Que calor terrível, oh! Senhor da brisa,
Por que não dormir, sonhar com a Monalisa?
Eis que se aproximam novos devaneios
Ocupando a mente com outros passeios.


E se não bastantes, surgem os temores
Com filhos crescidos e com os seus amores,
Se há grana pras contas e para um projeto,
Pensar o amanhã, mas embaixo a um teto...


Assim segue a noite,
A emendar com o dia,
Cabeça pesada,
A cama vazia,
Um banho gelado,
O amargo café,
Uma Ave Maria,
O pé na estrada
E em Deus muita fé.


Amém!

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A MISERICÓRDIA DE DEUS E O HOMEM PECADOR

Afonso de Sousa Cavalcanti – Ex-seminarista redentorista: 1969-1974

Ao admitir que os seres humanos, antes do processo civilizatório, experimentaram os sofrimentos do estado de natureza e viveram por séculos mergulhados em guerras e conflitos, onde suas vidas eram “curtas, sórdidas e embrutecidas” (HOBBES, 1983), CERTIFICA-SE QUE:
a) milhares de instituições organizaram saberes com o intuito de regimentar os direitos naturais em direitos civis, evitando os conflitos sociais de todas as naturezas;
b) após o entendimento e a sensibilidade de pesquisadores engajados nas ciências humanas e sociais, novos métodos comportamentalistas foram criados, de forma a facilitar a compreensão e aceitação da moral provisória instituída pela nova sociedade civil;
c) com a existência do Estado e com as definições de suas formas de soberania, em muitas nações, houve lugar especial para o culto religioso. E, com a excelência da religiosidade, pode-se dizer que o Cristianismo trouxe à luz um novo tempo, veio com ele a chave de ouro bíblica: “Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vos a eles. Esta é a Lei e os Profetas” (Mt 7,12);
d) com a Pedagogia Cristológica, a Igreja Católica colocou em prática os sacramentos instituídos por Jesus Cristo. Com grande eficácia, os participantes ativos se aproximam da graça divina. O confessando, num gesto de pura humildade, esvazia o peso de sua consciência moral, narrando em voz alta os erros por ele cometidos. O confessor, ordenado pela bondade infinita de Deus, usa da misericórdia do Senhor e perdoa os pecados;
e) a misericórdia divina é grandiosa e redentora para perdoar e salvar todos aqueles que erraram por pensamentos, palavras e obras maledicentes.
Aprendemos com os bons confessores e neste texto quero prestar uma fervorosa homenagem ao padre Hélio Libardi, CSSR, que com sabedoria nos ensinou que: o cristão que vive em bom estado de oração, comunhão, esmola e outras asceses religiosas, este dificilmente cai em pecado grave. Neste caso, quando precisar buscar um sacerdote para se confessar, pode dizer a ele que veio “solicitar a renovação do perdão de seus pecados”, pois no período em que está vivendo, após a última confissão, este tem convicção de consciência que não se afastou da comunhão com a sua Igreja. Afastar-se da comunhão com a Igreja é pecar. O pecado consiste em matar, explorar, excluir, diminuir, afastar o outro de seus direitos individuais e coletivos. Para este padre, DEUS NOS QUER SEMPRE BEM NA MEDIDA EM QUE O BUSCAMOS.
A excelência da vivência cristã, não importa o lugar, o tempo e a idade, é um processo de transformação que a pessoa experimenta gradativamente e que a conduz para o lugar da conversão. Para Santo Agostino, o amor habita somente naquilo que existe. Para ele, ninguém poderá existir sem amar. Amar implica em buscar o objeto do amor e, para isto, é preciso verificar que amar implica em escolher, logo a escolha que o ser humano faz é querer muito bem a existência. O ser humano para ser feliz precisa que ame o mundo e a sua existência. Quem ama a existência quer ter uma vida longa e este tempo, esta longevidade, exige que a pessoa procure a conversão. Converter-se implica em uma mudança total de vida. Aquele que se converte, muda os modos de vestir-se, de falar, de agir, passando por três estágios fundamentais: a busca incessante de conhecimentos; a criação e desenvolvimentos de hábitos bons; a tomada de atitudes. Se as mudanças existem na vida daquele que se converte, isto não é por acaso, pois Deus providencia tudo para que as mudanças ocorram. O amor é o ponto central ao qual o homem se dirige para garantir a sua própria existência. Se assim não o fosse, viveríamos imersos na solidão e no egoísmo e, conseqüentemente, assistiríamos o fim da epopéia humana sobre a terra, pois as pessoas não se uniriam às outras, garantindo, desse modo, por exemplo, a procriação e a sobrevivência da própria espécie. Entre o amor e o ser existe uma reciprocidade. O amor é envolvido e abrangido pelo ser. Se isto acontece conosco que somos seres mortais, imagina o quanto é grandioso o amor de Deus para conosco, pois ele é o puro amor e misericórdia.
ABBAGNANO, Nicola. Santo Agostinho. In: História da Filosofia. Trad. Antônio Borges Coelho. Vol. II. Lisboa: Editorial Presença, 1969. pp. 197-225.

AGOSTINHO, Santo. Confissões. Trad. J. Oliveira Santos e Ambrósio de Pina. São Paulo: Abril, 1973. [Os Pensadores].

HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

sábado, 3 de setembro de 2011

CENÁRIO

                                                                                                                                          dema
Na cozinha anexa ao banho
E vice-versa,
Arquibancada à esquerda, pra deleite do que especta,
Tento enroscar torneira à luva do tubo hidráulico
Em terminal de pia, mas o cano não seguia...
Então a ducha no chuveiro do quartinho já sem porta...
Mas onde? Cadê o duto, a luz, nem porta. Importa?


Qual Sidarta em ioga sobre o piso frio, a filha sorridente,
Pagando pena pelo craque d’antes,
Jorra em bicas sangue flúido de feridas “cem”,
Cujas cascas arrancara pro cruento sacrifício.
De repente se levanta e ascende à arquibancada
Pegando bonde com o amigo do irmão.
Este a sorrir inconseqüente.


Completa o quadro a ex-namorada,
Também sobre o piso frio esparramada,
Inda bela, meiga, mal contente,
À cena ausente.
De mim nada quisera, homoafetiva se revela.
Pior não fosse, pedófila donzela, atarracando ao peito
A neta da vizinha.
Também de pronto se levanta,
Escala a arquibancada arrastando a inocente.
Quando assentada, desnuda-se como àquela,
E põe-se a afagá-la no regaço em longo passe.


Na pia, nada de torneira. Todo mundo sorria.
Onde a porta do banheiro, o chuveiro, a luz
...o travesseiro?
             ...


A
Cord
Ei...