terça-feira, 26 de maio de 2015

Onde flutuava a flor de lótus

dema

Posseidon na terra newar?
Aqui não há mar.
Quer a flor de lótus viçosa do lago?
Cadê lago, se Manjushri, à espada, o drenara?
Nem flor, pois que então já pousada.
Raivoso, sacode as placas tectônicas.
Que se curvem ante si
os altos picos himalayas!
Sidartha, Senhor, por que não vigiaste?
Dormias acaso no Boudanath?
Vishnu, Garuda, Shiva,
poderosa deusa Kali,
onde estáveis todos, que não nos socorrestes?
Enquanto os cultuávamos em Durbar,
Hanuman, Taleju, Jaganath, Changu Narayan,
mui perto de nós,  estupefatos,
a terra gemeu
e a vimos tremer.
Tão só os escombros dos templos e casas
sobre nossos ombros.
Consumiu-nos o pó.
Vivos, inda somos muitos.
Contudo, não há o que comer,
o que beber, o  que curar.
Não tendes dó?
A lágrima pelos mortos sepultos
não carrega beleza.
Que da gente, etnias múltiplas?
Que da gente, subjugada sempre?
Onde enterrar os milhares de corpos?
Donde a grande Katmandu,
demais cidades e vilas?
Valha-nos, amigo do exótico,
admirador do excêntrico!
A fé, entretanto, nos alimenta o dharma.
Ressurgiremos.
Hare Krishna, hare!!!



terça-feira, 19 de maio de 2015

Mesoamericano

dema

Rebento da terra yucateca
brotada do fundo do mar,
com o reino ao lado do asteca,
nos planos rincões intramar.

Devoto de Kukulcán,
no solstício e no equinócio,
do Castillo de Yucatán,
vejo-a descer ao Cenote.

Reverencio Itzamná,
e a deusa lua, Itzchel,
zimbro das nuvens, do céu,
frescor de cada manhã.

Vendo o firmamento, aprendi
um jeito de medir o tempo;
e escrevo inclusive nas pedras
de todo e qualquer monumento.

Conheço muito a matemática,
tanto quanto a arquitetura,
como astrônomo, tenho prática,
sou amante, sim, da cultura.

Meus trajes se fazem de prata
e rajas compridas de ouro,
contudo, as semillas intactas
de cacau, o maior tesouro.

Açulo o jaguar, bom parceiro,
pra, junto co’águia, comer,
sem dó, o coração, por inteiro,
de quem condenado a morrer.

Uso sempre o elmo dourado
estando em lutas de conquista;
o império restou alargado
seu termo só do sol se avista.

Um dia, porém, divisei,
gigantescas naves no “atraque”,
com homens e armas de El Rey,
irrompendo com enorme alarde.

Não se foram tão bem de início,
inda assim, dizimaram a gente,
se não com guerreiros de ofício,
por vírus daqui diferentes.

Meu povo morrera de gripe,
como doutras doenças mais;
sem anticorpos, não existe
combate a moléstias fatais.

Queimaram, completo, o acervo
cultural de meus ancestrais.
Hoje, inconformado, me atrevo
a julgá-los como animais.

Quem remanesce, forte, canta
os feitos de nosso passado
e estas ruinas que encantam
e lembram feliz Eldorado.

Sou guerreiro um tanto valente,
sou fidalgo e simples humano,
primor de arquiteto e manente,
sou maya,  também mexicano.

Mesclado, por pouco, latino,
em suma, mesoamericano.