sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Sou natureza



dema

É verão.
Mergulho nas ondas de piso branco
e emerjo para o sol,
para o azul do céu abraçado ao azul das águas,
para ser beijado pela brisa leve
que areja a manhã radiante.
Sou menino brotado das profundezas,
com gosto de vida e de paz;
o momento que se deseja,
a esperança de que a luz não se apague,
de que o prazer se eternize,
de que as gaivotas persistam em seu revoar.
Sou a felicidade almejada,
blindada das dores, dos dissabores,
das querelas humanas.
Sou natureza de luar prescindível.
Não tenho idade,
sou eterno em pasmar.
Um barco passa ao longe,
Chama-me à realidade.
Recuso-me ao aceite.
Que depressa se vá!
Queima-me a face, nem o sinto.
Estou para o sol, a brisa e o mar.


segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Passar



dema

Dá-nos boas vindas, a brisa da tarde,
soprada fresca do mar azul-turquesa,
alento de vida com gosto de alarde,
a insculpir, nos olhos sedentos de beleza,
imagens vivas da natureza.
O tempo urge, célere corre e morde
o calcanhar do ontem.
Quando menos se espera, agora é depois.
A manhã desfaz a noite com a luz do sol
que, mal chegado, zarpa rumo ao poente.
Nem se contam as horas, vão-se os dias,
passam-se os meses e, logo, os anos.
Vai-se a infância, a mocidade, voam os sonhos.
O passar engole desejos e esperanças
de rostos encovados que a labuta cansa.
Avança em reta, sem qualquer recuo,
quando em vez abrandado por uma lembrança.
O tempo passa e a vida se esvai.