dema
Ter-se-lhe-á sido herdada tristeza
constante.
Também recebeu por herança
eterna esperança
da morte,
o olhar vesgo na vida (como jamais se viu
antes),
o ter de vivê-la obrigado,
já que presente
da sorte.
Não lhe pareceu fosse a vida divina dádiva.
Mui cedo desejou a morte
por consolação.
Melhor, quem sabe, lhe fosse
nem lhe verter lágrima,
dispensável à sua alma
qualquer oração.
Um dado da natureza,
assim se enxergava.
Não escolhera nascer
nem era dono da vida,
então, para que viver?
Por que por ela responder?
E se contristava.
Mal alcançara quarenta, se achara imortal.
Existir fazia-lhe mal.
_ Amar ou ser amado?
_ Certamente não.
(Impossível é amar
quem não tem coração.)
Descuido da natureza,
esse ser existiu.
Jamais conheceu beleza,
passou pela vida,
mas não viveu.
Se apareceu por acaso,
também por acaso,
desapareceu.
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