quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

ÁGUAS A DESTEMPO


 
dema
 
Outubro prometeu chuvas,
mas novembro foi seco,
natal sem chuvisco.
Muito se fala em risco
de apagão, não de corisco.
 
Ah, mas a encosta clamou por descambar
e a água abundante janeirou morro abaixo
e terra e muro e casa e gente,
como todo ano, toda enchente.
 
Houve troca de inquilinos na Prefeitura,
levaram o cofre.
Ruas, buraco e mato (graças que o carnaval já vem).
Funcionário sem abono de natal
(sempre os patos pagam o pato).
Mato de chuva não dá carrapato,
o da seca morreu chamuscado.
 
E a pátria amada, coitada,
que descalabro!
O deputado cassado viu-se empossado.
Quem renunciou pra não ser cassado
foi reeleito e aclamado presidente do Senado.
Ali Babá nem soube que seus quarenta
foram condenados (nenhum engaiolado).
 
Às vezes me acanho
de viver neste reino estranho,
que empresta Real pro FMI,
faz Copa, faz Copa,
faz fila no hospital do SUS,
congestionamento de macas nos corredores;
faz bolsa, faz bolsa, faz bolsa,
faz massa (não de obra, de manobra),
bolsão de votos,
faz bolso grande em cueca,
faz olimpíada,
faz piada, não, é uma piada;
com tráfego intenso e
hiper intenso tráfico.
Sinto-me quase seguro
preso em casa.
A justiça tarda, mas não falha,
sempre tarda.
Inda bem que o voto é obrigatório,
por que se não fosse, quem escolheria os quarenta?
Brasileiro tão bonzinho! Aguenta!!!
 
Outras vezes, de novo me acanho,
falta-me o ar neste reino estranho,
onde pra se viver bem,
há de se fingir enganado,
ver a novela das oito
que começa às nove.
Ô, que bom que agora chove.
 
Sonhar é preciso:
que a chuva canta ,
que a água, se não rola, derrama.
Se derrama, corre e, cantarolando,
cai no bueiro,
marulha sem mar, como a pomba arrulha,
e me dá sono.
A ele me abandono,
Sou é mineiro, uai.
 

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