segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Conjecturas

dema

Que haverá por detrás desse azul de céu e mar?
Diz-me coisas o marulhar das ondas que vêm aqui bater.
Espumam,elas, a cerveja que o germano ingere
e a braveza dos homens-bombas que escondem suas mulheres.
O verde-orla soma-se ao céu e mar no horizonte,
concretando a espera humana de fundir-se ao infinito.

Em socorro aos gritos das crianças nuas, famintas,
pululando no continente que mutila,
anjos vigilantes transitam pelas nuvens.
Conduzem-nas ao céu e as depositam num cantinho fofo.
Dão-lhes de comer e as põem a dormir.

Quando em vez, um iate de risos e mulheres despidas corta as águas,
tocando o céu sobre as ondas, qual nave de celestiais orgias.

Hoje não há camelô, não há boia-fria.
Algumas aves circulam contra e a favor da brisa que dobra as palmeiras.

No meu cismar, imagino as bilhões de mensagens ascendendo
aos satélites e descendo além-mar,
tais as que de lá nos chegam sem cansaço algum.
Penso as incontáveis relações que interagem os viventes,
se Deus tudo vê.
E de lá dessa terra, desse mar, desse céu, quem está?
Alguém nos aguarda ou quer nos alcançar?
Para além do sol que nos dá o colorido, quem a nos ver?

A galera uiva e aplaude o gol que estufa as redes.
Lá fora o flanelinha finge que vigia o carro em troca do jantar.

Os homens de colarinho álveo tramam a falcatrua pra dobrar o povo, 
defendem interesses, penduram-se no poder.

As prostitutas perdem a vez para as meninas de família.
De sobreviver nem o corpo lhes é mais garantia.
O jeito é aventurar-se aos biscates cotidianos.

Jovens-adolescentes se abatem pelas bocas de fumo de seus donos, 
enquanto os adictos fazem de seus lares esperanças vazias.

Porquanto Netuno se agita, Zeus dorme.

Dezenas de ministérios consomem o tesouro abarrotado de tributos,
cujas migalhas chovidas na periferia garantem os votos futuros.

Lá vou eu de novo me perdendo em conjecturas,
embrenhando-me nesse terra-mar-e-céu à caça de sentido.
Quando me dou conta, já estou no infinito.

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