sábado, 25 de junho de 2016

Tapete negro


dema

Corre veloz sob meus pés, tapete negro.
Num instante, o horizonte distante
me atropela
e à descida do morro
abre-se outra janela;
não peço socorro,
a mim é o que cabe,
por graça divina,
cumprir minha sina.
De ambos os lados, em disparada,
vão passando nuvens, manadas.
Apodera-se de mim a imagem dela,
quadro raro em viva aquarela:
pousada em meu peito,
pra gosto perfeito,
serena, adormece,
terna e bela.
Carga pesada,
ora aclive da estrada,
devagar, meu senhor,
­_ vê se aguentas, motor!
De repente, porém
para meu grande espanto,
e até me alevanto,
alguém quebra a ventana,
arma em punho,
é real, não rascunho:
_ olha lá, Camarada,
que não te aventures!
Fora da pista, me encontro
em tronco de cedro amarrado,
“cruz credo!”,
veio a coronhada.
Eis senão quando,
luz forte na vista.
Virgem, estou noutra pista!
Oh, Mãe Aparecida,
que trapalhada!
Cochilei, navalhada!
Santa bendita,
em meu peito tua imagem se agita.
A parada ali à frente,
breve repouso,
que ainda não é pouso,
um café bem quente
e eu no trecho de novo.

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