dema
Os arranha-céus emergem da copa das árvores
na quinta dos mortos.
Um vento de outono frio assopra meu rosto,
desarruma meus cabelos.
Recostado ao tronco de árvore que sombreia
uma quadra de tumbas,
aguardo o cortejo liderado pelo carro fúnebre.
Que bom se, ainda vivo, saísse nele a passear!
A diversidade de flores, ao largo, diz-me o tamanho do
universo
de saudades brotadas dos túmulos frios.
Meu pai está mais ao longe,
cerca de cinquenta metros do último cipreste da quadra I.
Não lamento mais.
O sol é forte e induz-me a agradecer à frondosa e
acolhedora árvore, cuja sombra fresca me abriga.
De repente, lá vem o carro chique.
Segue-o imensa fila de conduções menores.
Entrevejo abrir-se o ataúde
e ver correrem lágrimas sentidas na face do filho absorto.
Então, o fato.
Uma a uma, traduzem lembranças boas, afagos, abraços.
Deus seja louvado, mesmo que doravante sinta-se órfão,
desamparado.
Em seguida, com ele choro, ao ver cerrar, por última vez,
a tampa da caixa mortuária.
Essa, a despedida, o sentimento da perda que amarrota a
alma.
Amanhã será outro dia.
Descobrirá que ela se fora, mas nunca morrerá.
Sobrepor-se-á a presença forte, a saudade viva.
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