quinta-feira, 6 de agosto de 2009

ACRUZ E A BOA VONTADE

(confronto entre religião e filosofia)
Afonso de Sousa Cavalcanti

Os cristãos confirmam que a morte de cruz não é uma tragédia, mas sim uma vitória, isto se falamos da morte de Jesus. Tal morte não aconteceu por acaso, nem porque ele cometeu um crime hediondo. Esta forma de morrer estava investida em um grande mistério: a garantia da Ressureição e, sobretudo, da Salvação. O grande mistério da cruz indica que nenhum homem consegue salvar-se sozinho. É preciso a participação do Filho de Deus e a intercessão do Espírito Santo, o Paráclito, o advogado.
Jesus destacava sua identidade aos que o seguiam. Para que eles o identificassem verdadeiramente, ele repetia o que há muito tempo fora anunciado pelos profetas que "o Filho do Homem devia sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, devia ser morto e ressuscitar ao terceiro dia"(Lc. 9,22). A identidade messiânica está na humilhação dos homens e mais precisamente no modo como os homens de seu tempo determinaram de que modo Jesus haveria de morrer. A morte de cruz era tão certa para ele, de tal forma que ele tinha admiração e indicava a cruz para quem quisesse ser feliz. É ele quem diz: "Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me" (Lc. 9,23). A cruz é a verdadeira identidade do cristão. Tal identidade está em exercitar seu ser em perfeita harmonia consigo, com os outros e com todas as criaturas do mundo. Para Jesus, a cruz é a razão de ser cristão. Carregar a cruz é de fato uma tomada de decisão, é assumir compromissos de amar sem medida, de dedicar-se à causa do próximo.
Se a religião cristã tem na cruz a esperaça, a filosofia tem na razão a condição plena para solucionar os problemas vitais.
É na filosofia que encontramos uma verdadeira lição sobre a boa vontade. O homem toma decisões a partir da organização de seu entendimento e de sua sensibilidade. A boa vontade é a primeira exigência para que o sujeito possa ser considerado autônomo. A autonomia do sujeito está na máxima que é o princípio subjetivo da ação.
A autonomia está no valor absoluto que é a pessoa humana. A pessoa tem mais valor na medida em que revela seu interior e pode livremente expressar suas intenções, sua boa vontade. Quem experimenta a filosofia de Kant diz que a ação humana é formulada no imperativo categórico. A razão impera sobre o sujeito constantemente e dita a ele: "Age sempre de tal modo que a máxima de tua ação possa ser elevada, por sua vontade, à categoria de lei de universal observância" (NALINI, 1999). Agir conforme o dever, é cumprir a lei moral que tem sua validade no princípio objetivo, de acordo com a expressão da lei. O sujeito kantiano tem sua máxima fundamentada na "capacidade de autodeterminação normativa e implica o abandono de um dos atributos da personalidade em sentido ético (NALINI, 1999). O sujeito não depende dos objetos para se definir, mas sim de sua autoconsciência.
O confronto entre a cruz e a máxima impetrada pela boa vontade de Kant tem seu fundamento na sensibilidade e no entendimento. Trata-se do sujeito ideal, daquele que sabe tomar decisões livremente.
Depois que passei a gostar da filosofia, confesso que me aproximei mais da Cruz e de Jesus. Tenho falado isto aos acadêmicos.
Referências:
A BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Edições Paulinas, 1985.
CAVALCANTI, Afonso de Sousa. Procura e Discernimento (Religião e Filosofia). Mandaguari: Arte Final, Gráfica e Editora, 2005.
NALINI, José Renato. Ética Geral e Profissional. 2 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999.
MAYBEZM Eduardo Garcia. Ética - Ética empírica. Ética de bens. Ética formal. Ética valorativa. 18 ed. México: Porrua, 1970.

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