domingo, 26 de julho de 2009

A VIRTUDE NATURAL DE ENVELHECER

Colaboração- Joao Cavalcanti. Campo Largo, 26 de Maio de 2009
(org. Afonso de Sousa Cavalcanti)

A VIRTUDE NATURAL DE ENVELHECER

O envelhecimento é inerente a todo ser vivo, que um dia nasceu, cresceu,passou por suas fases naturais, reproduziu ou não, esgotou suas energias corporais e um dia deve morrer.
Dizia minha falecida mãe Albertina que para morrer e necessário estar vivo e bem vivo!
Na sua simplicidade de vida, ela afirmava uma coisa muito natural e foi vivendo de modo muito simples e natural que teve 14 filhos, abortando 3, criando 11, sendo que 4 morreram ainda crianças com menos de 4 anos, vítima de malaria e males da terra.
Dos que sobreviveram, uma se foi aos 42 anos vitima de um AVC agudo.
Os seis sobreviventes a mais velha tem 71 anos e a mais nova 54, que passamos naturalmente pela infância, adolescência, idade adulta e os quatro mais velhos já são idosos pela lei brasileira. Quantos anos vão viver ninguém sabe. Se algum bater o Recorde, até hoje do Guines Book, chegará a 131 anos. É possível, mas será difícil!
Essa pequena história de uma família, é a mesma que poderia ter acontecido com qualquer uma outra de forma mais natural. A Psicologia afirma que a ONTOGENIA REPETE A FILOGENIA, isto vale dizer que cada ser humano que nasce, vai imitar todos os gestos e passos de seus ancestrais ou aprender com eles ou com outros. Isto acontece desde quando apareceu o HOMO SAPIENS. Assim nos primeiros tempos vivemos deitados, depois caminhamos engatinhando e usando os quatro membros, depois nos colocamos de pé e, com o tempo, começamos a curvar nosso corpo, sinal que nossas reservas energéticas estão se esvaindo e o fim se aproxima ou não.
Na sociedade capitalista como a nossa e na maior parte do globo, a supervalorização do novo e o culto ao belo são essenciais, assim sendo o velho se torna descartável em muitos casos. Para evitar isto, só sendo um OSCAR NIEMAYER, que ficou famoso e é famoso com mais de 101 anos.
O VICENTINO, participando das conferências, dos conselhos particulares, dos conselhos centrais, conselhos metropolitanos, conselho nacional ou conselho internacional, direta ou indiretamente, estará sempre ligado ao tema ENVELHECER. Seu campo de atuação será sempre a promoção humana, não importa a idade que se encontre o pobre individualmente ou a família do pobre.
Mundialmente falando, a maior atuação das conferências vicentinas, está ligada diretamente ao velho abandonado, excluído da sociedade onde viveu, foi proprietário, autoridade, participou de decisões importantes, foi jovem, adulto, respeitado, teve posses, foi tratado como gente, tudo isto em épocas que era igual à maioria, era forte e gozava esplendidamente de suas faculdades mentais, tinha energia física, era amigo de muitos, produzia e se igualava à maioria dos viventes humanos.
Velho, alquebrado, doente, muitas vezes com doenças degenerativas e letais, se torna um objeto DESCARTÁVEL, algo que atrapalha, já não caminha, não consegue nem se alimentar com as próprias mãos, não enxerga, não ouve, não consegue criticar, não participa de decisão nenhuma e em muitas situações é tremendamente explorado, as vezes pelos próprios ditos FAMILIARES, que se apossam dos seus bens adquiridos ao longo da vida ou de um simples cartão de aposentadoria que lhe provém o mínimo do sustento com referência à alimentação, remédios e vestuário.
E assim nos perguntamos onde fica a expressão ENVELHECER COM DIGNIDADE? Esse resto de gente, tem reservado seus direitos, graças às leis como por exemplo o ESTATUTO DO IDOSO. O estatuto existe, os que devem fazer o cumprimento do mesmo estão lá nos seus gabinetes, ganham para isso e são bem pagos. É amargo saber que o RESPEITO ao documento em grande escala não é cumprido mesmo dentro de instituições asilares, chamados atualmente de internamentos de longa permanência, que ainda continuam com nome de LAR DOS VELHINHOS, ASILO DE VELHOS SÃO FULANO DE TAL etc.
Para findar esta reflexão, coloco-me diante do espelho e observo a mim mesmo, percebo-me já envelhecido. Procuro olhar por dentro de mim mesmo, de minha vida pregressa e analiso o que até hoje já fiz em favor daquele que envelheceu. Por muitas vezes estive com os universitários e continuo dialogando com eles. Percebo que estou com dívidas com a velhice brasileira. Quem bom a gente poder falar para um jovem que não reconhece os méritos daquele que envelheceu de forma saudável. Para este jovem que na cara dura me diz: “Você está velho, está um caco!”. Para este eu tenho o prazer de dizer: estou velho, mas estou vivo!

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