dema
Chiado em surdina, permanente e sibilante, faz eco ao profundo silêncio que me fere.
Percebo o sussurro do ar que entra e sai por
minhas narinas.
Pano de fundo, melancólico pedido de
misericórdia. Vai a Deus, de alguém que há muito partira.
Ausculto o mistério da senhora em seu quase
um século. Ninguém a atende.
Um farfalhar de alma yazidi, vazada de um corpo com cabeça decepada à cimitarra,
perpassa a negritude do momento, a espargir, daquela, os últimos gemidos.
Anjos passeiam na escuridão e de mim se
aproximam sem barulho.
Com olhares luzidios e penetrantes, inquirem-me
por que me calo ante a injustiça dos homens. Buscam saber se fora em vão a
morte de cruz.
Depois, partem batendo asas em inaudível movimento.
O sombrio encobre a visão terrena da vida e
de um deus.
Impera a ambição antropofágica dos
semelhantes na luta pelo poder.
O grito dos oprimidos não se ouve nessa
ensurdecedora letargia, só o marasmo de uma podre existência à espreita do
divino. De fato, a humana desistência.
Vasculho, por dentro, as paredes da psique à
procura de fresta por onde fugir da mesmice. Ao meu lado, angelical, ressona minha
amada.
Tão perto, nem de longe sonha por onde viaja
meu pensamento ou quão intensas as agruras que sofro na calada noturna.
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