sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Abandono

DEMA

Encontra-se habilitado
Para mensurar a dor
Quem já foi abandonado
Pelo seu querido amor.

Pior, quiçá, do que a morte
É o vazio do abandono,
Ver fugir da vida o norte,
Esvair-se à noite o sono.

A morte consigo traz
Implícita aceitação,
Pois o que descansa em paz
Não volta de arribação.

Por mais, na morte, a ausência
De quem partiu se abrace,
Lembrança o chama à presença
Para eternizar o enlace.

Morte amor próprio não fere,
Tira o que a gente prefere.
Lembrança restante é saudade
Dos momentos de felicidade
Todavia, bem mais sentida
Há de ser a perda em vida.

Perda por abandono
É distância pretendida,
É a presença que morde
E que aumenta a ferida.
O que na memória sobra
Não se presta pra saudade,
É o gosto da infelicidade.

Coração apertado,
Mundo caído,

Alma partida,
Bem-querer dividido.

Grave desespero súbito,
Grito estridente e pranto.
Eis que a vida se aniquila
E só Deus sabe até quando.

Sentimento universal,
Com todo mundo é igual.
Nalgum instante fatídico,
Em que se desvela o verídico,
Amor e ódio se embatem,
Sem pena, em luta, se abatem.

Não se disputa o direito
À vida com o Ser Perfeito.
Talvez, por isso, oh! Senhor,
Perder em vida um amor
Torna o desgosto mais forte
Do que se advindo da morte.

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