quinta-feira, 9 de abril de 2015

Cansei-me


dema


Cansei-me de ser
a epopeia de Camões,
a garota de Vinicius,
a pedra de Drummond.

Recuso-me navio negreiro,
como me renego fingimento de Pessoa,
a canção desesperada de Neruda
e a lírica voz de Cecília.

Cansei-me de ser luar,
estrelas,
azul
e mar.
Cansei-me de ser amar.

Dispenso dar razão
a erguer de taças,
repudio-me alimento das traças.

Longe de mim ser
o mármore orvalhado
a cobrir a tumba fria.

Já ninguém me abraça,
ninguém me acaricia.
Cansei-me de ser poesia.

demasilva

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