dema
Tocou-me a campainha o vizinho,
que há milênios, bem me lembro, não o via.
Humorada fui fazer-lhe cortesia,
longo papo e uma taça do bom vinho.
Mas que aparência estranha, meu amigo,
o que em remotas eras foi comigo,
crateras se espalharam por tua face,
por que não maquiá-la pra disfarce?
Ao te ver, penso na moça-menina
que, em se olhando no espelho, lacrimeja:
onde a pele limpa, de veludo e fina,
que ao beijo da mamãe vira cereja?
É que tanta espinha me instiga,
ou quem te arrancou cravos profundos;
foram marcianos ou ETs de outros mundos,
que te fizeram feio por intriga?
Qual “porquê” desse vermelho carregado?
Ah, sou curiosa, companheiro
Por acaso teu PT andou zangado
ou te tornaste um comunista por inteiro?
Talvez haja um Marx marciano,
ou um Satanás que, por engano,
te tenha visitado e aí fincadoeterna moradia pro pecado.
Se bem não me pareças comunista
e nem tenhas cara de malvado,
apenas a feição tão esquisita,
mas sempre mui amigo, longe e ao lado.
De repente não sou boa anfitriã,
desse jeito esculhambado te inquirindo,se meu manto azul-celeste vai cobrindo
malvadeza toda própria de vilã.Perdoa-me o faltar com a gentileza,
pois que com galhofas eu te trato;
certo é termos a mesma natureza
e pra findar o papo me retrato.
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