sábado, 12 de dezembro de 2009

Dois anos sem meu pai.


Dema


Hoje faz dois anos que o Senhor levou meu pai, aos oitenta e três anos, após dezessete dias de internação em UTI.

Sebastião Inácio da Silva, assim era seu nome. Caçula entre quinze irmãos, de dois casamentos de seu pai. Um homem simples, que muito mal escrevia e pouco mais que soletrava. Mesmo assim, leu a Bíblia por inteiro e diversas vezes.

Papai era um homem de temperamento forte, nervoso e, ao revés,  extremamente afetivo. Jamais usou de violência, sabia controlar-se e chorava em qualquer despedida, até quando assistia suas novelas.

À sua moda, muito amou minha mãe e para nós, seus quatro filhos, nunca mediu qualquer esforço.

Papai me via como seu ponto de apoio, se bem que, em verdade, ele era minha fortaleza. Muitos dos princípios que norteiam meu agir advêm dele. Ensinou-me, fazendo o mesmo a meus irmãos, a ser honesto, a praticar a justiça, a humildade, a não acomodação, o respeito aos outros, o temor a Deus e a agradecer-LHE pela vida, pela saúde, pela inteligência...

Papai, por toda a vida, trabalhou a terra, não própria, mas em arrendamento. Tirou dela, com a força de seus magros braços e o suor do seu rosto, o sustento para sua família até que cada filho adquirisse autonomia.

Seu sonho de riqueza consistia em um dia poder ter uns poucos alqueires de terra fértil, para plantar no que fosse seu e, num pequeno pasto, ver algumas vacas leiteiras que iria adquirir. Quando isso poderia ter sido alcançado, já não tinha idade apropriada e ânimo suficiente para tal empreitada.

Uma das virtudes que nele eu mais admirava era o seu senso de justiça. Se tivesse estudado Filosofia, provavelmente se encantaria com KANT, tal era a presteza com que cumpria suas obrigações. Era um excelente pagador, mas também não admitia ser lesado dolosamente.

Papai amava sua família e gostava de se ver rodeado dos filhos. Adorava, com os poucos amigos arrebanhados, usar seu tempo de lazer num joguinho de truco, tanto que baralhos não lhe faltavam, nunca, entretanto, com apostas.

Seu nome não será dado a praça, rua, avenida, viaduto ou qualquer obra pública, porque jamais esteve em evidência.
Para mim, contudo, sua marca se acha inserta no meu próprio modo de ser e muito na minha maneira de agir.

De uma coisa tenho certeza: está junto de Deus.

Se eu tivesse que escolher o seu epitáfio, escreveria:

“Aqui estão os restos mortais de um homem justo”.

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