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Eis que se me apresentam duas questões que,
por interligação, subsomem-se reciprocamente, equivalendo-se a apenas uma:
- a matéria se autotransforma na eternidade
ou consiste na própria eternidade em mutação?
Encontro-me, ao que se me afigura, diante de
suas realidades ou, mais propriamente, duas entidades:
- a matéria, enquanto concreta, objeto dos
sentidos, com características múltiplas e próprias, tais como densidade,
volume, peso e que, sob ótica micro ou macrocósmica, está em contínuo
movimento/transformação;
- e a eternidade, como entidade abstrata, concebível
(quase tão só) quando vinculada ao elemento temporal, para mensuração da
contínua transformação da matéria, isto é, o cronos, ou desta distanciando-se pela essência conceitual da ausência
de princípio e fim.
A realidade concreta, sujeita ao permanente vir-a-ser,
terá tido um começo? Brotou num determinado momento da eternidade ou, com esta,
coexiste desde sempre (se é que se pode falar em “desde”)? Na hipótese de ambas
coexistirem ab semper, facultar-se-ia
entender que não se distinguem, consistindo exclusivamente em características
diferenciadas do mesmo “ser”.
Por óbvio, não se coloca em reflexão aspecto
religioso, sob pena de se imaginar (crer) Deus como eternidade incriada,
substrato de toda existência, logo, criador da mutante matéria a partir do nada
(sendo possível dizer-se “do nada”), dado o absurdo do admitir-se um ser autoexistente
sem começo, mesmo porque característica imprescindível da perfeição; doutra
feita, ter-se-ia que aceitar o absurdo da matéria eterna em contínuo processo
de transformação, o que equivaleria a um panteísmo.
Absurda qualquer das concepções, o fato é que
a realidade material é concreta, sensível ao ser racional. A (minha) mente não
consegue distinguir entre os absurdos que correspondem à eternidade dessas
entidades, aqui o limite da (minha) razão.
Não serão, outrossim, argumentos científicos
que permitirão compreender o absurdo da eternidade, seja enquanto entidade
abstrata, seja enquanto matéria com ela se confundindo, em transformação
permanente.
Então, perco-me em conjecturas. Alguém
responde?