DEMA
De que adianta a tinta, a pena?
Querer descrever o mundo,
a vida,
se me falta o tema?
Pudera fosse livre minha poesia,
como as aves, sem ruas ou becos,
voando ao léu da brisa,
ora subindo, ora planando,
às vezes indo, outras voltando!
Pudesse a chuva molhar a mente
e surgirem brotos de imaginação!
Mas a mosca que me atormenta
sequer permite
que eu ouça o grito do amor ferido
ou os acordes de um violão.
Foi-se. Gratias agamus!
Agora é a chuva
cantando triste, baixinho, lá fora,
molhando a mágoa que me resta na solidão.
Esta chuva mansa,
quando eu ainda criança
ninava meu adormecer,
fere, agora, disfarçada,
a doce lembrança
da infância,
da molecada.
Só mesmo Deus prá controlar o mundo,
entender a fundo o que acontece.
A uns é triste quando anoitece,
a outros, se raia o dia:
se chove, há barro, mas esperança
do fruto verde na plantação.
Se o sol é quente, o homem súa
mas se há nuvem, tapa a lua,
quando à noite,
na praça escura,
os dois se arriscam ao primeiro beijo
e se alguém vê, logo insinua ...
saiba Deus o quê!
Quem pensa muito
descrê no mundo,
assusta os homens,
lembra da vida e logo percebe:
ela continua!!!
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