HOMENAGEM AOS JUBILARES
No dia 02 de agosto a Vera, o Renato e eu fomos convidados pelo Pe. Magalhães a participar, junto com familiares dele, da comemoração de 55 anos de sacerdócio. Estivemos presentes, representando a UNESER, na concelebração eucarística das 18 horas na Basílica, presidida por D. José Luiz Sales, Bispo Redentorista de Fortaleza, contando com a presença do Pe. José Lasso, que foi Superior Geral da Congregação.
Dentre os padres jubilares estavam: Víctor Rodrigues (70 anos de sacerdócio), João Carvalho e Arlindo Santiago (60 anos), Nazaré Magalhães, Hilton Furlani e Francisco Peixoto (55 anos), Antonio Silva e Camilo Carvalho (50 anos), Rudolf Croon e Moacir Castilho (40 anos), Inácio Medeiros, Sebastião Marques, Ferdinando Mancílio e Vicente André (25 anos).
Em seguida, participamos de uma jantar festivo no convento do Santuário Nacional, onde pude rever muitos colegas e professores. Tirei várias fotos do evento que estão publicadas neste blog e no do Staliano (http://uneserinterativa.blogspot.com/)
Na tarde de anteontem (29 de agosto) estive no Seminário Santo Afonso para, em nome da UNESER, cumprimentar o Pe. Magalhães pelo seu aniversário (84 anos), quando entreguei a ele discos contendo o vídeo e as fotos do jubileu.
Ao Pe. Magalhães e aos padres jubilares todo nosso carinho por esta data tão especial! Parabéns e nossas orações!
"NUNCA É TARDE" é um blog que divulga ideias e produções que podem incrementar sua bagagem cultural. Traz textos profissionais, religiosos, literários, filosóficos, dentre outros.
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segunda-feira, 31 de agosto de 2009
HOMENAGEM AOS JUBILARES
sábado, 29 de agosto de 2009
Renascer
em que o mundo é nada e o inferno os outros.
Ao redor, grita e ensurdece a agitação,
mas não há nada,
só o espaço bloqueado no eu.
Aí geme agonizante a vida,
o coração soluça,
revolta-se a mente,
o nada existe, por dentro e por fora;
o relógio dorme,
os ponteiros param;
é cada segundo um dia,
cada minuto um século.
É preciso então:
- olhar longe, muito longe, para além do nada
e fixar no tudo uma centelha;
ver nela o espetáculo findo e
a imagem do porvir;
- fazer força para crer na luz;
- sentir entreabrir-se o peito e,
gota
a
gota,
renascer a vida,
que, em seguida, aos borbotões,
estilhaça a angústia,
rompendo o ser num grito de vitória.
E eis que ela se lança em corrida louca,
saltando abismos do universo,
desesperado náufrago que se agarra no rastro de espuma
ao ver fugir
o barco da ESPERANÇA.
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
CONGONHAS
Quando fui para o Seminário, Juvenato, de Congonhas, alguns meses depois, tivemos uma aula de matemática - versava sobre regra de três. Para demonstrá-la na prática, fomos para a frente do Santuário do Senhor do Bom Jesus, para medirmos as alturas das palmeiras lá existentes – quando o Padre Professor nos disse que iríamos medir a altura das palmeiras, não acreditei. Medimos o comprimento da sombra de um metro. Medimos o comprimento da sombra da palmeira. Descobrimos então as duas medidas das sombras, mais o metro, e com essas três medidas montávamos uma regra de três: o resultado era a altura da palmeira. Achei interessantíssimo!
Nessa ocasião conheci as sessenta e quatro imagens dos Passos, em cedro, pintadas pelo Athayde, e os doze Profetas, em pedra sabão - todas as peças esculpidas pelo Aleijadinho. Vários colegas riscavam seus nomes nos pedestais das estátuas de pedra sabão – nunca o fiz, embora na época dava-se pouca importância para a arte barroca. Dois ou três anos depois, demoliram o antigo convento para construir o atual situado atrás do Santuário, conservando somente a admirável entrada esculpida em pedra sabão – hoje isso não aconteceria. Ainda bem que, logo a seguir, começaram os estudos pra valer das imensas e maravilhosas obras do Aleijadinho.
Infelizmente as estátuas de pedra sabão continuam no tempo e suas intempéries. Nos países adiantados, as obras de arte, que ficariam ao relento, são guardadas e colocadas réplicas em seu lugar de origem. Outro dia fui a Congonhas e vi os Profetas. Decepcionei-me, lembrando-me de quando admirei a obra prima do Aleijadinho pela primeira vez. Até o Profeta Daniel, a mais espetacular escultura do Aleijadinho, sofre as conseqüências da burrice congonhense, ou governamental, em não querer proteger obra tão importante, não só para nós brasileiros – é um patrimônio da humanidade.
Na década de 60 o MAM do Rio desejava levar as estátuas dos Passos para uma exposição. O povo de Congonhas se uniu e proibiu que as retirassem. Foram substituídas por obras do maior artista uruguaio e dos maiores das Américas. Com a responsabilidade característica de nossos dirigentes, o MAM pegou fogo e o povo uruguaio perdeu seu tesouro e a humanidade um de seus patrimônios – colocaram a culpa no Abreu...
Mais uma vez o povo de Congonhas se una para proteger o seu – o nosso! - patrimônio!... E que o Senhor Bom Jesus nos proteja de nossos dirigentes... e nos abençoe!
069 – Tinteiro
No Seminário, quando entrei, eu menino, em mil novecentos e antigamente, usava-se caneta de tinteiro. Hoje em dia, além das canetas esferográficas, os meninos escrevem mais a lápis, ou usam a lapiseira.
Em cada carteira, individual, havia um tinteiro. Quando a tinta acabava, um colega enchia-o – normalmente ele executava essa tarefa antes de a gente chegar à sala de estudos. Nas salas de aula também havia tinteiro para cada aluno. A gente menino, ao escrever, apertava muito a pena estragando-a constantemente – era só pedir outra que o padre arrumava.
As canetas de luxo eram as Parkers: a prateada, a P21, e a de ouro, a P51. Acho até que havia a P71, a de ouro com diamante nas pontas – duas – da pena ou algum incrustado em seu corpo. Com uns doze anos, achei uma P21, pouco antes de ir para o Seminário –sucesso entre os colegas.
A cor normal da tinta era o azul, mas havia também as tintas coloridas, sendo o vermelho e o preto as cores mais comuns. Com o tipo de pena normal, de aço, nas aulas de caligrafia, eu consegui escrever letras tão pequenas, que até o Padre Marcos Gabiroba, que nunca me topou, admirou-se.
070 – Esferográficas e meias de nylon
Em Congonhas, em meados de setembro, anualmente, o Jubileu do Senhor Bom Jesus de Matosinhos – dura uma semana, normalmente de 07 a 15.
Durante essa festa, montam-se barraquinhas nas principais ruas da cidade, principalmente a que leva ao Santuário. Vende-se de tudo. Bugigangas são as preferidas dos peregrinos - um verdadeiro paraguai.
Todos os anos os padres, no final do Jubileu, presenteavam-nos, os seminaristas, com um cruzeiro. Tínhamos algumas horas para percorrer as barraquinhas e comprar algo. Naquele ano o presente dobrou para dois cruzeiros. Éramos divididos em duas turmas para sairmos à rua. Eu, muito gripado, não me foi permitido sair. Ao chegar a primeira turma, os colegas traziam algumas novidades, como a caneta esferográfica e a meia de nylon – usávamos canetas tinteiro e meias de algodão.
Pedi a um colega para que comprasse para mim canetas esferográficas azul - a que comprou - vermelha e preta, para eu desenhar. A turma que me rodeava zombou de mim chamando-me de bobo:
- Cê num viu que dessas aí só inventaram canetas azuis?
- Se não achar, compre-me uma dessas meias novas que a gente lava e seca logo!
Só no ano seguinte consegui as canetas coloridas... e as meias de nylon idem!
Benedito Franco
sábado, 22 de agosto de 2009
Pico do Itabirito
Naquele dia de São Marcos, 25 de abril, uma surpresa: um passeio ao Pico do Itabirito - 1.586 metros de altitude e a 20 km da cidade de Itabirito, MG. Adorado pelos povos primitivos da região, pela pompa tornou-se o Monte Sagrado. Inspirava a presença de deuses, fazendo a idolatria de indígenas que se reuniam em torno da enorme pedra, constituída de pura hematita (Do Gr. haîma = sangue + Do Tupi ita = pedra) Pedra de Sangue. O Pico é tombado pelo Patrimônio Natural Estadual, mas, para visitá-lo, é necessário autorização da MBR. Apesar do tombamento, está sendo desmontado por essa mineradora, nem sempre com espírito de conservação da natureza ou espírito nacionalista - e os itabiritenses deixam!... Vai acontecer o que aconteceu com os itabiritanos: perderam o Pico Cauê - a Vale do Rio Doce o desmontou!
Um dia os itabiritenses só verão o Pico do Itabirito nas antigas fotografias, no brasão da cidade ou em sua bandeira! Acordem!
Quando quiserem ver horrendos crimes ambientais, passem pela estrada de Mariana a Catas Altas, ou de Congonhas a Belo Vale – nossa imprensa se cala! A Vale deixa as serras e vales valendo nada!... e ainda se diz cada vez mais verde e amarela!
A viagem
Estudávamos num colégio interno, dos Padres Redentoristas, em Congonhas.
As mochilas preparadas e os caminhões, com tábuas atravessadas nas carrocerias, serviam de bancos, esperando-nos. Os chauffeurs, o Sô Geraldo e o Barbosa, bons profissionais, apesar dos caminhões de marcha seca e dura e da estrada de terra, cascalhada com pedra de minério de ferro. Não havia ônibus.
Entramos na antiga estrada de terra vermelha, rumo ao Pires, e daí seguimos pela BR 040, com promessa de ser asfaltada em breve. O Viaduto das Almas pronto - à época, uma das Sete Maravilhas do mundo, pelo menos para nós - conhecíamos apenas pontes de madeira. Mais ou menos na hoje entrada para Moeda, seguimos à direita até o pé do Pico do Itabirito.
Viagem agradável, apesar dos trancos e solavancos dos caminhões - ou trancos e barrancos, como dizíamos - estávamos acostumados. Cantávamos em coro e conseguíamos até cantar músicas executadas pelo nosso coro, a duas, três ou mesmo a quatro vozes – “Luar do sertão”, “Va, pensiero...”, “Tantum ergo” e outras muitas. Coro ótimo - fui organista durante algum tempo, chegando a regê-lo e à pequena banda de música do colégio.
Nunca fui um grande músico - um músico razoável que gostava de experimentar todos os instrumentos da bandinha - a furiosa! - e adorava o órgão - nem era órgão e, sim, um harmônio - mas, era chamado de organista. O harmônio é um pequeno órgão, cujo fole é tocado com os próprios pés do organista - os órgãos de hoje são eletrônicos.
Chegando ao monte, gigante de minério de ferro, despontando num planalto, talvez da altura do Pão de Açúcar, montávamos acampamento a seus pés. É lindo contemplá-lo de perto, debaixo de suas barbas - dá mesmo a sensação de sua grandeza e da grandeza de Quem o fez.
Os colegas cozinheiros permaneciam no sopé para preparar a comida - iam prontos: o arroz, o feijão, tomate inteiro, picado na hora, farofa e carne em forma de almôndega. Levávamos os talheres, pratos e canecas de alumínio - ainda não existiam os de plástico.
Cada um tinha seu cantil com água.
Fôlego!
Começava a subida, pela parte traseira, em fila indiana, e o chefe à frente.
Sempre apressado e afoito para essas coisas, procurava ir à frente, inclusive conversando com o chefe - assim chamado o colega mais velho que puxava a fila - mais experiente e, assim, andando, observando e tomando conhecimento de coisas novas. Normalmente, é bom aproveitar a oportunidade e descobrir que mais e mais todos nós temos coisas a aprender.
Cada vez mais íngreme o caminho, despontando um horizonte de cinema. Num certo trecho, a trilha bifurcava. O chefe por uma, alguns poucos colegas e eu por outra. Resultado: saímos bem à frente do chefe e seus seguidores. Jovens e afoitos, com a satisfação de estarmos à frente de todos, resolvemos apressar os passos, morro a cima - para não nos perdermos era só olhar para o alto e seguirmos; aliás, não tinha como se perder, só subir e subir, chegava-se ao cimo do monte.
Encimando o Pico do Itabirito, duas pontas, cá de baixo parecem pequenas - são morros altos. Num raio de 50 km, ou mais, vê-se puro minério de ferro. Passando pela BR 040, Rio-Brasília, observam-se as pontas e o minério da região.
Chegando ao alto, antes de todos, parti para uma das pontas, a maior das duas. Uma vista maravilhosa, dando a impressão de perceber até a curvatura da terra. Em baixo, a fila indiana, com mais de 150 colegas e, no final, talvez ainda no meio do caminho, o Padre Diretor - Padre Marcos Gabiroba.
Dei um assobio; não sou muito bom nisso, mas saiu às mil maravilhas. Com o eco da serra, o Padre Diretor escutou - pude perceber, olhou para o alto.
Apesar de longe, alguém deve ter falado para ele que era eu. Determinou, ordem imperativa mesmo, e o pessoal foi gritando morro a cima:
- Benedito, fique de joelhos aí, com os braços abertos, até que eu chegue!
Gente, como meus joelhos doeram!...
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
COMO A NOITE
Ei-lo:
Se vejo os ponteiros do relógio correndo, sei que estou vivo e caminhando para a morte. Embora não perceba que diferença ocorre na noite quando o ponteiro grande pisa o 12, tenho consciência de que um dia findou e, tendo sido a tarde chuvosa, perdi mais uma oportunidade de ver o sol se pôr no horizonte antes que se ponha sobre a minha tumba.
sábado, 15 de agosto de 2009
Assombração
004 - Assombração
Pelos quinze anos, passava férias na Casa de Campo...
Casa de Campo, onde os internos passávamos as férias, quando estudávamos em um internato em Congonhas, MG - Juvenato São Clemente Maria, dos Padres Redentoristas.
Estudávamos de oito a nove horas por dia. Três semanas de férias em maio e em setembro. De meados de dezembro ao final de janeiro, também íamos para a Casa de Campo, aos pés da Serra de Ouro Branco - caminhávamos a pé, umas três léguas, distância calculada pelos colegas da roça. Não passávamos férias nas casas de nossos pais. Arrumávamos as trouxas - iam de caminhão - colocando as roupas necessárias para todas as férias – roupas diárias iam semanalmente.
Havia dois campos de futebol, dois de vôlei e duas piscinas. Instalações simples e a comida ótima e farta. Um salão que servia de refeitório e sala de recreio e uma capela onde assistíamos à missa diariamente. Nunca fui bom nadador, mas aproveitava, e muito, os outros esportes.
Passeios
Nessas ocasiões passeávamos subindo a Serra de Ouro Branco, acampando durante o dia. Lá em cima, além da maravilhosa paisagem e vista quase a perder de vista, chapadões, onde imperam – imperavam! - as canelas de ema, e um córrego, assim como uma linda e perigosa cachoeira na parte de trás.
Nos terrenos da Casa de Campo passava um ribeirão, cuja nascente é exatamente a do córrego de cima da serra. Esse córrego, um pouco antes da Casa de Campo, atravessava um sulco profundo cavado por ele entre as pedras de calcário existentes por lá - chamávamos-lhe de garganta ou funil; atravessá-lo era um pequeno desafio e um agradável e longo passeio. Tudo isso, atualmente, fica debaixo d'água da represa construída pela metalúrgica Açominas para captação de água industrial e potável.
Um dos passeios preferidos era nas grutas atrás da serra - interessantíssimas, grandes e lindas, com os maravilhosos salões coloniais, decorados com estalactites e estalagmites de diversos tamanhos e formas - não perdem em beleza e tamanho para a gruta de Maquiné ou Lapinha. As companhias, donas do local, fecharam os caminhos das grutas, com a anuência e tolerância da Prefeitura local - Ouro Branco ou Ouro Preto. Proíbe-se o povo de desfrutar as belezas de um bem público - como retiram calcário do local, é bem provável, se nenhuma providência for tomada, que aconteça o que tem acontecido com muitas delas nas nossas minas gerais: virarão pó, para agricultura ou para a siderurgia!
Dor de dente
Numa das férias, acometeu-me uma terrível dor de dentes. A bochecha inchou, inflamada. Tendo aparecido um carro, coisa rara naquele tempo, deixaram-me ir para seminário, em Congonhas, procurar um dentista - dentista prático, o que havia. Fiquei só, no imenso internato, pois seria atendido somente no dia seguinte.
O dormitório, no extremo esquerdo do segundo andar. Eu, naquele mundão. A luz elétrica, em dias alternados para cada lado da cidade. Nada de luz naquele dia, ou melhor, naquela noite.
Achei alguma vela e resolvi dormir na enfermaria, mais aconchegante - no extremo direito do primeiro andar.
Deitei-me. Difícil dormir com a dor, e quando enfim o sono chegava, percebi algum vidro de uma das janelas quebrando ou sendo quebrado. Pensei logo num ladrão. Mas ladrão para roubar o quê naquele lugar? Bons tempos, quando ladrão era coisa raríssima.
Quase todo o prédio era de piso de madeira e não de laje. Percebi passos ao longe. Poder-se-ia adivinhar mais ou menos onde. Talvez alguém no dormitório... Encontrava-me só, tinha certeza – dor, sono, cansaço, escuridão e solidão inventam coisas...
Nunca tive medo de nada, e, apesar da dor e das noites mal dormidas ou mesmo passadas em claro, dormi.
Pelas tantas da noite acordei assustado com barulho de passos no andar de cima. Estranhei, pois afinal pensava estar só no prédio.
Alguém vinha em direção ao lado direito do edifício - para o meu lado. Ouvi cada passo, descendo a escada. Parava... descia... e foi aproximando-se... aproximando-se... até chegar perto do corredor principal.
Com medo ou receio e a escuridão total, deu para ver, através da fresta da porta, alguma luz vindo - nessas horas, dois lumens viram dois mil! Cobri-me todo. Eu ofegante e a luz mais perto, os passos também. E a luz aumentava. Lentamente, caminhou todo o corredor principal. Entrou no pequeno corredor da enfermaria. Foi chegando... pelo caminhar, alguém avizinha-se da porta... pegou no trinco torcendo-o... devagarzinho... e eu meio suado - meio suado que nada, todo suado... e suor frio!
Abriu-se a porta. Dei uma olhadela e... o que vejo? - Uma assombração com seu lençol alvíssimo e um lampião a vela numa das mãos! Pude comprovar que lençol de assombração é realmente branco, branquíssimo, e meio transparente!
Enrolei-me todo no cobertor... encolhi-me o máximo. Fazia frio, e eu mais frio ainda, e ele aproximando-se da cama... Eu na posição fetal... Cutucou-me! Gelei-me. E murmurando:
- Sa-be on-de tem mais co-ber-tor?... (acho que com mais medo que eu!)
Demorei-me um pouco a entrar na realidade.
Que alívio! O Gentil, um colega, enrolado num lençol, por causa do frio. Tinha vindo depois de mim, chegou à noite, e, como não possuía chaves, quebrou uma vidraça, de uma das muitas janelas, e entrou.
Acabamos dormindo, os dois, na enfermaria.
Naquela noite, além de terrível, terminei dormindo com uma assombração!
E o lençol não era branco!... E nem lençol!... Era um cobertor xadrez!... E xadrez escuro!...
Medo faz coisas! Acreditem!
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
À IMAGEM E SEMELHANÇA DE DEUS
domingo, 9 de agosto de 2009
PAPAI, PAPAIS, PAIS... O CORAÇÃO DE JESUS NOS ABENÇOA
PAPAI, PAPAIS, PAIS... O CORAÇÃO DE JESUS NOS ABENÇOA
É bem assim mesmo: Papai. Nossa mãe nos ensinou a pronuciar Papai. Meu pai ensinou os filhos a pronunciar Mãe. Acredito que assim tenha sido. Sou o oitavo filho de minha família e aprendi mujito com minha irmã mais velha (hoje, completando 71 anos).
A homenagem a meu pai que faço agora, estendo-a a todos os meus amigos da UNESER. Acredito que meu pai não tenha fugido muito da regra de milhares de pais. Casou-se no religioso e no civil e viveu 57 anos de casado com minha mãe. Dizia minha mãe que meu pai sempre lhe falava: "Você para mim é a mesma jovem de 22 anos que recebi em nosso casamento, na Igreja Nossa Senhora Aparecida de Chavantes, SP". Pelo testemunho dos dois, eles se respeitaram a vida toda. Ele se foi em 1993 (com 90 anos) e ela em 2005 (com 92 anos).
A homenagem a meu pai busca em minha memória seus traços de nordestino, nascido em Matinha de Água Branca, AL. Dali saiu aventureiro e se tornou peão no Estado de São Paulo. Pelo andar de sua vida ajudou na construção da Estrada de Ferro Sorocabana, derrubou mato virgem em várias localidades do Estado de São Paulo e depois adentrou o sertão de Paranavaí, Pr e por último formou sua propriedade rural em Jandaia do Sul (1942-1980).
Sua profissão: agricultor, pequeno proprietário rural, sindicalista rural. Como pessoa participou da fundação da cidade de Jandaia do Sul. Ali foi membro do Apostolado da Oração e da Sociedade Vicentina (destas duas instituições ele se orgulhava muito).
Ao olhar sua trajetória de vida, na condição de filho, enumero algumas das qualidades boas que meu pai deixou a seus filhos: foi trabalhador, bom pagador de suas dívidas, humilde, religioso, desapegado dos bens materiais e contra as atitudes pelos bens supérfluos, assíduo leitor, poeta e bom orador, grande devoto do Coração de Jesus, de Santa Catarina de Sena e de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Por causa do Coração de Jesus, durante vários anos, nós os seus filhos o acampanhamos nas novenas de primeiras sextas-feiras de cada mês. Por várias vezes ele nos ensinara que quem se confessasse e comungasse com fé, pelo menos durante 9 sextas-feiras primeiras de cada mês, este teria parte com o Coração de Jesus - FOI A PROMESSA DO CORAÇÃO DE JESUS À MARGARIDA MARIA.
Incrível coincidência ou resultado divino? Meu pai faleceu no dia 1º de outubro, sexta feira primeira do mês, dia do Coração de Jesus. Tenho para mim que sua morte foi um resultado divino. Ele tinha grandes emoções em sempre fazer as novenas e participar das várias atividades da Igreja e das obras de caridade dos vicentinos.
Tenho em meu pai a figura de meu herói. A marca do herói que eu ainda vejo nele me levou a avisar meus irmãos, 18 dias antes de seu falecimento, que ele morreria em 1º de outubro. A pedido dele, fui buscar o pároco de minha paróquia para que viesse confessá-lo e lhe conferir a Unção dos Enfermos. No caminho eu disse ao padre sobre sua morte no dia previsto. O pároco disse que eu deveria tirar as carminholas de minha cabeça. Ouvi o padre e prossegui. Avisei a meus irmãos e eles vieram. Ele estava lúcido, mas baqueado. Na última semana de sua vida eu teria que fazer um curso na PUC de Curitiba e viajei no domingo anterior de sua morte. Lá chegando eu disse à coordenadora do curso que se houvesse alguma avaliação, eu gostaria de fazê-la com antecedência porque meu pai faleceria no dia previsto. Meus parceiros de grupo, da Pós-graduação em Pedagogia Religiosa, estiveram unidos a mim a semana toda. O previsto aconteceu. Eu acredito que a emoção dele foi tão grande e o Coração de Jesus veio buscá-lo bem em seu dia. Acredito que este foi o dia da ressurreição de José de Souza Cavalcanti. Agora me lembro bem de Jo 6,41: "Só poderão vir a mim aqueles que forem trazidos pelo Pai, que me enviou, e eu os ressuscitarei no último dia".
sábado, 8 de agosto de 2009
Verdade com grande peso moral
Dizem por aí que "o trabalho dignifica o homem", mas há quem já tenha dito que "o trabalho aliena o trabalhador". Há quem diga que não concorde com nenhuma das duas afirmações e prefira passar dias, anos, a vida inteira, sem desejar desistir do ócio que o acompanha.
Pôncio Pilatos, ao lavar as mãos e dizer aos presentes que não encontrava culpa em Jesus, realizava um trabalho que foi condenado pelos seguidores de Jesus Cristo. Os que estavam na multidão naquele momento do julgamento de Jesus e que responderam: "crucifica-o, crucifica-o", faziam um trabalho de expectadores ou de cúmplices de Pilatos. Os dois ladrões que foram crucificados com Jesus, nos prestaram um trabalho de reflexão, nos momentos em que dialogaram acerca da possibilidade de descerem da cruz ou de solicitação de perdão e de salvação.
Os ladrões se mostraram diferentes no fim. "Um dos malfeitores crucificados blasfemava contra ele dizendo: Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós também. Respondendo-lhe, porém, o outro, repreendeu-o, dizendo: Nem ao menos temes a Deus, estando sob igual sentença? Nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o castigo que os nossos atos merecem; mas este nenhum mal fez. E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu reino. Jesus lhe respondeu: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso" (Lucas 23:39-43). Um dos ladrões permaneceu impenitente na presença da cruz de Cristo, insultando o Salvador, sem ouvir a repreensão e os apelos do companheiro que também ia morrer. O outro é tocado e tem o coração aquebrantado, repreendendo o companheiro, reconhecendo-se culpado, declarando a inocência de Cristo e suplicando para que o Senhor se lembrasse dele após a morte. Em nossa resposta à pregação da cruz de Cristo hoje, podemos ou ficar empedernidos por aquela terrível cena como um dos ladrões, ou ser tocados como o outro. A verdade moral que tem base no pedido do bom ladrão a Jesus está na resposta do Salvador a Dimas: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso.
Tenho convicção de que o mistério da Ressurreição está em que o Senhor Deus, através de Jesus Cristo, virá nos buscar no último dia de nossa vida. A resposta de Jesus a Dimas dizendo ao bom ladrão que "hoje estarás comigo no paraíso", esta indica que aquele foi o último dias do Bom Ladrão e é neste último dia que ressuscitamos.
Gostaria de ouvir a opinião de um teólogo àcerca da ressurreição, pois há quem diga que as traduções bíblicas dificultaram a compreensão dos cristãos. Penso que é na frase marcada em vermelho que está a divergência de interpretação de várias igrejas cristãs.
VIRTUDES E VÍCIOS (II)
Ainda que as boas ações nos acompanhem constantemente, as dificuldades podem nos levar a criar impecílios não condizentes com a realidade.
Ao observarmos a população de uma cidade, percebemos que esta se torna autônoma no momento em que adquire habilidades, ou seja, aprende como fazer. A aplicação do como fazer expressa as atitudes que tanto podem ser positivas, bem como negativas. A qualquer momento e em qualquer lugar, o homem é racional. Para pensar bem neste assunto, a Bíblia ensina que Deus (na figura de Jesus Cristo) quer "que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade" (1 Tim 2, 3-4). Ser salvo quer dizer realizar-se como profissional, ajudar a quem precisa aprender e ir mais além: não permitir que ninguém se disperse sem que todas as coisas possam se consolidar.
Lucas reflete sobre a parábola do administrador não exemplar. Este não acumula bens materiais, mas sim, busca a expectativa de dias melhores. Aquele que for capaz de agir, de mudar de atitudes e criar, aparetemente utiliza um caminho mais seguro, pautado pela racionalidade. Jesus diz que "quem for fiel nas coisas mínimas, é fiel também no muito, e quem é iníquo no mínimo, é iníquo também no muito" (Lc 16m 10). Esta é uma grande virtude. Ao contrário, as atitudes que nascem da desorganização, da falta de princípios, terminam mal.
Para melhorar esta reflexão, apresentamos aos nossos leitores mais um artigo:
AS VIRTUDES COMBATEM OS VÍCIOS E CONSTROEM A SOCIEDADE FELIZ Afonso de Sousa Cavalcanti – afonsoc3@hotmail.com
VIRTUDES E VÍCIOS
Afonso de Sousa Cavalcanti – afonsoc3@hotmail.com
Introdução: Conforme o livre arbítrio, o ser humano consegue controlar seus instintos básicos e se submete aos valores das virtudes ou aniquila seu entendimento e sensibilidade e é dominado pelos pecados capitais. Objetivos: Demonstrar que o processo civilizatório favorece o relacionamento humano e melhora a vivência na pólis. Material e método: Este estudo analisa Wikipédia, enciclopédia livre e verifica PANATI, Charles. Origens Sagradas de Coisas Profundas. Nele o autor aprofunda o conhecimento sobre o texto do teólogo e monge grego, Evágrio do Ponto(345-399), narrando 8 crimes ou 8 paixões que destroem a humanidade. Discussão: Para Evagrius, na medida do pecado, a pessoa se torna mais egocêntrica. O orgulho é a maior fixação do ser humao em relação a si mesmo. No final do século VI, o papa Gregório reduziu a lista a sete itens, juntando "vaidade" ao "orgulho e com isso a Igreja utilizou a classificação desses vícios, nos primeiros anos do catolicismo, querendo educar e proteger seus seguidores, tratava-se do controle dos instintos básicos. Os sete pecados capitais: o orgulho (arrogância), a inveja, a ira, a preguiça, a avareza, a gula e a luxúria estão presentes na história e são responsáveis pelos mais graves conflitos sociais, econômicos, políticos, religiosos e outros. Conclusão: o estudioso das ciências humanas pode percorrer os ensinamentos dos teóricos modernos, como Hobbes, que teorizou ser o homem um indivíduo mau por natureza e que necessita da instituição do Estado para se controlar, ou como Rousseau, que afirmou ter o homem nascido bom e a sociedade o estragou. Os religiosos (como Evágrio, Tomás de Aquino e o Papa Gregório) indicam o remédio para os vícios (pecados) é a prática ascética, ou melhor, o exercício contínuo das virtudes cristãs, como a fé, a esperança e a caridade. Para se obter o conhecimento profundo da história do cristianismo, o pesquisador terá que folhear as páginas da história da humanidade.
O poeta, o poema.
É ele quem lastima a inexistência do tema
ou, quando o encontra, quem sorri.
Suando frio, firme talha, retalha
e tenta modelar o seu poema: o poeta.
Busca, mede, escolhe, estica, encolhe
frases, palavras, rítmos e harmonia.
Amigo da cruz, filho da tristeza,
companheiro da alegria,
não raro se angustia: o poeta.
Não tem nome, pseudônimo.
Vive no mundo, mas fora.
Perseguido, foge, exila-se.
Não tem pátria nem história: o poeta.
Não vê fama nem reclama.
Não tem louros (nem os ganha).
Fim trágico o espera:
desprezo, miséria: o poeta.
Finalmente alguém exclama:
Ei! Bonito! Dá vintém!
Corre logo à imprensa,
modelado, lindo, puro: o poema.
Vale tanto quanto renda,
vira lema, ganha-pão.
Ah! o poema, de quem?
Quem? - João Ninguém: o poema.
Vai pra história patriótica.
Chega à escola cultuado.
O poeta? - Não. O poema.
Não importa de qual pena: o poema.
Quem suou, pouco chorado.
Quem buscou alhures tema
da memória desligado.
Em seus pulsos põe algemas: o poema.
Ao poema: louros!
Ao poeta morto: pena!
Vale mais o poeta?
Vale mais o poema?
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
ACRUZ E A BOA VONTADE
Afonso de Sousa Cavalcanti
Os cristãos confirmam que a morte de cruz não é uma tragédia, mas sim uma vitória, isto se falamos da morte de Jesus. Tal morte não aconteceu por acaso, nem porque ele cometeu um crime hediondo. Esta forma de morrer estava investida em um grande mistério: a garantia da Ressureição e, sobretudo, da Salvação. O grande mistério da cruz indica que nenhum homem consegue salvar-se sozinho. É preciso a participação do Filho de Deus e a intercessão do Espírito Santo, o Paráclito, o advogado.
Jesus destacava sua identidade aos que o seguiam. Para que eles o identificassem verdadeiramente, ele repetia o que há muito tempo fora anunciado pelos profetas que "o Filho do Homem devia sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, devia ser morto e ressuscitar ao terceiro dia"(Lc. 9,22). A identidade messiânica está na humilhação dos homens e mais precisamente no modo como os homens de seu tempo determinaram de que modo Jesus haveria de morrer. A morte de cruz era tão certa para ele, de tal forma que ele tinha admiração e indicava a cruz para quem quisesse ser feliz. É ele quem diz: "Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me" (Lc. 9,23). A cruz é a verdadeira identidade do cristão. Tal identidade está em exercitar seu ser em perfeita harmonia consigo, com os outros e com todas as criaturas do mundo. Para Jesus, a cruz é a razão de ser cristão. Carregar a cruz é de fato uma tomada de decisão, é assumir compromissos de amar sem medida, de dedicar-se à causa do próximo.
Se a religião cristã tem na cruz a esperaça, a filosofia tem na razão a condição plena para solucionar os problemas vitais.
É na filosofia que encontramos uma verdadeira lição sobre a boa vontade. O homem toma decisões a partir da organização de seu entendimento e de sua sensibilidade. A boa vontade é a primeira exigência para que o sujeito possa ser considerado autônomo. A autonomia do sujeito está na máxima que é o princípio subjetivo da ação.
A autonomia está no valor absoluto que é a pessoa humana. A pessoa tem mais valor na medida em que revela seu interior e pode livremente expressar suas intenções, sua boa vontade. Quem experimenta a filosofia de Kant diz que a ação humana é formulada no imperativo categórico. A razão impera sobre o sujeito constantemente e dita a ele: "Age sempre de tal modo que a máxima de tua ação possa ser elevada, por sua vontade, à categoria de lei de universal observância" (NALINI, 1999). Agir conforme o dever, é cumprir a lei moral que tem sua validade no princípio objetivo, de acordo com a expressão da lei. O sujeito kantiano tem sua máxima fundamentada na "capacidade de autodeterminação normativa e implica o abandono de um dos atributos da personalidade em sentido ético (NALINI, 1999). O sujeito não depende dos objetos para se definir, mas sim de sua autoconsciência.
O confronto entre a cruz e a máxima impetrada pela boa vontade de Kant tem seu fundamento na sensibilidade e no entendimento. Trata-se do sujeito ideal, daquele que sabe tomar decisões livremente.
Depois que passei a gostar da filosofia, confesso que me aproximei mais da Cruz e de Jesus. Tenho falado isto aos acadêmicos.
Referências:
A BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Edições Paulinas, 1985.
CAVALCANTI, Afonso de Sousa. Procura e Discernimento (Religião e Filosofia). Mandaguari: Arte Final, Gráfica e Editora, 2005.
NALINI, José Renato. Ética Geral e Profissional. 2 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999.
MAYBEZM Eduardo Garcia. Ética - Ética empírica. Ética de bens. Ética formal. Ética valorativa. 18 ed. México: Porrua, 1970.
MUSAS DE ENLEIO
DEMA
As musas com ares de enleio,
próprias dos meus sonhos de então,
de repente, em concreto, eu as vejo,
pulsa forte, louco mesmo, o coração.
Entrego-me ao prazer de contemplá-las
de meu quarto, solitária biblioteca,
com assuntos filosóficos, História,
geográficas páginas mal abertas.
Desconheço, no meu mundo,
o mais profundo do amor concreto.
Prefiro as Musas de Enleio.
Vejo-as, sinto-as de perto.
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
QUASE SEMPRE ELES ESTÃO NA IGREJA, MAS SÃO MATADORES DE ALUGUEL
Por Afonso de Sousa Cavalcanti, com a participação de Pedro Gondasky.
Hora boa para contar histórias é o momento em que a gente descansa com alguns parceiros de trabalho. Quando as pessoas ficam remoendo as dificuldades do serviço que irão fazer, elas sofrem por antecedência. É o mesmo que querer resolver algo que ainda não se sabe como irá acontecer.
- Assim, de conversa em conversa, já vimos varando mais de vinte e cinco anos de serviço na nossa granja. E para que a gente não se estresse, eu pediria ao compadre Pedro Horta que narrasse aquele conto do matador rezador, afirmou Filinto Petsburgo.
Pedro Horta era papudo e enchia muito mais o papo, quando alguém o convidava para falar, contar ou organizar alguma coisa. O homem ficou cheio. Sentou-se bem apoiado na parede do barracão, onde os trabalhadores descansavam do almoço. Agradeceu a Filinto e pôs sua máquina de contar história para funcionar. Primeiro acendeu um cigarro, coçou a mão e disse:
- Peço licença! Se quiserem perguntar enquanto eu conto, talvez o que vou contar ficará até mais engraçado.
Ernestino, sujeito muito católico, não perdia sequer uma missa aos domingos, meio cochilando, disse que gostaria de fazer uma ressalva:
- Vê lá Pedro Horta como você vai meter a boca nas pessoas que gostam de rezar e que são amigas do padre Ernesto.
- Nada disso, Ernestino, só vou dizer a verdade a respeito de que contou meu tio Inácio, na semana passada. Esta história se passou numa cidade pequena que fica próximo de Curitiba.
Todos fizeram absoluto silêncio e o contador de história começou:
- Um tal Iracildo Menezes Conradelli, filho de imigrantes europeus, batalhou muito, desde menino. Já aos quarenta anos, depois de tantos trabalhos, comprou um sítio de cinco alqueires paulistas. Sítio bem ajeitado, com boa aguada e terra fértil. Ali instalou uma granja de porcos para dar emprego aos seus dois filhos (Tampinha ou Junior e Ana Carolina). Em casa, ao todo eram cinco pessoas. Morava com eles a mãe de Terezinha, Dona Ofélia Marichelli. Trabalhar mesmo era só Iracildo, que começava antes do raiar do sol e só ia para o descanso depois do sol posto. Os outros ajudavam em tarefas menores.
Por incrível que pareça, no momento da narrativa da história, aconteceu o inesperado. Uma carreta carregada de milho bateu de ré e quebrou parte do muro da granja. Todos os trabalhadores saíram correndo para socorrer ou apenas ver o acontecido. A história parou no meio.
No dia seguinte, no mesmo horário do almoço, todos descansavam. Ernestino, agora não mais cochilava e por isso puxando a língua pediu:
- Já que o silêncio é bom, eu gostaria de pedir que Pedro Horta continuasse a narrar a história do matador, aquela que ele narrava no dia de ontem.
Novamente, Pedro Horta, contador de histórias, encheu o peito de alegria e continuou:
- Já contei que o Iracildo montou a granja e criava porcos e contava sempre com o trabalho de seus familiares. Muito bem! É daqui por diante que a narrativa vai ficar melhor. Até agora, esta história é semelhante a dezenas de acontecimentos que temos e que inclusive se passam em nossa cidade de Pato Branco.
O Horta gostava de detalhar as histórias que contava. Tinha ele um jeito especial de indicar os momentos em que os personagens de uma história são considerados honestos e éticos e também quando procedem de forma inversa. Vamos chamar de volta o Pedro Horta para que continue. Ele se põe em pé e parece falar com as mãos:
- Até me arrepia falar este trecho da história. Iracildo estava aos poucos melhorando sua situação financeira, mas aconteceu uma desgraça na vida dele.
- Uma desgraça! Meu Deus! Uma desgraça. Comentou Camargo.
- Muito mais que isso, Camargo. Você já pensou o quanto deva ser difícil o sujeito levar uma rasteira econômica e perder tudo da noite para o dia, simplesmente porque avalizou um empréstimo bancário para um amigo. O tempo decorreu. O amigo não tinha dinheiro e nem outro bem para pagar e por isso o Banco do Brasil hipotecou seu sítio.
- Amigo! Que amigo que nada! Se um sujeito fizer assim com os outros, merece ser tremendamente castigado. Se isto fosse comigo, acho que eu seria capaz de matá-lo. Afirmou Rafael.
- Cada um de nós teria uma atitude porque não somos sangue de barata, continuou Pedro Horta. Iracildo pensou muito qual seria sua atitude, pois perdeu tudo. Voltaria à estaca zero. Para não dizer que o homem perdeu tudo, ainda restou-lhe em depósitos bancários uma quantia superior a cinco mil cruzeiros, numa conta que vinha poupando. Pensou em usar o dinheiro para fazer vingança contra o caloteiro do título que ele assinou. Montou a cavalo e desesperado saiu à procura de encontrar uma pessoa que pudesse tirar a vida do caloteiro, que por sinal chamava-se Pedro Jacinto. Não precisou andar muito. Resolveu parar na venda das Flores. Ali avistou um sujeito cabisbaixo, trajava roupas simples, calçava botina domingueira e usava chapéu. Aparentava-se bem amadurecido. Iracildo olhou para aquele homem e ele percebeu seu olhar. Levantou-se e acenando com a mão pediu que ele fosse para fora para conversar.
Iracildo, já com a maldade abalizada na mente, foi ao encontro do sujeito cabisbaixo, embora não podendo perceber seu rosto. Ouviu dele:
- O senhor procura por mim?
- Talvez sim! Disse Iracildo.
- Procuro por alguém que possa fazer um serviço especial.
- O senhor fala de tirar a vida alheia?
- Isto mesmo. Tenho um serviço dessa natureza. Pago bem. Pago à vista.
O tal sujeito, olhando para baixo, para esconder as cicatrizes do rosto, balbuciou numa voz fanhosa:
- Conheço alguém que é tiro e queda, é toma lá e dá cá!
- Onde posso encontrá-lo?
- É muito fácil! Basta entrar na Igreja do Rosário. Ele costuma estar rezando lá quase todas as manhãs. Fica sempre do lado direito da igreja, na frente, numa ala meio escura. Dá um tempinho aqui, enquanto eu saio e ninguém perceba que conversamos, depois o senhor vai para a igreja.
O homem desesperado da vida, para passar o tempo pedido por seu interlocutor, tomou ali um café com pão e manteiga e depois foi para a igreja do Rosário. Enquanto isto, o informante saiu e sentou-se do lado direito da igreja, bem na ala meio escura que ele descrevera. Ali ajoelhado, debulhava o rosário. Balbuciava alto, fingindo que rezava, bem no momento em que Iracildo entrava para pedir o tal serviço. Iracildo olhou-o, agora sem chapéu e trajado com um paletó surrado. Não viu nele nada que o identificasse com aquele que o recebeu na venda das Flores. O diálogo entre os dois começou. Iracildo perguntou-lhe:
- O senhor executa vidas humanas?
- Sim, executo, só que gosto de receber adiantado. Onde é o serviço?
- É na estrada do Conforto, km dois. O nome dele é Pedro Jacinto. Pago dois mil e quinhentos cruzeiros agora e igual quantia, no momento em que o senhor trouxer a orelha dele como garantia de que o matou.
- Já entendi. Sou homem de pouca prosa e de muita oração. Fico sempre aqui na igreja. Sou amigo do padre Anselmo, de muitos comerciantes, dos professores da cidade e das crianças da catequese. Preciso que o senhor seja discreto: não reconheça quem sou, não informe nada a ninguém e não se arrependa a partir desse nosso contato. Vou fazer o serviço.
Iracildo deu-lhe os dois mil e quinhentos cruzeiros e prometeu que ali voltaria em breve para novas conversas. Para disfarçar também, ajoelhou-se um pouco distante do velho e foi rezar. Olhando de rabo de olho, viu que o contratado saiu da igreja.
Após fingir que havia rezado um pouco, Iracildo voltou para casa. A consciência dele pesou e então caiu em si do grande erro que estava fazendo. Mesmo não tendo comentado nada com seus familiares, sobre sua falência, sentiu um grande sufoco. Montou a cavalo e saiu a galope. Foi à procura do bandido que havia contratado. Entrou na igreja, nada! Na venda das Flores, nada! Nos vários lugares da cidade, nada! Parou o cavalo ao lado da praça, numa rua paralela com a Avenida Central. Dirigiu-se para o banheiro público da praça. Ali entrou. Deparou-se com o bandido de aluguel. Falou com ele:
- Meu senhor, por favor! Não faça o que combinamos. O que já lhe dei é seu. Não execute o Pedro Jacinto, pelo amor de Deus! Fiquei pensando que não é só ele o culpado nesta história. O Banco do Brasil também é culpado, pois foi o banco que arranjou o empréstimo a Pedro Jacinto. Foi o banco que tomou meu sítio
O velho olhou para ele e com a mesma voz fanhosa comentou:
- O senhor se lembra do que eu disse: sou homem de pouca prosa e de muita oração. Fico sempre aqui na igreja. Sou amigo do padre Anselmo, de muitos comerciantes, dos professores da cidade e das crianças da catequese. Preciso que o senhor seja discreto: não reconheça quem sou, não informe nada a ninguém e não se arrependa a partir desse nosso contato. Vou fazer o serviço.
Para evitar dúvidas e quase matar Iracildo do coração, arrancou o revolve e afirmou:
- Passa o restante do dinheiro. Cumpra sua promessa, se não quiser morrer agora ou mais adiante. Toma sua encomenda!
Jogou nele a orelha que cortou do Pedro Jacinto e ainda com essa afirmação:
- o serviço foi bem feito. Ninguém viu nada. O agora defunto dorme, após ter comido sua marmita de comida. Matei-o sangrado. Uma facada só. Ele nem sentiu.
De fato, o serviço foi bem executado. Aconteceu o enterro. Os parentes choraram. A viúva do falecido veio desculpar-se com a família de Iracildo. O tempo decorreu. O velho matador de aluguel possivelmente executou diversas outras tarefas como essa.
- Pelo amor de Deus, Pedro Horta! Você é meio herege, mas não precisa ficar culpando os católicos que eles são rezadores, enganadores do povo, matadores de aluguel. Essa é demais. Eu sabia que de sua boca sairia uma blasfêmia dessa. Comentou Ernestino.
- Não Ernestino. Não contei isso para pregar peça nos católicos. Narrei o fato porque isso aconteceu de verdade. Veja bem: para finalizar a história, fiquei sabendo que em 1985, era vigário da paróquia do Rosário o padre João Melchior Stashechi. O vigário celebrou missa de corpo presente pela alma do então matador de aluguel. Dizem que ele morreu de enfarto do miocárdio, na quinta sexta feira da quaresma, no momento em que os fiéis celebravam a via-sacra. Ele caiu bem no momento da contemplação da estação, quando Simão Cirineu ajuda Jesus a levar a cruz. Quero crer que o velho tenha se arrependido com o peso da cruz sobre suas costas.
- Outra blasfêmia, Pedro Horta. Jesus é exigente com aqueles que o querem seguir. Não é por um arrependimento simples que ele perdoa. Jesus exige que os culpados vão em público e se confessem pecadores, devedores. O fruto do roubo é necessário que seja devolvido com juros e correção monetária. Se houve morte, a coisa deve ser mais exigente ainda, respondeu ironicamente Ernestino.
O tempo de almoço se esgotou. A história foi boa. Pedro Horta saiu satisfeito porque fez desafios aos colegas sobre vários assuntos: como contar história; a maioria dos crimes graves, quase sempre, é premeditada; os bandidos matadores, bem como os que encomendam crimes hediondos, muitas vezes se aparentam como pessoas boas, tranqüilas e religiosas; as instituições bancárias, em nosso país, são grandes responsáveis pelo empobrecimento de pequenos e médios proprietários; a maioria dos dirigentes das igrejas cristãs não percebe, que muitos dos fiéis que freqüentam as igrejas e aparentam piedade, estes são corruptos, matadores de aluguel e imorais.
TEENS IV - LIA - III CANTO
TEENS III - LIA - II CANTO
terça-feira, 4 de agosto de 2009
A EDUCAÇÃO RELIGIOSA NA ESCOLA PÚBLICA
* MARSON, Carlos César, CERCONVIS, Tiago de Souza e DIAS, Sâmia Paula Maschetto.
**Orientador: Professor Afonso de Sousa Cavalcanti – Professor na FAFIMAN. E-mail: afonsoc3@hotmail.com
Resumo
Comunicação oral
A presente comunicação quer oferecer aos estudiosos a importância da compreensão da dimensão transcendental do ser humano e para tanto convoca a todos para a real reflexão para os seguintes temas: 1. a finalidade da educação religiosa na escola pública (quem são os profissionais envolvidos, qual é a clientela e quais são os procedimentos didático-pedagógicos propostos pela escola); 2.o espaço na escola e além dela - o fazer ciência - preocupando-se com os quatro pilares da educação (conhecer, saber fazer, compartilhar e ser) e o mergulhar no universo da transcendência; 3. a linguagem na educação religiosa deve ser extraída dos elementos essenciais que constituem os símbolos religiosos e culturais das instituições; 4. os princípios da educação religiosa, fundamentando a fé, o ecumenismo, a personalização, a vida comunitária, a inserção histórica da vida, a busca do Transcendente, a teologia global, a religiosidade popular, a visão global da vida. Acredita-se que a educação religiosa deve ser uma disciplina normal para a escola pública e que deva seguir os parâmetros normais das demais disciplinas, mas com um diferencial: o de trazer os alunos e toda a comunidade escolar para a tomada de consciência das várias questões que envolvem a sociedade hodierna: a solidariedade, a cidadania, os valores e, sobretudo, fazer do ambiente escolar um local livre para o avanço das comunicações e da linguagem. Palavras-chave: Transcendentalidade. Cientificidade. Moralidade social.
*Acadêmicos do 1º ano de História da FAFIMAN.
**MS em Filosofia, Dr. em Educação, Administração e Comunicação, Professor na FAFIMAN.
A EDUCAÇÃO RELIGIOSA NA ESCOLA PÚBLICA
1. Introdução
Para narrar um pouco da história, afirmamos que o Estado do Paraná usou do bom senso para apresentar propostas de implantação da Educação Religiosa neste Estado. Assim, a Associação Interconfessional de Educação de Curitiba (ASSINTEC), constituída oficialmente em Assembléia a 20 de junho de 1973, é entidade formada por representantes de diferentes confissões religiosas (católica, metodista, presbiteriana, luterana, evangélica reformada etc) e aberta às demais que dela queiram participar. Tem por fim, implantar e implementar a Educação Religiosa nas Escolas Públicas do Estado do Paraná. O início de suas atividades, restritas inicialmente às escolas estaduais de Curitiba e também municipais, (estas por força de Decreto n° 897, da Prefeitura Municipal de Curitiba) expande-se gradativamente a todo o Estado por força da Resolução n° 48545 de 25 de setembro de 1985 e, posteriormente, nº 484 de 12 de novembro de 1986 e Ordem de Serviço nº 029 de 10 de novembro de 1987 e atualmente pela Resolução nº 4.180/91.
Desde 1976, de forma discreta e efetivamente a partir de 1981, a ASSINTEC vem participando de Encontros Nacionais de Ensino Religioso promovidos pela CNBB, com o intuito de tornar mais efetivos os trabalhos referentes ao Ensino Religioso, não só a nível estadual, mas com vistas à unidade Nacional. Assim sendo, a Constituição Federal, Capítulo III, Seção I, artigo 210 parágrafo 1º : “ O Ensino Religioso de matrícula facultativa, constituirá, disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental”. Sua ação não pára aí. Com vistas a garantir o Ensino Religioso na Constituição Estadual do Paraná, realiza pesquisa junto aos pais de alunos, dos quais 92 % manifestaram-se a favor da Educação Religiosa nas Escolas Públicas. No tocante às autoridades religiosas, a ASSINTEC promoveu, em julho de 1988 em Curitiba, a I Consulta Ecumênica sobre Educação Religiosa do Paraná, da qual participaram bispos, padres e pastores, representantes de 15 Igrejas Cristãs e, deste evento, resultou uma Carta Aberta, enfatizando o apoio das autoridades presentes no mesmo em favor da Educação Religiosa Interconfessional nas Escolas da Rede Oficial de
Ensino.
2. A NECESSIDADE DA RELAÇÃO COM O SAGRADO
Antes de tudo, é importante notar que onde um grupo de pessoas civilizadas se reúne para tomar decisões sérias, este lugar é sagrado. Desde os primórdios da humanidade, a pessoa humana defronta-se com situações da realidade vivida que lhe são verdadeiros desafios, situações limite: a morte, a doença, o heroísmo, o amor, o nascimento, grandes opções (casamento, separação, profissão, estudo, pesquisa...).
Frente a estas situações a pessoa se pergunta sobre o porquê delas, buscando o verdadeiro sentido para a vida (para quê). Por isso passa a indagar-se: de onde vim? Quem sou? O que acontece depois da morte? Por que e para quê isso acontece comigo? Coisas parecidas com o que a propaganda da TV diz no momento atual. Assim há um choque, tensão, angústia, conflito entre a realidade vivida (experiências pessoais, vividas, consciente) e a realidade do inexplicável, que transcende o tempo, a consciência e o mundo palpável. Buscamos o sentido pleno da vida.
Por outro lado, a falta de sentido de vida, gera um sentimento de vazio e inutilidade que pode acabar por se transformar em neurose. Edgar Morin, em seu livro “O Enigma do Homem” exemplifica o que o imaginário se rompe quando diz que: “...o homem das cavernas ao pintar os animais, não queria apenas expressar arte, mas dava ao desenho (símbolo) um caráter de magia (proteção e sorte)”. Ele também queria atrair os animais para abatê-lo como reservas de alimento.
Temos na filosofia grega a transcendência desse imaginário, do mito. Sócrates e Platão nos ensinaram sobre a tripartição da alma e afirmaram que a alma humana, quando virtuosa, esforçada para o conhecimento, retornará para onde veio.
No dia a dia das várias religiões, estas convivem com dezenas de símbolos. O símbolo dispensa explicações. Ele fala por si, remete a pessoa àquilo que é primordial, que é profundamente essencial e necessário à identidade pessoal e coletiva que somos. Esse primordial é visto nos caracteres primeiros (marcas, impressões,experiências), arcaicos e significativos, que estão no inconsciente pessoal e coletivo, os quais chamamos de arquétipos. Os símbolos remetem ao ser humano além dos limites do tempo (histórico ou cronológico) e do espaço. Falando claramente de alguns símbolos: á água, o fogo, as vestes dos dirigentes de uma liturgia, o pão, o vinho etc, estes colocam as pessoas na “viagem” ao ponto de origem de onde tudo saiu e começou. Só a espécie humana é capaz de fazer esta “viagem”. Tal viagem tem que ser experimentada através de um convívio ordinário.
3. O real e o imaginário
A linguagem do IMAGINÁRIO, é MÍTICA, SIMBÓLICA, DE FÉ e pode se expressar por: a) Uma abertura pessoal ao transcendente, a qual chamamos de religiosidade; b) Por gestos que suscitam a tentativa de dominar o inexplicável, colocando-o a serviço próprio, caracterizando a MAGIA; c) Gestos de adoração (ritos, festas, celebrações) dando origem à religião, que reconhece a transcendência, o absoluto e é uma expressão comunitária. Estas expressões estão intimamente ligadas à cultura. O ser humano fala do mundo transcendente usando uma linguagem simbólica – cultural. Hoje, num mundo secularizado em que vivemos, muitas vezes o ser humano não está engajado numa religião (comunidade de fé), mas ninguém consegue apagar dele, nem ele próprio, a chama da busca da transcendência. É inerente ao ser humano o desejo de ultrapassar seus limites, de experimentar o divino, o infinito, embora este desejo se manifeste diferencialmente em cada pessoa. Se a escola tem o dever de promover uma educação total, isto é, da pessoa em todas as suas dimensões (física, social, intelectual, ética, estética, afetiva e religiosa), o aspecto da religiosidade não pode ser esquecido.Ele ajudará o educando a encontrar o sentido de vida e a compromissar-se com a sociedade visando melhorá-la, sem alienar-se.
4. conclusão
Do ponto de vista didático, cada disciplina tem uma forma de linguagem que lhe é própria. Físicos teóricos empregam em sua comunicação, vocábulos cuja significação é completamente estranha a economistas, juristas etc. A Educação Religiosa como postura pedagógica e o Ensino Religioso como disciplina curricular de formação de consciência ético-religiosa, têm um conteúdo religioso, de caráter teológico, como a Educação Artística tem caráter estético e as Ciências um caráter científico. Esse conteúdo religioso para uma compreensão eficaz, precisa ser traduzido e decodificado em termos pedagógicos. Isso porque a escola pública é um espaço aconfessional, espaço da educação, que não usa uma linguagem eclesial, específica, teológica. A Educação Religiosa, como educação da religiosidade, que é anterior à própria religião tem por isso uma linguagem específica.
Na escola pública predomina uma população da classe trabalhadora, que na sua maioria, tem uma mentalidade religiosa mágica, mítica e acrítica. Assim a escola se constitui o lugar onde se manifestam múltiplas formas de expressões religiosas passíveis de manipulação político- econômica- ideológica. E é com esse código religioso que essa fatia da sociedade faz sua leitura do mundo. Por isso, ao profissional de Ensino Religioso, impõe-se uma formação e capacitação cuja linguagem religiosa passa por 3 níveis: 1°) Apropriar- se do discurso religioso (nível de formação acadêmica). 2°) Saber traduzí-lo pedagogicamente (nível de competência técnica e profissional). 3°)Articular o discurso religioso ao “código religioso popular” (nível de engajamento político-social). Assim a linguagem religiosa que passa por esses níveis de comunicação, torna-se um instrumento tão eficaz quanto necessário à
educação do senso religioso do nosso povo.
5. Referências
ALVES, Rubem. O que é religião. S. P. Brasiliense,1981.
ASSINTEC, Boletim, n°49, ano 11. Curitiba – PR. 1987.
BOFF, Leonardo. Nova Evangelização. Petrópolis – RJ. Ed. Vozes. 1990
BOFF, Leonardo .Teologia do cativeiro e libertação. Petrópolis – RJ. Ed. Vozes. 1980.
CAMPBELL, Joseph . O poder do mito. SP. Ed.Palas Athena.1990.
ELIADE, Mircea.O sagrado e o profano. Lisboa .Ed.Livros do Brasil.
FREIRE, Paulo.Educação e mudança. RJ. Ed. Paz e Terra 9 ed, 1985.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. RJ. Ed. Paz e Terra. 17 ed, 1980.
FROM, Erich. A revolução da esperança. R J. Zahar Editores.1987.
GADOTTI, Moacir. Concepção dialética de educação. S.P. Ed.Cortez.6 a .Ed.1988.
LIBANEO,J.B. sj. Formação da Consciência Crítica.Petrópolis – RJ. Ed. Vozes. ed. (C.R.B.), 1982.
SAVIANI, Demerval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. SP. ed. Cortez, 1989.
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
NOSSA SENHORA
http://docs.google.com/fileview?id=0B5mGjTA04EQXYmFiNWE3NTctNTgwMy00N2VmLTk5Y2QtZTgyNDcxZGYyNmFh&hl=pt_BR
Barroco II – Igrejas fechadas
Dia 02 de maio último – 02/05/2009 - saí de Lafaiete, passei por Ouro Branco, cuja igreja barroca estava fechada. Logo a seguir, cheguei a Itatiaia, sua bela igreja barroca também fechada. Até o Programa CQC andou reclamando do governador de Minas o fato de uma de suas equipes de repórteres ir a Ouro Preto e várias de suas igrejas se encontrarem fechadas.
O péssimo anel rodoviário de Ouro Preto – Patrimônio da Humanidade! - desemboca em mais de seiscentos quebra-molas no trecho que atravessa Mariana e vai para Santa Bárbara, mas compensado pela paisagem maravilhosa, pois a estrada estreita bordea a estupenda serra do Caraça. O triste é a paisagem lunar, deixada pela exploração de nosso rico minério de ferro, vendido a preço de banana pelas multinacionais – Vale e outras mais. Nosso minério nada Vale... A obra de Deus é realmente empolgante, mas a dos homens... A de Deus podemos descrever, mas a dos homens, não sei como. O mineroduto e a estrada de ferro ferem e dilaceram ainda mais a paisagem. A Natureza um dia nos cobrará.
Catas Altas, aos pés da imponente e brilhante Serra do Caraça, com sua maravilhosa Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, com as torres bulbáceas, é rica em talha branca e dourada – o púlpito feito por Aleijadinho. Os altares laterais são os mais bonitos que conheço – uma maravilha.
O Seminário do Caraça hoje localiza-se no Município de Catas Altas.
As igrejas de Santa Bárbara são uma beleza. A Matriz de Santo Antonio é uma das mais ricas e bonitas das minas gerais – as outras fechadas.
Brumal é um pequeno distrito de Santa Bárbara, em cuja grande praça há um chafariz, herança dos tempos coloniais, a pequena e suntuosa igreja de Santo Amaro e lindas casas coloniais, além de um ótimo restaurante. Parte da Igreja de Santo Amaro é riquíssima em ouro e parte de alguns dos altares laterais apenas pintada de branco. Igreja pequena, mas dá uma sensação de requinte e suntuosidade.
Em Barão de Cocais conheci a maior das igrejas barrocas até hoje visitadas por mim – menos requintada, mas alta, imponente e bonita.
De Barão de Cocais fui a Cocais, onde há igrejas barrocas - dizem que são lindas – todas fechadas e algumas abandonadas.
Até agora não entendi como o Estado e as Prefeituras querem expandir o turismo com o abandono de suas jóias e únicas atrações turísticas.
As mineradoras, a Vale principalmente, levam a riqueza da região e deixam buracos e paisagens lunares. Porque não ajudam a restaurar ou reconstruir as igrejas e as casas antigas? Para elas seria uma migalha diante do que ganham dessa região. Daqui a pouco deixam a região e largam para trás buracos e o meio ambiente doente.
BARROCO
"Estou aqui neste stress danado; é este barulho das ondas do mar quebrando nestas horríveis areias brancas, onde as gaivotas insistem em bailar ao vento e, às vezes, mergulhando como flechas à procura do sustento... é muito difícil, mas alguém tem que passar por isso, não é mesmo meu amigo?
Veja se consegue tirar uma folga e deixar o acaso protegê-lo aqui em Cabo Frio aonde certamente você vai se distrair..."
Humberto teria outras opções, tão válidas e agradáveis quanto, ou mais cultas.
Estressado pelo barulho das ondas, naquelas areias brancas horríveis, a monotonia das mesmas gaivotas de sempre... a mesma praia, a mesma latinha de cerveja... presumo - monotonia total!
Poderia dar um pulo ali perto, no clima ameno e nas fantásticas paisagens de Teresópolis ou Nova Friburgo... Ou...
Vir para Conselheiro Lafaiete, antiga Queluz de Minas, a terra das violas de Queluz, a 100 km ao sul de Belo Horizonte, Br-040 - Rio-BH, no coração das cidades históricas de Minas - onde estão 70% das artes do Brasil e, aqui na Diocese de Mariana, 70% das artes das Minas Gerais.
Depois de se deslumbrar com a igreja barroca de Nossa Senhora da Conceição de Lafaiete, visitaria Congonhas, com seu Santuário barroco, com as esculturas, em pedra sabão, dos doze Profetas e com as Capelas, com sessenta e seis imagens em cedro em tamanho natural - maiores e melhores esculturas do Aleijadinho - ou as lindas pinturas do Athayde, ou ainda a maravilhosa Romaria. Almoçaria nos ótimos restaurantes, à beira da BR-040.
No dia seguinte, almoçaria na antiga e belíssima Fazenda dos Macacos, onde nasceu o Conselheiro Lafaiete, ou num dos restaurantes típicos de Itaverava, maravilhando-se com a linda igreja barroca e dando um pulo até Catas Altas da Noruega, vendo mais uma igreja barroca linda e bem diferente e digna de se visitar.
Um dia a mais e iria rumo a Tiradentes, passando por igrejas barrocas não menos bonitas que as de São João Del Rei, no Alto Maranhão, Entre Rios de Minas e Lagoa Dourada com seus rocamboles, e a presepial Prados.
Em São João Del Rei, veria inúmeras igrejas barrocas. Na de Nossa Senhora do Carmo, o Cristo Inacabado - escultura em madeira, tamanho natural - assim como o Cristo no alto de um morro, com linda vista da região. Encontraria ainda a majestosa casa e, atrás da majestosa e belíssima igreja barroca de São Francisco, o túmulo do Presidente Tancredo Neves.
À curta distância de São João Del Rei, dormiria numa das numerosas e confortáveis pousadas de Tiradentes. Admiraria a igreja de Santo Antonio, das mais ricas em ouro e prata do Brasil, assim como a casa-museu do Padre Toledo e ainda compraria as inúmeras e artísticas peças de estanho ou prata ou os parrudos móveis coloniais.
Voltaria por Barbacena, entrando em sua igreja barroca, adquirindo, ou ganhando, rosas e mais rosas, comendo morango e apreciando as incontáveis estufas de flores. Uma região primeira produtora de rosas e a segunda maior produtora de flores do país, assim como a primeira de hortifrutigranjeiros de Minas Gerais.
Pela Estrada Real, atravessaria Lafaiete, passaria por Ouro Branco, onde há a bela e rica igreja barroca de Santo Antônio, a 18 km de Lafaiete, no caminho para Ouro Preto. Antes um pouco, há Varginha onde uma das pernas de Tiradentes foi exposta e colocada numa gameleira e, bem perto, em Carreiras, a Casa de Tiradentes, ponto de reunião dos Inconfidentes e descanso para os tropeiros e viajantes.
Subindo a serra de Ouro Branco, um bloco único e imenso de pedra, que emoldura a cidade que lhe dá o nome, admiraria em Itatiaia uma bela igreja barroca; poderá ver os trabalhos em pedra sabão em Santa Rita de Ouro Preto, donde tiraram as pedras para as esculturas dos Profetas de Congonhas, e a incrível Lavras Novas, com sua paisagem infinita. Da Estrada Real, serpenteando as serras, até Ouro Preto, palco de nossa Inconfidência, vislumbram-se pinturas de paisagens quase Alpinas.
Ouro Preto abriga a segunda igreja mais rica em ouro do País, de estilo barroco, a impressionante Matriz de Nossa Senhora do Pilar, a mais requintada, com mais de 500 anjos, inaugurada em 1771, tem mais de 400 quilos de ouro em sua estrutura. A Igreja de São Francisco de Assis, o mais fantástico exemplar do barroco mineiro: foi planejada e esculpida pelo artista Aleijadinho. Outra obra, tão importante quanto as igrejas em um passeio pela cidade, é o Teatro Municipal de Ouro Preto, o mais antigo da América do Sul, assim como o Museu e a Praça Tiradentes, e as Repúblicas dos Estudantes em seus velhos casarões.
Ao lado de Ouro Preto há Mariana, primeira capital mineira, com muitas igrejas lindíssimas - na catedral, um órgão, o mais antigo do Brasil, funcionando, com concertos semanais. Poderá visitar o simpático Zizi Sapateiro, pintor de fama mundial e com muitas pinturas no prédio da ONU.
Se andar mais um pouco por esta região, encontrará artes ímpares, em mais e mais igrejas barrocas em Cachoeira do Campo ou as de Catas Altas, Santa Bárbara e Barão de Cocais, pousando no maravilhoso e antigo Seminário do Caraça.
Voltando por Belo Horizonte, visitaria Santa Luzia e em Sabará as igrejas barrocas cheias de ouro, a inigualável igrejinha de Nossa Senhora do Ó e o não menos notável teatro barroco.
E tem mais: muitas dessas igrejas são projetos e construções do próprio Aleijadinho - e algumas do também construtor, seu pai.
As cidades históricas transpiram cultura, beleza e arte.
Viu que a troca vale a pena?... Viu quantos "muitos", "inumeráveis", "lindas", "igrejas barrocas", "maravilhosos", "fantásticos", "história" etc.!
Tudo isso em cima de uma das maiores reservas de minério de ferro do mundo! Poderão ser admiradas durante quase todo o percurso! E as paisagens?... Demais!
E ainda... voltará doutor em Aleijadinho!...
Não é uma troca... É uma soma.
domingo, 2 de agosto de 2009
Homenagem necessária aos padres palotinos e à Nossa Senhora
HOMENAGEM NECESSÁRIA AOS PADRES PALOTINOS
Ao descortinar os séculos XVIII e XIX, no seu contexto social e político, é fácil perceber que nem a Igreja e nem os chamados líderes da época estavam dispostos a aceitar essa nova maneira de tratar os leigos como seus iguais e cooperadores, em prol do renascimento da evangelização. Tanto que não encontramos dados que demonstrem que Pallotti, enquanto vivo, tenha conseguido, apesar de algumas pequenas vitórias, alcançar seus objetivos. Muitos foram os fracassos e por muito pouco a Sociedade do Apostolado Católico (SAC) não se desintegrou por completo, ganhando vida somente no final do século XIX e início do XX. Ela se manteve graças à fibra dos seus adeptos e da graça do Espírito Santo.
Frente a este quadro, seria de imaginar se os novos representantes do clero, formados pela SAC, estariam imbuídos e teriam a consciência do intuito de Vicente Pallotti. Mais necessariamente se eles saberiam como colocar em prática essas idéias. Percebe-se que nossas interrogações encontram respostas nas andanças do Pe. Carlos Probst. Ele foi o Vicente Pallotti aqui no Norte do Paraná e tem mais: foi um bandeirante que não procurava ouro e nem mão-de-obra indígena. Foi um apóstolo de Deus.
O Norte do Paraná, no princípio da colonização, era carente de tudo, não havia estradas, médicos ou escolas. A vida era difícil para todos. Os padres que lá se encontravam tinham como objetivo aliviar uma das carências desse povo: a espiritual. Acompanhando as aventuras de “nosso amigo” Pe. Probst, vê-se que a prática é reconhecida no momento em que esses homens, representantes da Igreja, andaram em lombo de mulas, enfrentando todo o tipo de adversidade, tempo, animais, homens e outras dificuldades, portanto, foram antes de tudo pessoas fortes e admiráveis pela sua coragem. Também não se pode deixar de avaliar de que um dos objetivos, como dito antes, não foi esquecido, o de levar a Igreja aos fiéis. Para o bom cristão e intérprete das pegadas de Cristo, ficou evidente que os fiéis (leigos) trabalharam em parceria com o clero (Padres Palotinos) no Norte do Paraná, entre 1920 a 1940. Embora os palotinos tenham desenvolvido um estilo de vida muito próximo da vida de um convento, tendo em vista sua auto-suficiência, eles saíram fora das quatro paredes de sua clausura para realizar os reais motivos que Vicente Pallotti deixou como sendo suas boas intenções, ou seja, que as tarefas religiosas das comunidades não ficassem somente a cargo do sacerdote (NARDINI, 2002).
NOSSA SENHORA APARECIDA E AS VÁRIAS NOSSAS SENHORAS.
Cada vez que se adentra a igreja matriz Nossa Senhora Aparecida de Mandaguari, observa-se que este monumento porta a História de nosso povo. Ali estão as lembranças e as graças recebidas por todas as missas e liturgias celebradas – registra-se “a primeira missa rezada, em 6 de janeiro de 1939 pelo Pe José Kandziora na capelinha de Lovat” (PROBST, s/d), bem como a última missa ou simplesmente o último momento em que se permanece no interior desta igreja contemplando a Jesus e sua Mãe. Confessa-se que a pessoa piedosa observa atentamente a Nossa Senhora da nave central e pode ver nela uma enorme leveza que expressa a graça, o perdão, a harmonia, a paz, a luz, o entendimento, a sabedoria e tantas maravilhas que transcendem a sua humilde vida terrena – os sacramentos, do Batismo à Unção dos Enfermos, são derramados pelas mãos da Virgem Imaculada da Conceição Aparecida. Pelo Clero que severamente veio dirigindo nossa gente, desde a condição de capela, através do Vigário de Arapongas, Pe. Bernardo Merkel (PROBST, s/d), no período de 1938 a 18 de dezembro de 1943. Nesta data, o povo de Deus de Mandaguari passou da condição de capela para paróquia. Muitos líderes religiosos foram postos aqui pela Congregação dos Padres Palotinos, começando em 17 de março de 1944, com o Padre Antonio Lock e que tem a sagrada continuidade ministerial com o então Padre Antonio Radigondas – 2009. A Mãe Aparecida é a imagem e semelhança de uma mulher grávida, prestes a dar à luz ao filho Jesus, esta continua a proteger seus filhos e a pisar forte para que o dragão não devore os bons propósitos dos filhos que estão surgindo.
A visão da Mulher e do Dragão que é posta na nave da igreja Nossa Senhora Aparecida é muito forte. A mulher vem de uma outra dimensão e se apresenta como quem vem para delegar ordens e ao mesmo tempo cumprir uma missão. A cada vez que um filho de Deus a observa, procura ver algo a mais, além da aparência da imagem refletida nos pequenos mosaicos. Os que rezam, prostrados piedosamente diante dela, ela reza com eles, ilumina seus pensamentos e os enche de uma coragem que eles não encontram em outro lugar e objeto. Para perceber melhor o quadro posto a nossos olhos, podemos encontrá-lo no livro de Apocalipse. O autor sagrado extraiu de forma profética, real e muito segura para os que têm fé, aquilo que se vê apenas de forma imaginária:
Um sinal grandioso apareceu no céu: uma Mulher vestida com o sol, tendo a lua sob os pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas; estava grávida e gritava, entre as dores do parto, atormentada para dar a luz. Apareceu então outro sinal no céu: um grande Dragão, cor de fogo, com sete cabeças e dez chifres e sobre as cabeças sete diademas; sua cauda arrastava um terço das estrelas do céu, lançando-as para a terra. O Dragão colocou-se diante da Mulher que estava para dar a luz, a fim de lhe devorar o filho, tão logo nascesse. Ela deu à luz um filho, um varão, que irá reger todas as nações com um cetro de ferro. Seu filho, porém, foi arrebatado para junto de Deus e de seu trono, e a mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe havia preparado um lugar em que fosse alimentada por 1260 dias (BIBLIA DE JERUSALÉM, Ap 12, 1-6).
O autor de Apocalipse continua a narrar o fato e afirma que Miguel Arcanjo e seus anjos guerrearam contra o Dragão. Apesar da fortaleza do Dragão e da astúcia de seus anjos, eles foram derrotados, de tal forma a serem expulsos do céu. Este dragão é a antiga serpente, o Diabo, Satanás, Demônio ou tentação do povo – foram expulsos e vieram habitar a terra. Depois da expulsão do dragão e de seus anjos, a salvação, a realeza de Deus e a autoridade de Cristo confortam a todos os irmãos. Apesar de a salvação aí estar e de a Mulher – nossa Mãe nos proteger sempre – o Dragão continua então “a guerrear contra o resto de seus descendentes, os que observam os mandamentos de Deus e mantêm o testemunho de Jesus” (BIBLIA DE JERUSALÉM, Ap 12, 1-6). Os que crêem no sangue do Cordeiro e na palavra de seu testemunho, desprezam a própria vida até à morte e vivem em efervescente alegria – como se tudo fosse uma interminável liturgia – sem lugar e ocasião para recriar o ódio e reviver o Dragão e seus anjos.
A Igreja Universal que ora é pensada – figurada na Mulher celestial que os cristãos católicos reverenciam e que está grávida do Filho de Deus é a nossa mãe – nada mais é que a nossa sociedade particularizada na Matriz Nossa Senhora Aparecida de Mandaguari.
A instituição a que se faz referência, não é uma igreja imaginária – por excelência espiritualizada e convertida, transformada em seus modos de se apresentar e de agir – porque seus participantes estão em um mundo material e por sinal constituído por homens e mulheres que alimentam desejos e ainda não aprenderam a crer e a ouvir a voz verdadeira que vem do céu e que proclama: “Agora realizou-se a salvação, o poder e a realeza do nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo: porque foi expulso o acusador dos nossos irmãos” (BIBLIA DE JERUSALÉM, Ap 12, 1-6).
Os cristãos que amam Maria começam a compreender que existe uma ligação muito forte da realidade profetizada em o Apocalipse com a sensibilidade cristã dos colonizadores que vararam o sertão paranaense e de Londrina miraram sem vacilo o local que ora é imortalizado para o culto divino da Mãe Aparecida. O espaço desta igreja não é um lugar qualquer – o profano -, mas sim o lugar do sagrado, ora defendido pelos herdeiros da Mandaguari convertida.
Os pesquisadores marianos ensinam que Maria é venerada porque se fez a humilde serva do Senhor e por isso é cultuada no mundo inteiro com os mais diferentes nomes que os seus admiradores lhe conferem. Através de nossassenhoras. Sites.uol.com.br, aprende-se muito e pode-se venerar Maria, através de suas expressões culturais. Maria, segundo a
O Novo Testamento ensina que Maria era uma mulher humilde do povo hebreu. Era uma pessoa concreta, historicamente verossímil e longe de ser uma invenção fantasiosa. Os dados estritamente biográficos derivados desse texto dizem que era uma jovem de bela estatura. Nasceu provavelmente em Jerusalém, casou-se com José que era pertencente à tribo de Judá e descendente do Rei David, passando a morar em Nazaré, uma aldeia da Galileia, da qual saiu para submeter-se ao recenseamento em Belém, por ser esta, a terra de seu esposo José.
Na época de Herodes, conforme as profecias bíblicas, deu à luz um menino, que foi chamado de Jesus. Devido à tirania do rei Herodes, Deus deu ordem, por intermédio de um anjo, a José, mandando que ele, Maria e o menino fossem primeiro para o Egito e depois procurassem refúgio em Nazaré. De acordo com a tradição, os seus pais foram Joaquim e Ana. O lugar que Maria ocupa na Bíblia é discreto: ela está totalmente em função de Cristo e não por si mesma. Contudo, os dados que as Sagradas Escrituras nos fornecem garantem que Maria era a virgem que gerou o Salvador Jesus Cristo.
Nossa Senhora é um Título dado pela Igreja Católica a Maria, mãe de Jesus Cristo. De acordo com a tradição católica, a Senhora concebeu sem pecado, tendo permanecido sempre virgem.
Em todos os países católicos registra-se grande devoção pela mãe de Jesus. No Brasil,, essa devoção, é expressa em grandes tradições como a de Nossa Senhora de Nazaré na região Norte, e a de Nossa Senhora de Aparecida, no Sudeste. Nossa Senhora Aparecida, quando da Revolução de 1930, foi proclamada nesse mesmo ano como Rainha e Padroeira do Brasil, na presença de autoridades eclesiásticas e do então presidente Getúlio Vargas. Para incentivar a sua devoção, na década de 1950 foi inaugurada a Rádio Aparecida, em 1999 foi instituída a Campanha dos Devotos e, no dia 8 de Setembro de 2005, inaugurou-se a TV Aparecida.
Assim como nas igrejas orientais, ortodoxas ou não, no catolicismo romano, Maria é venerada (culto de hiperdúlia) sob inúmeros epítetos que serão destacados a seguir.