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terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Entrevista - Natal 2017 - Rádio Universitária FM

Entrevista no Programa Trocando em Miúdos, Ponto de leitura, da Rádio Universitária FM - natal de 2017 - Apresentação: Ivone Gomes de Assis.

Para acessar, clicar na foto abaixo.



sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Um jeito menos complicado


dema


Preciso descobrir um jeito menos complicado
de fazer poema,
que me permita extravasar as mágoas
(não perdidas no tempo nem lavadas nas corridas águas),
descrever a tristeza e chorar a dor;
simultaneamente, espargir alegria
e, sem pecado,
com minha pena,
cantar a beleza, glorificar o amor
e produzir poesia.

Quero urgentemente
desprender-me dos grilhões que encarceram o estro
 e, simplesmente,
ao imaginário som de carrilhões, libertar minh’alma condoreira,
para levar, a cada coração,
em palavras regidas à batuta de um maestro,
a fascinação verdadeira
a que o belo conduz pela emoção.

Ah, se eu tivesse o primor dos grandes mestres,
e conhecesse a magia
de criar encantamento pelos versos,
possivelmente um fingidor mais que terrestre,
juro, eu tocaria
até o coração dos assassinos mais perversos.
Qual essência poderosa, bem sutil,
carcomeria a raiz da maldade planejada
para tornar menos sombrio
o horizonte cinza de quem já não espera nada.


http://www.demasilva.com.br/PINEDITOS/UM_JEITO_MENOS_COMPLICADO.html

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Bicho peçonhento


dema

Como é terrível o abraço da serpente,
qual torniquete a matar por asfixia
incautos animais, pegos de repente,
pois do perigo, ninguém lhes noticia.

Bicho ardiloso, demônio natural!
Não foi à toa que Eva, negligente,
fez Adão pecar, embora inocente,
parecendo, a Deus, ter escolhido o mal.

Sorrateira, malfazeja, venenosa!
Mordes o calcanhar, eis que perigosa.
Se o Diabo enxerga em ti certo glamour,
nós outros sentimos repulsa e pavor.

Longe de mim, língua comprida! Olhuda!
Em vez de no bico de um grande urubu,
quantas vezes te vi, magrela e pançuda,
digerindo bichos maiores que tu.

Maldito sejas, reptante peçonhento!
Quero – te a torcer, cabeça decepada,
e ver se, ao depois de à morte condenada,
cessas de causar temor ou sofrimento.

Pura  verdade, de ti, morro de medo,
do que não me avexo nem guardo segredo.
Se grande ou pequena, com ou sem veneno,
dou adeus ligeiro, sequer faço aceno. 


terça-feira, 28 de novembro de 2017

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Quem é pai de quem?


dema

E me ponho a matutar: foi deus que criou o homem ou foi o homem que criou deus?
Quem é pai de quem?
Nos anais da História, deuses, filhos de deuses, semideuses, anjos e demônios povoam a mente humana, fértil e crédula. Talvez isso seja fruto da sensação de dependência, de insegurança quanto ao próprio destino, da presença do mistério da existência num universo em transformação perene, de encontrar-se - ser astuto - inserido num universo inteligente. Têm o mesmo DNA. Não que a matéria pense, posto que em potência a contenha (- inteligência - ou se auto organiza de maneira engenhosa ou alguém com genialidade o faz) ou a reproduza em seu transformar-se. “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.” (Lavoisier)
O homem e o universo, por si sós, não se explicam. Quem sabe um ser poderoso, metafísico, seja a razão de tudo.
Melhor projetá-lo, sábio, quiçá eterno, para justificar o misterioso existir, ser causa da realidade que afronta o ser humano e do destino que a este se reserva.
O medo, a insegurança e a incerteza induzem à projeção das divindades. E são tantas, como tantos os credos.
E ainda que se imagine a divindade um ser perfeito, eterno, racionalmente não se encaixa no intelecto humano a admissão do existente não nascido. Perfeição e eternidade são dimensões, na praxe, imensuráveis ao intelecto humano, afeto ao temporal. Há que tornar-se objeto de fé, até porque crer é mais cômodo do que duvidar, é mais palatável do que sentir-se ao léu quanto ao presente e ao futuro.
E o questionamento inicial permanece: foi deus que criou o homem ou foi o homem que criou deus? Quem é pai de quem?

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Sob escombros


dema

Arandelas tremem nas paredes,
lustres balançam sobre nossas cabeças.
Tumulto. Gritos, derrubar de cadeiras.
Pessoas tropeçam e correm.
A morte chega por insistentes abalos.
O terror estampado nos olhos esbugalhados
potencializa a estridência dos berros.
O teto vem abaixo. Esmaga retardatários.
Dentre eles, eu.

Carros se chocam nas ruas,
postes de luz vêm ao chão,
gente eletrocutada.
A crosta, com fendas no ventre,
engole veículos, pontes e edifícios.
Imensurável a duração infindável dos segundos
de intermitentes abalos.
Quanta gente morta! Choro, gemidos, desespero...
e solidariedade.

Não me sei consciente ou não.
Longe no tempo, o mistério dos primeiros encontros:
coisas minúsculas assumem feições gigantescas.
Será que não gostou de mim?
Treme-se apenas por um desvio de olhar.
Frio na barriga, porque não me sorriu quando lhe sorri.
Hormônios de gênero se digladiam com fome e medo.
Talvez se fundam.
Almas se conturbam aos receios próprios do enigma,
pois que ainda estranhas.
Tudo é terremoto.

http://www.demasilva.com.br/PINEDITOS/SOB_ESCOMBROS.html

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Desperta, poeta!


dema

É passado um tempo em branco
e em breu.
Nada de ilusões, imagens e desejos
- névoa gelo –
- negro blue.
O mundo espera ansiosamente sua palavra
maléfica, patética, poética,
benéfica.
Teme o cogumelo atômico,
o estupro,
a degola,
a fome.
Onde o perfume da flor,
a luz do luar,
o som do violino,
o verde do mar?
­─ Acorda, poeta!
Solta o verbo,
a pomba da paz,
o sono tranquilo,
a noite de estrelas,
o azul e o mar!


sexta-feira, 20 de outubro de 2017

É no poema


dema

É no poema que rezo meu credo,
proclamo amor, incrimino maldade,
canto beleza, ternura, amizade,
enalteço paixão, grito teu medo.

É no poema, que eu brado meu ódio
ante qualquer tipo de covardia,
se só a bondade é digna de pódio,
o mal, sequer, existir, deveria.

É no poema que choro o destino
de quem jamais soube o que é ser feliz,
pois, declinado do plano divino,
seguira, na vida, o próprio nariz.

É no poema que a ti me declaro
uno minh’alma co’a que te tomei;
na profusão de prazer sem reparo,
visto meus versos com trajes de rei.

Ébrio, aspiro o perfume das flores,
invejo-te o néctar, qual colibri;
expilo fel sofredor dos amores,
se acaso me queres longe de ti.

Sorvo da dor que carregas no peito,
da solidão estendendo os teus dias,
da vil saudade a roubar-te o  direito
de um coração vertedor de alegrias.

É no poema que mato a saudade,
como também nele te denuncio.
É no poema que castro a maldade,
salvo o amor de morrer por um fio.

É no poema que sonho acordado,
faço da noite uma só fantasia;
busco tecê-lo sempre arrematado
co’a joia mais fina, a poesia.









EM DEMASILVA

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Devagar


dema

Tem-se, ora, disponível todo o tempo
para medir e acompanhar o próprio tempo.
Vê-se espaçar-se o tic do tac.
Sem pressão, a corda perde força
e o mundo gira mais devagar.
Cabem, assim, mais pensamentos e lembranças no minuto.
A nuvem desliza no espaço lentamente,
desforma-se e reforma-se,
um feitio novo por redesenho.
O colibri acelera o bater de asas e adeja no ar trêmulo de primavera.
O néctar mela o bico e a flor se dobra.
Grupo de incontáveis formigas céleres
desloca morosamente o enorme inseto pela trilha.
O cão esparramado sonha no piso frio da varanda.
Se passarem as horas da tarde alongada,
talvez chegue o amanhã.
Pena que sonolento também esteja o estro,
ou dezenas de poemas nasceriam.
É a paz de alma em calmaria,
da consciência indolor,
vazia de motivos de remorso.
É o tempo se dando tempo
no azáfama contemporâneo.
É a vida gota a gota
a perenizar efemeridade.

EM DEMASILVA

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Pedra flor


dema

Juntando pétala a pétala,
compôs-se, em haste, uma flor;
da paisagem, a mais bela,
pois ela era o amor.

Primara por longo tempo
em ser menina exemplar,
fonte de deslumbramento,
razão pra se a imitar.

Mas a rotina da vida
tomou dela o olor de outrora,
fez, d’harmonia perdida,
a indiferença de agora.

Viu-se a haste, então, dobrada;
pétalas murchas, sem cor;
e o ódio, da flor sonhada,
moldou simples pedra flor.



EM DEMASILVA

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Flash


dema

Vim à luz,
graça da sorte,
para lapidar meu fado com a vida
e, no retorno às trevas,
presentear a morte.
Meteorito incandescente em queda,
quase extinto.
No tempo, centelha
de um piscar de eternidade.


http://www.demasilva.com.br/PINEDITOS/flash.html

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Branco em cinza


dema

Lapido em branco o pensamento cinza.
As cores vivas fugiram para algum jardim.
O sorriso faz-se pálido-aniquilado
em lábios trincados pelo vento hostil.
Na face, pele enrugada e entorpecida
que a barba rala desacoberta.
Não se vê o meio entre o começo e o fim.
Foram se os dias de pensar futuro e apressar o passo,
aqueles em que, podendo ou não, “eu faço”.
Onde coragem de crer no além?
A carne retorna ao pó do planeta azul
nas plagas de  leste, oeste, norte e sul.
Tardes eternas, infindáveis noites.
Anos fugazes. Ô paradoxo!
A alma chora a desesperança.
Vida, fração presente do eterno alheio.
Vivas a Deus, morte ao efêmero!
Sina facínora, Ave!

em demasilva

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

sábado, 15 de julho de 2017

Com ou sem amor


dema

Pensava me encontrar, enfim, liberto
dessa paixão que sinto a descoberto,
como se o tempo jamais existira
e não fosse a vida mais que mentira.

O que esperar do amor não compartido,
desse vazio enorme sem sentido,
desse eterno querer estar contigo,
de padecer um perene castigo.

Ai, Deus que sempre ampara o sofredor,
se a causa do penar provém do amor,
ou se o culpado então for o  destino,
livra-me desta dor, meu desatino.

Por quanto tempo ainda este martírio,
será que até meu último suspiro,
amar distante seja meu calvário
pra ter-te apenas no imaginário?

Ao fim e ao cabo, eu não sei dizer
se viver é melhor se existe amor,
mesmo quando esse amor traga sofrer
ou se, por não o ter, morrer de dor.

sábado, 1 de julho de 2017

Rua de “nós-meninos”


dema

Rua do quartel, burburinho, bandeirolas, gente, bumbo e corneta. Olha a fanfarra!
Tá tará tá tá tá tá... Tá tará tá tá tá tá... tá tará... tá tará... tá tá tá tará...

Depois, na principal, o palhaço, em pernas de pau,
e a molecada, seus camaradas:
— Hoje tem marmelada? — Tem “sinsinhô”.
— Hoje tem goiabada? — Tem “sinsinhô”.
— Hoje tem espetáculo? — Tem “sinsinhô”...
Sou gato, escuto e pulo. Da janela na calçada, grudo na turma. Lá vou.
Rua das acácias, das palmeiras, da ladeira, das rameiras,
da casa da vovó, ai que dó (embora longe da minha),
de frente da de Manoela,  então, princesa, hoje rainha.
Cada qual com seu segredo, cabeludo de dar medo.

Laranjinha no bar da esquina da rua da escola,
ando logo que a pipa empina e a seguir tem bola.
Pirralha namoradeira bem no largo da matriz,
doido, “seu guarda” e chafariz.
Menino de rua? Que nada, rua de “nós-meninos”. Que mimo!

Agora, droga, tiro, polícia, bandido. Horror.
Se cheia de gente, apavora
de edil a senador, de alcaide a governador
e até Presidente pôs fora..

Maldita tela de computador e TV,
de rua não quero mais saber.
Coitada da rosa, o jeito é olhar pra lua,
o muro, ora, tão alto, não a deixa espiar a rua.




O poema, a poesia


dema


Radiante, manifesta-se minh’alma,
vestida da luz das manhãs de verão;
cores vivas, encanto e afável olência
que os versos fagueiros, de amor em essência,
grafados da pena que trazes na palma,
fazem desabrochar em meu coração.

É fato que, às vezes, percebe-se o blue
no tom das imagens, mais cinza que azul;
doutra feita, porém, o lilás de festa
evoca memórias da boa seresta.
E, se acentuado o matiz violeta,
ao certo é paixão à “romeu-julieta”.

Esplendor de lumes, nuances, olores,
música suave, prazer com sabores,
tragédia, tristeza, penumbra, sangria,
os traços marcantes de qualquer poema,
quando lapidado com gran maestria,
não são nada mais do que elos de algema
do engenho poético com a poesia.