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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

FORTUITO NATURAL




dema

 
Ter-se-lhe-á sido herdada tristeza constante.

Também recebeu por herança

eterna esperança

da morte,

o olhar vesgo na vida (como jamais se viu antes),

o ter de vivê-la obrigado,

já que presente

da sorte.

 

Não lhe pareceu fosse a vida divina dádiva.

Mui cedo desejou a morte

por consolação.

Melhor, quem sabe, lhe fosse

nem lhe verter lágrima,

dispensável à sua alma

qualquer oração.

 

Um dado da natureza,

assim se enxergava.

Não escolhera nascer

nem era dono da vida,

então, para que viver?

Por que por ela responder?

E se contristava.

 

Mal alcançara quarenta, se achara imortal.

Existir fazia-lhe mal.

_ Amar ou ser amado?

_ Certamente não.

(Impossível é amar

quem não tem coração.)

 

Descuido da natureza,

esse ser existiu.

Jamais conheceu beleza,

passou pela vida,

mas não viveu.

Se apareceu por acaso,

também por acaso,

desapareceu.

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