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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

CANTAROLANDO BOEMIA DE AMOR

DEMA

Minha Lia
Me embebeda todo dia;
Com o seu olhar-ternura
Dá-me um mundo de alegria.


Sou um boêmio de amor,
Um boêmio sem folia.
Foge logo a tristeza
Se estou junto de Lia.


E ela sabe que agora é minha musa,
Que preenche minha vida
Com seus beijos-poesia.
Sou o poeta de Lia...


Eu vivia muito só,
Lamentando meu viver.
Muita gente tinha dó,
Mas deixava-me sofrer.


Foi-se embora há muito tempo
A razão de meu lamento.
Despedi-me da saudade,
Voltou-me a felicidade.


Doravante,
Viverei na boemia,
Boemia de amor,
Do amor meigo de Lia.
E vou cantar
Uma nova melodia.
Não vou deixar
Ir embora minha Lia.

...........::::..................

QUEM MEXEU NO MEU QUEIJO

Por Afonso de Sousa Cavalcanti

Spencer Johnson. Quem mexeu no meu queijo? 21ed. São Paulo: Record, 2001.


Ele é autor ou co-autor de numerosos bestsellers que estiveram na lista do New York Times, incluindo o seu bestseller nº1 "Quem mexeu no meu queijo?".
Depois de graduar-se em psicologia pela Universidade do Sul da Califórnia, Dr. Johnson recebeu sua graduação da Faculdade Real na Irlanda, e completou as habilidades médicas na Mayo Clinic e na Faculdade de Medicina da Havard.
A história é uma metáfora a ser usada para refletir e tomar decisões quer faça referentes ao nosso emprego, a um negócio, ao dinheiro, às expectativas de mudanças de vida, à saúde, à liberdade, a um propósito qualquer.
Para o autor, a vida é um labirinto de passagens, pelas quais nós devemos procurar nosso caminho, perdidos e confusos, de vez em quando presos em beco sem saída. Porém, se tivermos fé, uma porta sempre será aberta para nós, não talvez aquela sobre a qual nós mesmos nunca pensamos, mas aquela que definitivamente se revelará boa para nós. A história é uma proposta sem pretensão que tem no queijo a idéia principal. Diariamente o procuramos, porque acreditamos que ele nos fará felizes. Se o conseguirmos corremos cada vez mais em busca dele, mas se ele nos for tirado, levamos um susto. O labirinto é o lugar onde passamos nossa vida à procura daquilo que queremos. O queijo Pode ser a Universidade, outro colégio ou empresa onde trabalhamos, o clube que freqüentamos, e até os relacionamentos interpessoais que dividimos. Se alguém mexe em nosso queijo, levamos um grande susto porque não estamos acostumados com mudanças. Elas são recebidas por nós com pessimismo e se elas acontecem, ficamos bravos e até destruímos relacionamentos e amizades antigas.
O arrependimento pode ser tardio e o estrago já foi feito.
Quando encaramos as mudanças como desafio, descobriremos que a frustração anterior foi sem razão de ser. As mudanças inesperadas podem ser estressantes, a menos que tenhamos um modo de encará-las, que nos ajude a compreendê-las.
A obra Quem mexeu no meu queijo? Afirma que quem consegue se adaptar,
será recompensado.

A História é assim sintetizada:

Havia 4 personagens que enfrentavam o desafio do labirinto à procura de queijo que os fizesse felizes e ao mesmo tempo os alimentasse para que pudessem sobreviver.
Dois eram ratos e dois eram homens minúsculos, tão pequenos quanto os ratos, mas eram pessoas e agiam como elas.
Os homens: Hem e Haw. Os Ratos: Sniff e Scurry. Ambos possuíam algo em comum:
todos as manhãs vestiam roupas de correr e tênis, saíam de suas casas e corriam pelo labirinto à procura dos queijos favoritos. O labirinto era um emaranhado de corredores e divisões e com muita comida. Nem tudo era maravilhoso, pois havia cantos escuros e becos sem saída. Os corredores tornavam-se lugares fáceis para se perder. Neste labirinto havia segredos que possibilitavam aos quatro viventes ter uma vida melhor.
Os ratos usavam o método do acerto e do erro, para encontrar o queijo. Corriam pelo corredor, e se estivesse vazio, viravam-se e corriam por outro. Hem e Haw, usavam sua habilidade de pensar e aprender com experiências. Contavam com seus cérebros para desenvolver métodos sofisticados de encontrar Queijo. As crenças e emoções, quase sempre os atrapalhavam em poder ver e entender bem as coisas.
Sniff, Scurry, Hem e Haw – descobriram, por seus próprios meios, o que estavam procurando. Todos chegaram no posto c. Posto do comodismo. Diariamente ratos e homenzinhos vestiam-se e rumavam ao Posto C. Estabeleceram uma rotina, festejando sempre o queijo. Os homenzinhos acreditavam que o Queijo estaria sempre à disposição, levantavam mais tarde e não tinham pressa para chegar ao seu destino, afinal, o queijo estava lá. Viviam no comodismo. Diziam sempre: Isso é ótimo, há queijo suficiente para nos alimentar para sempre. Hem e Haw diziam que o Queijo era bom e que eles eram seus merecedores. A vida tornou-se rotina: comer, dormir, confiantes na riqueza. Com o tempo a confiança virou arrogância e eles sentiram tão tranqüilos que nem perceberam o que estava acontecendo.

Os ratos não agiam do mesmo modo, pois chegavam, farejam, arranhavam o queijo e corriam inspecioná-lo, para saber se havia mudanças desde o dia anterior. Só então se sentavam para comer. Eles percebiam que o estoque de queijo estava diminuindo, até que num determinado momento, ao chegarem ao Posto C, o queijo havia desaparecido. Não ficaram parados, mas sim saíram à procura de um novo queijo.

Hem e Haw ficaram irritados com a falta de queijo e reclamaram muito dizendo que aquilo era uma injustiça, pois eles mereciam um queijo bom. Para alguns encontrar Queijo é ter coisas materiais. Para outros é ter boa saúde, ou uma sensação de bem-estar espiritual. Todos aspiram em ter um queijo. Para os dois homenzinhos, significava sentir-se seguro, próspero, capaz de manter uma família feliz. Haw teve uma crise de depressão e pensava: o que aconteceria amanhã? Fizera planos para o futuro baseado naquele Queijo... Os dois homenzinhos foram prepotentes em dizer que os ratos eram apenas ratos e que eles sim eram merecedores de um bom queijo. E não estava na mente daqueles homens a condição de mudar, pois pensavam que fossem homens especiais. Ficaram bom tempo sem decidir o que fazer, enquanto os ratos já estavam bem longe... Sniff e Scurry vasculhavam os corredores do labirinto. Durante algum tempo nada encontraram, até que finalmente no Posto N, chiaram de alegria. Depararam com o maior estoque de queijo que haviam visto.

Hem e Haw ainda permaneceram no Posto C, culpavam-se mutuamente pelo que acontecera. Haw sugeriu sair pelo labirinto. Negavam para si o que estava acontecendo e continuavam naquela rotina: iam para o Posto C e voltavam frustrados para sua casa. Quase não tinham o que comer e seus lares antes tão acolhedores e passaram a ser vistos como as coisas mais feias da vida.

Haw não desistiu de lutar e por várias vezes entrou para correr no labirinto. Encontrou pedaços de queijo. Voltou para o amigo e trouxe para ele alguns pedaços de queijo. Aproveitou e escreveu nas paredes frases interessantes que externavam esperanças e preocupação com o amigo. São frases belas como esta: “Quando você muda suas crenças, pode mudar o que faz.” Decidiu que ficaria mais alerta daí em diante. Esperaria as mudanças, mas atento para isso. Acreditaria nos seus instintos básicos para sentir quando a mudança estava prestes a ocorrer e ficaria preparado para se adaptar a ela. que pôde. Ao entrar, notou que alguém já havia passado por ali e comido o queijo. “Por que demorei tanto?”

Haw percorreu o labirinto e alcançou o posto n. Lá encontrou uma montanha enorme de queijo. Viu ali os ratinhos de barrigas cheias. Ergueu um pedaço de queijo e propôs aos amigos: Viva a mudança! Sniff e Scurry eram outro exemplo. Com a simplicidade de suas vidas, não analisavam ou complicavam as coisas. Bastou faltar queijo que eles foram atrás de outro. Não se ligaram demasiadamente ao passado.

Haw usou de seu cérebro para refletir sobre estes ensinamentos:
Ter consciência da necessidade de simplificar a vida, ser flexível e se mover rapidamente.
Deixar de lado as crenças assustadoras.
Observar as pequenas mudanças e se preparar para as maiores.
Adaptar-se mais rápido àquilo que está acontecendo.
Não dizer que não gosta daquilo que não conhece.
Usar o tempo como aliado.
Admitir que o maior obstáculo à mudança está dentro de cada um, e que nada melhora enquanto a pessoa não muda.
Percebeu que sempre há UM NOVO QUEIJO em algum lugar e que ele é a recompensa quando se vence o medo, sabendo que um pouco de medo pode evitar o risco real.
Haw ouviu o que achou ser um som de passos. Percebeu que alguém estava chegando, Poderia se Hem?
Fez uma pequena oração e esperou. Talvez, finalmente, seu amigo tivesse sido capaz de...
Quem leu atentamente a história pode perguntar se isto seria o fim ou um novo começo?
....

sábado, 19 de setembro de 2009

CONGONHAS (Diversos)

Por Benedito Franco

058 - A Guerra

Em Congonhas, MG, os estudantes passávamos as férias numa Casa de Campo, aos pés da Serra de Ouro Branco, um paredão colossal de pedra - emoldura um dos lados da cidade de Ouro Branco.
Dois padres acompanhavam-nos: o Padre Diretor ou o Padre Sócio, tipo vice-diretor, responsável direto pelos internos, e um professor - companhia para o padre e para nós, alunos. O professor que mais gostávamos que nos acompanhasse, um holandês simpaticíssimo, magro e alto, muito branco, com um bom português. Regente dos coros, o diretor do teatro - além de dirigir as peças, mostrava-se um grande artista, pintava os cenários - ajudava-o. Meu professor de desenho e pintura. Chamava-me de O Egípcio, por eu gostar de desenhar e pintar telas grandes. Era o Padre Anselmo.
Praticávamos esportes os mais diversos. Futebol, vôlei e basquete, os que mais apreciava. Nas piscinas nadávamos quase o dia inteiro, mas nunca fui grande amante de natação e muito menos exímio nadador - muito frio por lá.

Passeios

Passeávamos pelos matos da redondeza à procura de gabiroba e cabacinha, assim como de outras frutas do mato - nas férias de fim de ano essas frutas eram normais e fartas. Arrancávamos o pacheco (ou jucatupé, ou ainda jacatupé, ou até mandioca doce, como o chamam alguns); raiz de um pequeno arbusto bem diferente do pé de mandioca, mas de raiz bem parecida - muito apreciada por nós. Pegavam-se os animais encontrados - cobras, rãs ( jias), aranhas, jaratataca, tatus etc.. Os venenosos enviados para o Butantã em São Paulo. Alguns - rãs, tiús, gambás e tatus - consumidos e outros embalsamados para o pequeno museu. Nem todo aluno poderia pegar um animal encontrado - só alguns autorizados, eu entre eles.
Ao entardecer,  acionava-se um pequeno motor a gasolina, funcionando com seu barulho característico, até o padre dar o último sinal com a campainha, para dormirmos; ainda hoje me vem à memória aquele bater dos pistões do pequeno motor.
Após o jantar, luz fraca, e só na casa. A varanda e o refeitório serviam de sala de recreio, onde jogávamos baralho e contávamos nossas histórias e estórias diárias e as saudosas de nossas casas e famílias, contávamos nossas potocas ( conversas fiadas). Os que comeram farinha, ou iriam comer, era um assunto comentado à surdina (comer farinha é o mesmo que sair ou ser mandado embora do seminário). Praticávamos alguns jogos, como o quebra-cabeça, a dama e o xadrez - havia até mesmo um bilhar – com bolas de marfim.
Rodeávamos o professor, misto de contador de histórias e companheiro naquela solidão. No lusco-fusco das lâmpadas e na escuridão total lá fora, quebrada apenas pelas luzes dos vagalumes e sonorizada pelos cricris de grilos vários e os incontáveis e variados coaxares de sapos e rãs – com sua orquestra harmônica quebravam a monotonia.
Contato com a civilização uma ou duas vezes por semana, quando por lá aparecia um carro.

As histórias

Padre Anselmo descrevia-nos os anos passados no seminário na Holanda, situado à beira de uma importante rodovia, justo no período da Segunda Guerra Mundial. Meninos e jovens, arrepiávamos os cabelos e arregalávamos os olhos diante da real e dramática descrição de dias e anos daquela guerra terrível - ouvíamos ávidos, sentindo calafrios.
Os que declaram, administram e comandam as guerras ficam em confortáveis gabinetes em seus países - no final, os heróis. Na verdade, os heróis ao longe: o povo morrendo nos combates ou em suas conseqüências. A história, uma fábula, ou, um relato tendencioso, sobre a qual poucos discordam.
O jovem seminarista Anselmo, magérrimo, depois de anos passando fome e sede, foi comunicado que a mãe estava prestes a falecer, no norte da Holanda. Desejava visitar a mãe. Os superiores arranjaram-lhe um passaporte - uma licença especial para viajar até onde se encontrava a mãe. Muito magro, magreza acentuada por ser muito alto. Imaginem-no durante a guerra, quando nem sempre tinha o que comer! Pois bem, ao chegar ao norte, todo mundo, admirado, olhava-o. Perguntou a um parente o porquê de tamanho assombro. Recebeu a explicação:- Você está muito gordo para nossos padrões atuais: somos um povo faminto e esquelético.
As árvores sem folhas e casca, arrancaram-se até mesmo capim e grama - serviram de alimento para o povo. Ratos, baratas, e todo e quaisquer insetos, disputados e comidos. Uma paisagem dantesca - desoladora e aterrorizadora... um deserto de terra úmida, esqueletos de árvores e de gente!

Os ovos

Um irmão do Padre Anselmo, perseguido pelos alemães, correu daqui, correu dali, entrou em um galpão, cheio de máquinas e alimentos - um antigo armazém. Encontrou um barril. Abriu-o. Pulou dentro e, imediatamente, puxou a tampa para encobri-lo... O barril, um depósito de ovos, com ovos pela metade. Só que... antigos e totalmente podres!
Imaginem todos aqueles ovos podres e quebrados por ele... e ele lá dentro sem poder abrir o barril. Os perseguidores, sentindo o odor, passaram rápido pelo local.
Preferiu o terrível cheiro, a ser morto pelos alemães.
Nunca tantos ovos lhe fizeram tão bem!... E podres!


 

A baioneta

O mesmo irmão do Padre Anselmo foi ao campo de batalha. Ferido, caiu numa poça de sangue, ao lado de um soldado que acabara de falecer, de quem ainda escorria sangue.
Chegou um soldado alemão, costume durante a guerra, para o tiro de misericórdia - um tiro em cada um dos mais feridos para que não sofressem muito, pois o socorro pouco e mal. O soldado olhava para o ferido, uma cutucada com a ponta da baioneta, e um bom ferimento. Se mexesse, sinal de vivo - tomava um tiro na cabeça. Se inerte, economizava-se o tiro.
Baioneta é uma arma branca que se adapta à boca de um fuzil ou mosquetão.
O irmão ferido, mas nem tanto, quando percebeu a aproximação do soldado alemão, fez-se de morto. A baioneta enfiada em um dos joelhos, quase lhe arranca a rótula. Retesou os músculos, controlou o gemido e o grito de dor - dor é sentida quando se tem a sensação de dor - não a tendo, ou se esforçando para não tê-la... O alemão, na pressa de acabar logo o serviço, no campo de batalha muitos feridos, passou para outro, pensando que aquele cliente realmente morrera.
Quem é o mocinho? Quem é o bandido?
Interessante que os alemães e, posteriormente os americanos, respeitavam muito o seminário e os seminaristas. De quando em vez os alemães faziam buscas totais pelo colégio, onde, muitas vezes, era possível proteger alguém que se escondia, principalmente judeus.
Quando os americanos entraram na Holanda avisaram aos holandeses para se abster de se manifestar, pois os inimigos fariam o mesmo, disfarçando-se e, com isso, poderiam atacá-los.
Em frente ao seminário havia um senhor, fazendeiro, muito amigo dos seminaristas. Estes, do interior do prédio, olhavam pelos vidros das janelas, observando os americanos e os tanques passarem. Apareceu o fazendeiro na varanda superior da casa e começou a pular com os braços abertos, externando toda a alegria pela presença dos americanos, antevendo o fim próximo da guerra. Um tanque americano virou-se em sua direção, disparando sobre ele e a linda casa um tremendo tiro de canhão - ele sumiu no enorme buraco que a bala fez na casa, quase a destruindo por completo.
Tiveram pouca coisa para enterrar do pobre e inocente fazendeiro.
Na guerra... quem é o mocinho e quem é o bandido?... O povo é o sofredor.
Isso é a guerra, tão bem narrada e dramatizada pelo inesquecível Padre Anselmo...
 -.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.--.-.-.-.-.-.-.-.-.---.--..-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

TEMPO (Em verso)

"...tempo não é algo objetivo. Não é uma substância, nem um acidente, nem uma relação, mas uma condição subjetiva, necessariamente devida à naturesa da mente humana." KANT

DEMA

Ficção da mente humana
pra medir o devenir,
se da matéria e do espírito
nada há mais que o existir.

Cruciante à criatura,
mormente se vivente,
que ao nascer-morrer atada
"de onde? pra onde? qual legado?"
tem a si própria indagado.

Enigma o Ser Incriado,
o Qual nunca foi, nem será;
Que, em ato presente ad aeternum,
faz o que ninguém jamais fará:
ao universo Ele cria
e impulsiona o devir;
já no humano põe ânsia
de mensurar o existir.

Temporis dominus est
e dele não Se faz presa,
tem o ontem, o amanhã
e comanda a natureza
- poder ingente
a tornar demente
quem se quer intérprete,
mas nunca o crente - .

Inda que destinatários,
do tempo nem domínio temos.
Contam-se por calendários
anos, séculos e milênios,
que, comparados à eternidade,
sequer figuram realidade.

Pessoas, emoções e fatos
comumente são lembrados,
se no curso da existência
encontrarem-se espalhados,
na minha, na sua, na nossa,
na dos povos de evidência.

De quem fez escrita é a história;
da matéria dinâmica, as eras.
Ao Criador resta a glória
da Sua existência etérea.
Mas ao humano prescreve
que uma história Lhe faça
de verdade, sem trapaça:
inteligente, patética,
divertida, enfadosa, 
prosaica, poética,
perversa, bondosa,
de ricos e pobres,
plebeus e nobres,
amor, ódio, crime, guerra,
revolta e paz sobre a terra.

E se perdurar no mundo,
sabe-se lá por que tanto,
que procure ser feliz,
só Ele sabe até quando...

 -.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.

TEMPO (Em prosa)

DEMA

Tempo é ficção,
medidor do devenir.
Notifica mudança,
causa admiração ou desespero.

A bem ver, há o existir,
quer da matéria, quer do espírito.
Pior, tempo é fundamental para a criatura,
mormente para o vivente,
encarcerado entre o nascer e o morrer.
Gera questões "de onde vim?",
"para onde vou?", "que vou legar?"
Incita o espírito a marcar presença.
Misteriza o criador não criado
- o ser para sempre -
que nunca foi e nem será,
que tudo vê e faz num ato único.
Cria o universo, impulsiona a mudança
e, no humano, incute a necessidade de medir o existir.
O senhor do tempo, nele, não se insere.
Vê do alto e por debaixo a razão do dia e da noite,
do ontem e do amanhã.
Que poder ingente a nos fazer dementes,
crentes, jamais intérpretes.
Embora para nós, o tempo não nos pertence.
Contam-se dias, horas, minutos, segundos e seus milésimos.
Somam-se semanas, meses, anos, séculos e milênios
que nenhuma relação guardam com a eternidade.
Lembram-se fatos, pessoas, emoções,
encaixadas que se acham no curso da existência,
minha, sua, nossa, dos grupos sociais.
Humanos letrados fazem história,
a matéria dinâmica, eras.
Eis que o ser criado, nisto, destoa do divino.
Quem nunca foi e nem será não tem história própria.
Quiçá por isso "cria" e, criando, determina ao humano
que lhe faça história: patética, poética, enfadonha, divertida, perversa;
com amor, ódio, crimes e guerras; dominantes, dominados, revoltas e paz.
Com o tempo e no tempo o existir perdura e se modifica,
sabe-se lá por quanto tempo...

...

domingo, 13 de setembro de 2009

EFEMERIDADE

DEMA
Quão bom seria parasse o tempo,
Durasse a vida uma eternidade,
Não existisse o sofrimento
No ser que pensa a efemeridade.

“Não ser dono do próprio negócio,
Ver no horizonte o chegar esperado,
Tremer entranhas com o fim tão próximo,
Não ter a certeza de que há outro lado.”

Ânsia constante do ser criatura
De querer para si imortalidade,
Se muito intensa, conduz à loucura
Ou encurta prazo com infelicidade.

Se razoável almejar-se pra sempre,
Há que inerente a perpetuidade
Na natureza desse vivente
À semelhança da Divindade.

Se d’outro lado encontrar-se o nada,
Melhor seria não ter vivido,
Pois que à vida falta sentido
Se não projetada à perenidade.

sábado, 12 de setembro de 2009

CORAÇÃO VAZIO

DEMA


Não quero solidão,
Mas detesto o social.
Nada superficial,
Nunca mais paixão.

Nem sonhos felizes,
Sim os macabros,
Sem deslize,
Sem vocábulo.

Quero à noite inteira
E na manhã faceira
Pensar a fundo
Em mim, no mundo.

Quero o Deus justo,
Quero o Deus verdade,
Quero o Deus augusto,
Não o deus covarde.

Quero estar comigo,
Mas quero amigo.
Quero Deus em mim
E ficar assim.

Quero-te em lágrimas
A lavar a mágoa
De minh’alma
Maculada.

Quero-a limpa,
Purificada,
Pra, quem sabe,
Deus fazer sua morada

Ou então dela fazer,
Caso eu merecer,
Um lugar bonito
Pr’outro amor infinito.

VOCÊ

DEMA

Seus olhos contam-me o que a boca não tem coragem de dizer.
O peito bate forte se me aproximo de você.
Que me ama, eu sei.
Que tem medo,
Já sabia,
De que amo outro alguém.
Que prefira esperar um pouco mais,
Concordo.
Terá prova de que sou só,
Somente só prá você.
Que de longe sorri com esperança,
Percebi.
Que foge sorrateira quando chego,
Não é de hoje que vi.
Que gosto de você,
Ouvi seus olhos dizerem que não sabe.
Pensei haver alguém mais em sua vida.
Não! Foi o que seus olhos me disseram.
Pelas janelinhas da alma
Vi seu coração.
Pena é que só me vê de longe,
Pois, pertinho, poderia perceber
Que sua presença me abala
Desde o primeiro deslumbrar dos olhos
Com você.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

PEREGRINO

DEMA

Eis que faceiro ele vem
Feliz, infantil até,
Louco da aventura de amar


Lenta... compassada...
Velozmente trilha o amor.
José trilhou o amor,
Com ele o tempo,
Neste a esperança.
José trilhou o amor
No tempo e na esperança.


Numa aventura ele cai...
Trilha a queda, a humilhação.
José luta em desespero e vence,
Mas não convence.
José trilhou a queda,
A humilhação.


De repente,
José trilha ausência.
Desespera-se.
Trilha amargura,
Nela a dor, a solidão.
José trilhou ausência,
Dor e solidão.


Nas encruzilhadas da ausência
José trilhou a dúvida
E de si mesmo a fuga.
Trilhou novas aventuras.
José trilhou ausência,
Nela a dúvida, a fuga
E novas aventuras.


Lá longe, pela trilha ele vai
Rumo ao meio dia,
Sumindo com seu amor lhe consumindo.
José trilhou amor, felicidade.
José trilhou ausência
Depois da esperança.
José trilhou a dor,
Trilhou a fuga.
Ao longe ele se vai...


José trilha amor...
Infeliz...
Vazio...
E
...só...

A LÓGICA E O POEMA

Afonso de Sousa Cavalcanti


Aquela pedra da entrada da fazenda,
há muito tempo defendeu meu amigo,
isto ocorreu em dado dia de contenda,
quando estranha criatura interferiu comigo.

Um forte balaço de carabina,
de longe muitos ouviram o estampido,
Eu não sabia do acontecido
que Gabriel se apaixonara por tal menina.

Cheguei há tempo e pus fim a tal engano,
caso contrário, Gabriel sofreria o infortúnio
na estação da primavera e à luz de plenilúneo.
na mira da ira do atirador insano.

Sofro até hoje, pois perdi a lógica de criar versos,
pois gastei com eles quase todo o meu latim.

Quem passa pela fazenda Pedra Branca
pode conferir a bala na pedra empolada
e se visitar a casa grande daquela instância
Verá a felicidade de Gabriel e de sua amada.

Fui testemunho da vida e do apaziguamento
e por isso eles sempre dizem bem de mim.

sábado, 5 de setembro de 2009

CONGONHAS - Sô Leandro - Qui bene cantat, bis ora! - O latinorum da missa!

Por Benedito Franco


126 – Sô Leandro


À noite, na casa do Sô Leandro, tinha eu as primeiras aulas e noções de música – na rua da Serraria, Cel. Fabriciano. Adorava escutar e seguir a banda do Sô Leandro, talvez por eu ser neto do Sô Pedro Araujo, tocador de tuba. Vovô Pedro formava um conjunto perfeito com a tuba: os dois parrudos e do mesmo tamanho!
No Seminário, em Congonhas, quando entrei para o primeiro ano - fiz antes o admissão - pedi para entrar nas aulas de piano ou harmônio e não consegui. Em capas de cadernos desenhei um teclado; colocava-o em cima da carteira e tocava, ou melhor, dedilhava minhas supostas músicas. Padre Lima, que me vetara para aprender piano ou harmônio, vendo aquele piano em cima de minha carteira, compadeceu-se de mim, encaixou-me numa aula de harmônio, tendo como meu primeiro professor o Padre Penido. Dom Lara e o Padre Henrique posteriormente foram também meus professores.
Tomava parte no coro e na Schola Cantorum, uma turma dos doze melhores cantores especializada em canto gregoriano – Pe Anselmo e Pe Borges os regentes.
Na banda de música, a furiosa, tocava saxofone, em mi bemol – aquele reto - mas gostava de experimentar todos os seus instrumentos ou regê-la de quando em vez.
Em casa tenho um piano que foi do Seminário, que os Padres Redentoristas deram para a Celma, minha irmã, e ela passou para mim. Esse piano, francês de 1932, tem cepo de madeira, um som suave e doce – tipo do que Beethoven aperfeiçoou – pode ser desmontado em segundos – pena que desafina no tempo de chuva – a madeira incha e as cordas bambeiam.


099 - Qui bene cantat, bis ora!


Quando tinha uns sete anos, Padre Deolindo chamou-me para ser coroinha e ensinou-me as respostas da missa - tudo em latim.
Eu papagaiava meu latinorum, sem mesmo entender que havia o latim ou outro idioma. Graças a Deus que o Concílio Vaticano Segundo (1962-1965) substituiu o latim pelos idiomas locais!
Indo para o Seminário de Congonhas, nos sermões ouvia duas frases constantes e marcantes: uma era esta de Santo Agostinho (354-430 aD), pois logo fui ser cantor no coro orfeônico: Qui bene cantat, bis ora - Quem canta bem reza duas vezes.
Na leitura do latim, a consoante final de uma palavra se liga à vogal inicial, se a houver, da palavra seguinte. Ouvia a frase de Santo Agostinho... e aquele bisora (bis ora) não me saía da cabeça. Como o Padre não traduzia, quase todos, eu não, entendiam - ficava eu grilado e procurando saber o que tinha a ver cantar com besouros! Pelo menos se fosse grilo!...
A outra era a frase de Santo Afonso Maria de Ligório, fundador da Congregação Redentorista - um dos sábios Doutores da Igreja, cujos livros já tiveram mais de um milhão de edições: Quem reza se salva, quem não reza se condena.
Numa das visitas que mamãe me fez, levou-me um belo livro, Meditações, escrito por Santo Afonso. Nesse livro, o inferno é descrito e pintado com cores tão vivas, dignas do Dante, que eu até tremia e me arrepiava quando lia algumas dessas meditações – com meus pecadinhos juvenis, chegava a sentir um pouco o calor do fogo do inferno.


101 – O latinorum da missa!


O Concílio Vaticano Segundo (1962-1965) substituiu o latim pelos idiomas locais na liturgia - acabando com o latinorum das missas e das liturgias da Igreja. Aliás, obrigou-se o Padre a celebrar a missa em sua língua pátria. Hoje, o Papa Bento XVI determinou que é permitido rezar missa em latim – eu gostaria de assistir a uma dessas!
E não era só a missa em latim, com o Padre dando as costas para o público, que o fiel deveria suportar: havia também o latim do batizado, da extrema unção ou da encomendação fúnebre, da crisma e de tudo mais da igreja.
Para a gente comungar, deveria ser em jejum absoluto – já viu que missa à noite não havia, só até ao meio-dia! E não se podia tocar na hóstia e muito menos tomar o vinho, como hoje acontece muitas vezes.
E ainda diziam pra gente que as rezas em latim, só de ouvi-las, valiam mais que as rezadas em português! Dá pra entender?... Nem a ordem e muito menos o latinorum!
No Seminário eu falava para os padres que preferia rezar em português.

...

MOMENTO

DEMA
Eu vinha triste, cabisbaixo,
contando as pedras pela escura rua.
De repente,
percebi na noite densa:
"a esperança me sorria".
Melancolia
num sorriso de tristeza,
pensava...
no amor que não cresceu...
Um vagalume iluminou a minha trilha e
descobri
que a noite ria por me ver.
Por detrás daquele riso de escárnio,
vislumbrou-me o olhar da esperança.
Foi por isso que,
num ápice de otimismo,
achei-me tolo
querendo quem não me quis.
Fui eu quem disse:
Não, basta de tolice!
Mas era ela muito bela e boa atriz.
Bye, bye, noite!
Bye, bye, bela atriz!!!

VIVER POR VIVER

DEMA
Viver apenas por viver
Com os olhos cheios d’água
E com mágoas
Coração sempre a chorar.



Teu sorriso é de pedra.
Nem eternidade quebra
Teus anéis de solidão.


Tenho pena
De uma vida como a tua,
Sem poema,
Sem amor.



Os teus sonhos
Não traduzem a verdade,
Fogem da realidade,
Te convidam a sofrer.
Viver apenas por viver...


Já não tens a beleza que cativa
E a meiguice que incentiva
Alguém pra te amar.



Vives da saudade.
Teu egoísmo profundo,
Longe da felicidade,
Faz-te a vítima do mundo.



Tenho pena
De uma vida como a tua,
Sem poema,
Sem amor.


Viver apenas por viver,
Com os olhos cheios d’água
E com mágoas
Coração sempre a chorar.

 

COMENTÁRIOS

DEMA

Quando a poesia não está no POEMA mas no COMENTÁRIO, é justo que se invertam as ordens: ao segundo LOUROS e ao primeiro PENA.

VEJAM-SE os comentários de LORA em algumas das postagens do blog:



"Onde andará o poeta sem o poema,
Onde andará a prosa sem o verso,
E o enredo sem o tema?
A vida é um universo, de alguma forma nos preenche, seja na dor ou na euforia, é motivo de ser celebrada, o existir precisa ser lembrado. E ninguém melhor do que o poeta para dar esse significado"

(em O POETA, O POEMA)



"Esperança, aquela sempre nos alcança.
É presente, inerente, como a vida, que nos surpreende, atrevida!
A nos resgatar, mesmo quando não queremos ser salvos, inconsequentes que somos, ingênuos até.
Quando nos julgamos sem fé..."

 (em RENASCER)



"Como posso considerar a noite como antítese do dia, ou a morte como oposta à vida, se ao que parece fazem apenas uma continuidade entre o que se vê e ao que se desconhece. Seria tudo aquilo que meus olhos escondem de mim? E se meus olhos estiverem me ocultando a vida na grande ilusão que seja a morte, ou ainda, fechando-se para a noite, onde muito do dia acontece??!!"

(em COMO A NOITE)

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Vivas e gritos de liberdade.

Afonso de Sousa Cavalcanti

Com tamanhas qualidades e quantidades
balança na praça central da cidade
a bandeira do Brasil.


É mais um sete de setembro
com vivas e gritos de liberdade
na sombra da bandeira do Brasil.


Bandeira, estandarte dos patriotas,
corta o vento e empurra os males
que ameaçam os herdeiros de meu país.

                                  ...

LIA

DEMA



Na noite mansa eu me revolto.
Te chamo, imploro, grito:
Vem!


Ah!
Me enlevo quando te elevo
Por sobre as ondas do Mar de Sá.
                                        (lembro)


De mansinho beijo teus cabelos
De anéis molhados, dourados
À luz do sol.
                                         (quero)


Se te assustas, eu me quedo
A segurar-te firme em meus braços fortes.
Teu olhar sereno mui profundo sugo
E a teus lábios róseos eu me entrego.
                                                       (faço)


A noite desce,
Quase adormeço.
Te aconchego num abraço longo,
Te arranco o medo d’ “o que será?”
E acalentas o meu dormir.
                                       (acontece)


Como eu a ti sobre as ondas,
Em sonhos me embalas, Lia.
                                       (confesso)


Meiga, terna, pura, bela!
Lia velas!
Lia minha!
Lia, ninas meu amanhecer.
                                        (adoro)


Na manhã calma eu me consolo,
Te amo, peço, suplico:
Fica!