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terça-feira, 19 de maio de 2015

Mesoamericano

dema

Rebento da terra yucateca
brotada do fundo do mar,
com o reino ao lado do asteca,
nos planos rincões intramar.

Devoto de Kukulcán,
no solstício e no equinócio,
do Castillo de Yucatán,
vejo-a descer ao Cenote.

Reverencio Itzamná,
e a deusa lua, Itzchel,
zimbro das nuvens, do céu,
frescor de cada manhã.

Vendo o firmamento, aprendi
um jeito de medir o tempo;
e escrevo inclusive nas pedras
de todo e qualquer monumento.

Conheço muito a matemática,
tanto quanto a arquitetura,
como astrônomo, tenho prática,
sou amante, sim, da cultura.

Meus trajes se fazem de prata
e rajas compridas de ouro,
contudo, as semillas intactas
de cacau, o maior tesouro.

Açulo o jaguar, bom parceiro,
pra, junto co’águia, comer,
sem dó, o coração, por inteiro,
de quem condenado a morrer.

Uso sempre o elmo dourado
estando em lutas de conquista;
o império restou alargado
seu termo só do sol se avista.

Um dia, porém, divisei,
gigantescas naves no “atraque”,
com homens e armas de El Rey,
irrompendo com enorme alarde.

Não se foram tão bem de início,
inda assim, dizimaram a gente,
se não com guerreiros de ofício,
por vírus daqui diferentes.

Meu povo morrera de gripe,
como doutras doenças mais;
sem anticorpos, não existe
combate a moléstias fatais.

Queimaram, completo, o acervo
cultural de meus ancestrais.
Hoje, inconformado, me atrevo
a julgá-los como animais.

Quem remanesce, forte, canta
os feitos de nosso passado
e estas ruinas que encantam
e lembram feliz Eldorado.

Sou guerreiro um tanto valente,
sou fidalgo e simples humano,
primor de arquiteto e manente,
sou maya,  também mexicano.

Mesclado, por pouco, latino,
em suma, mesoamericano.





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