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segunda-feira, 28 de abril de 2014

Cambada

dema

Menino, queria ser grande,
livre, dono de mim,
escolher o que comer,
não ter hora pra chegar,
dormir, acordar;
casa própria,
namorar até...

Sonhos infantis inconsequentes,
natimortos vários na vida corrida.
Ah, o sofrimento, a tristeza,
a alegria, o amor,
o desamor, a dor.
Cadê o maná vindo do céu?
Estudo, trabalho,
sucesso, casório,  a perda, o regresso...
o filho (que maldição!), droga, perdição.
Meu Deus, que vida cão!
Nada de graça, as contas em massa,
tributos carcomendo a carcaça.

Quisera de novo ser menino, só menino,
apenas viver e sonhar;
brincar na enxurrada,
jogar bola na rua,
skate na calçada.
Estudar? Palhaçada,
depois, dá-se uma colada,
que a tia é burra  (oh coitada!).
Inda agora, que tudo é marmelada,
calculadora  (adeus, tabuada!),
ninguém toma bomba mesmo,
forma-se de fornada...
Quando não, é vídeogame,
tablet, notebook,
jogos, filmes, minas beijadas,
até rolezinho na parada.
Ser adulto, pra quê?
Que nada!!!
Deus me livre,
que o bom mesmo
é ser cambada.

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domingo, 20 de abril de 2014

Transcendental

dema

Fixa-se o olhar transcendental no etéreo espaço
à procura do sublime, do imortal da alma.
Ignora objetos, obscuros lhe parecem,
sem reflexo de imagens para cerebrais mensagens.
Ausente o tempo, o imperfeito, a espera,
longe o corpóreo,
a luz, mesmo a flor de primavera.
Visão mágica do querer e do poder a imprimir divina alegoria.
O espírito levita noutra dimensão,
na seara do perfeito, da verdade, da pureza;
sem metamorfose, inerente à natureza,
ou burburinho na harmônica sinfonia além-matéria;
calmaria do não-ser ao ser que se apazigua noutra esfera.
Paira o anespúrio em névoa-endorfina,
bem estar intenso, profundo.
Está-se, com certeza, extramundo. 

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Ébano olhar

dema

Vazado de humano periscópio,
penetra-me ébano-luzidio olhar.
Põe-me arresto a balançar
no etéreo gravitacional da alma,
(e que genótipo!)
angelical, porquanto pura,
impulsiva, pois que jovem,
bela, porque nobre.
No enlace de aveludadas tranças
cobrindo com carícias peitos fartos-hígidos
(que meus lábios roçam
e ao cheiro fêmea me inebriam),
o coração palpita grande
e se esquece pendular.
Platônico aconchego,
misturar de espíritos e carne
absorve-me por inteiro;
(não sei bem se me acresce
ou me consome).
No frigir da ânsia, do querer,
do ter,
irrompe-se um grito uníssono:
─ Te amo!
Leva-nos ao paraíso e
faz de nós estrela!
Com desdém, julgam-na feia.
Sirva a luz à inveja alheia,
ao clarear um cabaré, no espaço,
onde, com precisos passos,
construímos nosso céu,
bailando um tango de Gardel.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Frases

(dema)

À luta
Conclamando os amigos à luta...
“Hoje é dia do trabalho. Vamos ficar à toa!”

Bicho feio
“Vazio ou cheio, ônibus é um bicho muito feio.”

Bom senso
“Quando o “bom senso” perde o “bom”, surgem no horizonte os sinais de novos tempos.”

Ditadura
“Quanto mais um governo dura, mais ditadura.”

Limitação
"Estamos limitados no espaço e no tempo, ainda que o infinito e o eterno se nos ofereçam à conquista."

Novo/velho
“Apenas filo...sofa(za)ndo...
Quando novo, fruto de DESEJO. Depois, bucha de DES(P)EJO.
Com pena? Morra agora!”

Oxigenação
“Ainda que o técnico tenha feito história, chega a hora de ir embora. A oxigenação irriga e, não raro, traz vida nova ou a revigora.”

Pensamento
“No fundo, no fundo, bem no fundo,
qualquer pensamento é pró fundo, muito profundo.”

Perspicácia
“Perspicácia, embora louvável, não é comum.
A muitos há de se explicitar a evidência,
de se explicar o óbvio.
Isso fode qualquer relação.”

Raciocínio
“Se bicho raciocinasse, o que pensaria a mula-sem-cabeça?”

Talvez
“Talvez a lembrança, o sonho e o banzo pela juventude ida tenham sido maculados por uma realidade nova, ora presente, decepcionante, que então os deleta, os mata, como a última lágrima corrida de uns olhos moribundos.
Eis a esperança, a decepção e o "concluído".

Trens de Brasil
“Como se parecem, os trens das capitais merecem o destino dos mandruvás lá de casa.”

Tô mal
"A tristeza ri da minha desgraça
e o amor faz chacota de minha solidão."

Vazio de ideias
“Um vazio de ideias é maior do que um vazio de mundo. Vichhhh!!!”

segunda-feira, 7 de abril de 2014

L’arachide

dema

Noz-amendoim,
clausura de mim,
de todas nós
sementes malditas,
banais parasitas,
tal Cuba-medo ou Koreia-Norte,
em legada sorte,
ao jugo submissas
de um psiquê-mor.
Imagens sombrias, um tanto esquisitas,
pensares moldados por estilo Chaves.
E o basta das crianças ex-desesperanças:
─ Quem tem a chave?
Agudo grito ressoa no morro,
implora socorro:
Quebrem a noz,
que a nós desimporta se amasso atroz;
vá, desamor à mordaça,
derrame, enfim,
o sangue Fidel e o de Kim,
pois vamos bebê-lo à cachaça.
À tirania cruel ponha fim.
...
─ Pai, covarde,
seu assassino, nossa liberdade!

sábado, 5 de abril de 2014

Confidências

dema

Dulcimary, amor criança,
buenos recuerdos de infância,
pero Vera, adolescente,
permanece em minha mente.
Então Silvânia, Lourdes, Tânia.
(Paulista italiana, la prima,
da Copa da Argentina;
a do meio, fogo de palha,
nulla lembrança que valha;
mas a terceira, meu Deus,
dos grandes amores, primeira,
tocou os sentimentos meus.
Causa dela até hoje rezo
com a alma cinza-chumbo,
impôs-me duplo desprezo,
por isso, meu ódio profundo.)
Eis que assoma no horizonte,
ao de lá da pradaria,
num ginete de Creonte
a esvoaçante Maria.
Santa Virgem das Camélias,
e nem tanto era bela,
contudo, paixão doentia.
Se fosse a mim possível,
extirpá-la desta sina,
pra não tê-la perceptível,
daria volta por cima.
E veio Helô, o qu’eu faria?
cutucou meu coração,
quando a outrem pertencia.
Que me dê o seu perdão.
 Maysa, outra infeliz
pura, bela, não atriz.
Hi, Elina, nice to meet you,
sorriso vindo da alma,
impregnou-me, causou trauma,
como magia Vodu.
Pena que não tive cabra
para um loa como Tu.
Cydinha nem se instalou,
princesinha bibelô.
Entra a vez de Mara Rosa,
calada, porém, fogosa, 
par, a quem não punha fé,
muito mais pareceria
sal botado no café
ou feijão na melancia.
Com nome extravagante,
Ermenegilda surgiu,
virou os olhos no instante
em que Eros lhe sorriu.
Santo Eros, Santo Eros,
se me lembro, ainda a quero.
E o tempo assim passando,
(desenganos até quando?)
cada ciclo nova brisa,
chegaram Ione e Eliza.
Ione fora um ciclone,
um tsunami de fome
aquilo que me infringia,
ateava fogo e fugia.
Eu pensava ser meia noite,
e depois de alguns açoites,
já era o romper do dia.
E aí, linda Clara querida,
por tempo razão desta vida,
ao certo tu sabes ser musa
deste poeta que abusas.
Por que não te entregas às cegas,
deixando que ele te conduza?
Achegue-se, pois, minha Ana,
que hoje ninguém mais me ama.
Pudera, com tantos amores,
quem me dera outra aragem!
Por prenda, alguns valores,
prego botões com coragem.
Não questionem, por favor,
se nesta tardia idade
eu cultivo inda um amor
ou se tão só a saudade.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Coisas do amor

dema

Quando eu ainda menina-
moça mal desabrochada,
vislumbrei na minha sina
uma vida aprisionada.
Qual filhote de andorinha,
quis bater asas, voar;
sem recado pra mãezinha,
parti para namorar.

Tu chegaste de repente
movido ao brado silente
que, de há muito, inaudito,
se espalhava no infinito.
Tua alma cristalina,
conquistou-me por inteira,
mas vi que era tua mina
outra gata borralheira.

Me acolheste mesmo assim,
pérola bem escondida.
Me amarias? Talvez sim,
me juraste tua vida.
Te amaria? Inda não sei,
se porquanto eu vivera,
tão perdida me sentira,
logo, sem saber se amei.

Teu jeito de amar me alucina.
Inteiro, te entregas jamais;
senhora, te beijo, menina,
mal ouves meus lascivos ais.

Eis que sonho voando livre.
Liberdade, quanta me dás!
Te confesso, nunca a tive,
cativa mais ela me faz.
Oxalá o amor verdadeiro
algum dia eu possa encontrar.
Não importa em qual cativeiro,
sou ave da tarde a planar.