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segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A MISERICÓRDIA DE DEUS E O HOMEM PECADOR

Afonso de Sousa Cavalcanti – Ex-seminarista redentorista: 1969-1974

Ao admitir que os seres humanos, antes do processo civilizatório, experimentaram os sofrimentos do estado de natureza e viveram por séculos mergulhados em guerras e conflitos, onde suas vidas eram “curtas, sórdidas e embrutecidas” (HOBBES, 1983), CERTIFICA-SE QUE:
a) milhares de instituições organizaram saberes com o intuito de regimentar os direitos naturais em direitos civis, evitando os conflitos sociais de todas as naturezas;
b) após o entendimento e a sensibilidade de pesquisadores engajados nas ciências humanas e sociais, novos métodos comportamentalistas foram criados, de forma a facilitar a compreensão e aceitação da moral provisória instituída pela nova sociedade civil;
c) com a existência do Estado e com as definições de suas formas de soberania, em muitas nações, houve lugar especial para o culto religioso. E, com a excelência da religiosidade, pode-se dizer que o Cristianismo trouxe à luz um novo tempo, veio com ele a chave de ouro bíblica: “Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vos a eles. Esta é a Lei e os Profetas” (Mt 7,12);
d) com a Pedagogia Cristológica, a Igreja Católica colocou em prática os sacramentos instituídos por Jesus Cristo. Com grande eficácia, os participantes ativos se aproximam da graça divina. O confessando, num gesto de pura humildade, esvazia o peso de sua consciência moral, narrando em voz alta os erros por ele cometidos. O confessor, ordenado pela bondade infinita de Deus, usa da misericórdia do Senhor e perdoa os pecados;
e) a misericórdia divina é grandiosa e redentora para perdoar e salvar todos aqueles que erraram por pensamentos, palavras e obras maledicentes.
Aprendemos com os bons confessores e neste texto quero prestar uma fervorosa homenagem ao padre Hélio Libardi, CSSR, que com sabedoria nos ensinou que: o cristão que vive em bom estado de oração, comunhão, esmola e outras asceses religiosas, este dificilmente cai em pecado grave. Neste caso, quando precisar buscar um sacerdote para se confessar, pode dizer a ele que veio “solicitar a renovação do perdão de seus pecados”, pois no período em que está vivendo, após a última confissão, este tem convicção de consciência que não se afastou da comunhão com a sua Igreja. Afastar-se da comunhão com a Igreja é pecar. O pecado consiste em matar, explorar, excluir, diminuir, afastar o outro de seus direitos individuais e coletivos. Para este padre, DEUS NOS QUER SEMPRE BEM NA MEDIDA EM QUE O BUSCAMOS.
A excelência da vivência cristã, não importa o lugar, o tempo e a idade, é um processo de transformação que a pessoa experimenta gradativamente e que a conduz para o lugar da conversão. Para Santo Agostino, o amor habita somente naquilo que existe. Para ele, ninguém poderá existir sem amar. Amar implica em buscar o objeto do amor e, para isto, é preciso verificar que amar implica em escolher, logo a escolha que o ser humano faz é querer muito bem a existência. O ser humano para ser feliz precisa que ame o mundo e a sua existência. Quem ama a existência quer ter uma vida longa e este tempo, esta longevidade, exige que a pessoa procure a conversão. Converter-se implica em uma mudança total de vida. Aquele que se converte, muda os modos de vestir-se, de falar, de agir, passando por três estágios fundamentais: a busca incessante de conhecimentos; a criação e desenvolvimentos de hábitos bons; a tomada de atitudes. Se as mudanças existem na vida daquele que se converte, isto não é por acaso, pois Deus providencia tudo para que as mudanças ocorram. O amor é o ponto central ao qual o homem se dirige para garantir a sua própria existência. Se assim não o fosse, viveríamos imersos na solidão e no egoísmo e, conseqüentemente, assistiríamos o fim da epopéia humana sobre a terra, pois as pessoas não se uniriam às outras, garantindo, desse modo, por exemplo, a procriação e a sobrevivência da própria espécie. Entre o amor e o ser existe uma reciprocidade. O amor é envolvido e abrangido pelo ser. Se isto acontece conosco que somos seres mortais, imagina o quanto é grandioso o amor de Deus para conosco, pois ele é o puro amor e misericórdia.
ABBAGNANO, Nicola. Santo Agostinho. In: História da Filosofia. Trad. Antônio Borges Coelho. Vol. II. Lisboa: Editorial Presença, 1969. pp. 197-225.

AGOSTINHO, Santo. Confissões. Trad. J. Oliveira Santos e Ambrósio de Pina. São Paulo: Abril, 1973. [Os Pensadores].

HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

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