DEMA
Entranha n’almas sentir insano,
Se fossem tal devoluta terra.
Tem de divino e tem de tirano
Contradição que paixão encerra
Tanta meiguice, quanta carícia,
Volúpia intensa do par se apossa:
Um frenesi pleno de malícia
Segue até quando não mais acossa.
Ternura intensa, ora que supita,
Ódio voraz, se o querer se agasta,
Extremos são d’amor egoísta
Que amantes Hades pro reino arrasta.
U’a gota basta de ciúme louco
Pra sanha indômita despertar,
Infrene fera rugindo rouco
D’abrupto salta para atacar.
Perde-se o senso, rompe-se a calma,
Banal a vida, que de guardar?
Mas se há retorno, alívio pra alma,
Com mais vigor se abrasa o amar.
E assim segue, até que entrementes
Volta a calhar trivialidade.
Quebram-se os elos, co’a chama ardente,
Culpa-se o fado à eternidade.
Se a morte advém, melhor do que a vida
Que s’invalida, dura ao desdém;
Perde-se o chão, perene ferida,
Não cicatriza sequer no além.
Tem de divino e tem de tirano
Sentir insano que entranha n’alma.
Perde-se o senso, rompe-se a calma,
Nem mesmo Deus o avalia ufano.
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