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quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Aprendi que:


O aprendizado de cada um depende da onda em que surfa. (dema)

Aprendi que:

1.    Cada um de nós é um mistério que se desvenda parcialmente no giro cíclico humano, produzindo seu juízo único sobre atos e fatos, em razão do acervo cultural acumulado em vida.
2.    A criatura, efêmera, sujeita às mudanças no tempo, sente-se indefesa ante o fado desconhecido.
3.    Cada ser humano, fisicamente uma estrutura óssea transpassada por um tubo em curvas, de entrada e saídas, com recheio de carne, nervos, músculos e cobertura elástica, constitui-se apenas uma unidade da espécie, resultante do processamento de elementos da natureza, para a qual retorna após a morte.
4.    Cada ser humano, esqueleto recheado, possui atividade mental elaboradora de si mesmo e do mundo, que o leva a almejar semi-eternidade, dada a frustração com o fim irreversível do seu ciclo vital.
5.    Temeroso do futuro espiritual desconhecido, cria, historicamente, a divindade salvadora, aprimorando gradativamente esta ou aquela doutrina, de modo a assegurar à espécie um aval divino e uma vida promissora no além.
6.    De fato lhe é difícil negar a existência de um ser não criado, causador do universo em expansão, ainda que dando potencialidade à célula original de, após seu toque inicial, evoluir por si mesma.
7.    O universo ainda engatinha em seu devenir expansionista, com limites indefinidos e indefiníveis.
8.    Seria muita petulância humana acreditar que o Senhor de tudo iria misturar-se à sociedade dos homens para salvá-la. E salvá-la de quê?
9.    É mais cômodo introjetar a crença do que contestar e enfrentar o mistério.
10. Ser ambíguo, passível de praticar o bem e o mal, o homem precisa sujeitar-se a normas sócio-jurídico-religiosas, para que não se autodestrua e lhe seja possível conviver em grupo. O desrespeito a essas normas inviabiliza a perpetuação da espécie.
11. Apesar de todo esse aparato conceitual, pode ser feliz ao cultivar sentimentos bons, sobretudo o amor.
12. Este sentimento é fogo e comanda o dia-a-dia de cada pessoa humana, seja porque intenso, seja porque dele carente.
13. Independentemente do que que eu carregue em minha caixa mental, o mundo continuará a existir depois que eu me for, como já existia antes que eu nascesse.
14. A ação humana na crosta de nosso planeta não se compara àquela exercida pelas forças endógenas e exógenas, quer reequilibrando sua superfície com o rearranjo das placas tectônicas, quer por alterações intermitentes na atividade solar ou por modificação do plano inclinado orbital dos corpos celestes, levando a glaciações, desertificação, aquecimento ou desaquecimento do orbe terrestre.
15. Muita gente pensa diferente, mas o lixo não biodegradável talvez seja a maior ameaça à vida na Terra.
16. Alguma coisa sei, mas meu estoque cultural é extremamente minúsculo e insignificante ante o que a humanidade detém.
17. Sou medíocre peça no ciclo vital humano.


Nov 19 - dema

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Red bull



Pensando com meus cotovelos...
dema

Um passarinho velho toma um red bull e quer voar em cruzeiro.
As asas, contudo, estão encarangadas e as leis da natureza não admitem muletas em voo.
O entusiasmo esvai-se com a primeira tentativa. Não suporta bater asas por tempo prolongado, nem tem mais a velocidade das aves jovens.
Melhor pousar em galho baixo e bater um lero com os contemporâneos.
Um red bull pode dar asas, mas não a força da juventude.
*Entenda-se por red bull a voluptuosidade repentina, impensada, a que, por vezes, a rotina cotidiana induz.


Quebra



dema

Como sói doer um coração magoado
de quem, de repente, sente-se traído.
Vê-se ora a vagar, então, desnorteado,
implorando, à vida, um novo sentido.

Onde o desarranjo em tanta harmonia,
qual serpente fora que se intrometera
pra plantar o joio, criando agonia,
em alma bondosa que jamais sofrera?

Esta, que não teve ainda a desventura
de provar o amargo de um desamor,
põe-se, abruptamente, à busca de aventura,
como se já morto fosse o velho amor.

É possível que encontre um ardor de palha,
enquanto a ilusão se agarrar ao mistério
e, ao ser revelado, se envolva em mortalha,
por desconformar-se a sentimento sério.

Não cabe retorno pro amor antigo,
tão consolidado, decorridos anos,
que, uma vez quebrado, implicará castigo
a quem o quebrou e sofreu desenganos.

O lado perverso, muito mais que trágico,
é que apenas um causara esse mal,
a solidão, porém, por efeito mágico,
restará pra ambos em dose letal.




Novo dia



dema


Abraçados, sob o lençol da dor,
sobrevivem o sonho e a esperança.
A aurora descortina manhã radiante,
com o sol a reger o canto das cigarras.
De tardezinha, a chuva rega a paisagem
e à noite, haverá nova pintura de estrelas no céu.
Novo dia, novo amor, nova paixão.
Liame plantado no respeito, no carinho e confiança.
Nada de arestas do egoísmo.
Oportuniza-se uma nova profissão de fé.
Corre o tempo, todavia, com roda suspensa.
Urge restar um lapso de vida renovada.
Que a solidão se debruce à beira do abismo
e discuta sobrevida com a morte.
Esta, que me aguarde.

Meu onde



dema


Meu onde não tem paralelo nem fuso,
perdido me encontro e bastante confuso.

Em mar aberto, depois da procela,
lançado à sorte, sem estrela norte,
meu barco à vela à deriva desliza,
com bruma densa, numa leve brisa,
tal grão de areia de nula fortuna
que o vento transporta de duna em duna.

Na sombra da noite, me vejo cego
e não disponho de lanterna alguma.
Eis que me aflijo, em verdade, não nego;
solidão ou morte, a nova consorte,
é o que me espera e também desapruma..

Embora minh’alma, o inverso, carregue,
montão de emoções que nunca têm fim,,
de ódio, de amor, de ternura, desejos,
que há tanto tempo vens provocando em mim,
mina pronta a explodir em tacas e beijos,
se tiras o pé, acionando o estopim.

Mui mais perto quisera meu porto certo
e a luz do farol refletir tua imagem,
derradeira miragem que a Deus pedi,
advindo, com ela, absoluta certeza

de que teu grande amor de fato perdi.


quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Anjos decaídos



dema

Transportam no dorso o peso do pecado,
a arrogância de se acharem deuses de si mesmos.
Caso não engolidos por buracos camuflados,
expulsos do éden, perambulam a esmo.

Outros, entretanto, vagueiam pela Terra
e incitam os homens à prática do mal,
disseminam a mentira, a ganância, a guerra,
vão fazendo da morte um fato normal.

Seres maléficos, como forças do além,
bruxas semi-eternas em vassouras aladas,
quando ainda presentes em humanos do bem,
enfraquecem o amor e o carinho a estocadas.

Sonham vagar pelo espaço sidéreo,
vencer longas jornadas no céu estrelado,
mas anjos decaídos não pairam no etéreo,
espatifam-se no fundo de cânions vazados.

E eu, aqui pasmo, mais do que boquiaberto,
faço um pedido ao Deus Criador,
que nos afaste do mal encoberto
por artimanhas de um falso amor.



terça-feira, 5 de novembro de 2019

Incongruências



dema

Incongruências detonam teses,
simulam realidades inexistentes
ou mascaram outras verdadeiras.

Suscitam resultados indesejáveis,
estimulam ilações perversas,
produzem dubiedade e descrença.

Não sanadas, insanáveis se tornam,
por extemporaneidade,
justificativas imprestáveis
e/ou má fé.

Parem factoides absurdos.
Obstaculizam a verdade libertadora
que quebra grilhões opressores do peito
e dá razão às coisas e fatos.

Quatro cigarras mortas na mesma trilha
levam a uma segura profissão de fé
na desejada realidade oculta.
Não encontrá-las consuma o incerto.

Resta à divindade o facho de luz
para afastar a maleficência
e as arestas desconexas.
Então, a luz reascenderá a alma
debilitada pela incerteza.