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sábado, 5 de novembro de 2016

Alma criança


dema

Vida nada moleza,
porém,
infância rica na pobreza.
Ria, ria, como ria,
ria por rotina
em vendo os dedos se mexerem
por fora da botina.
Tropeçava, caía,
a unha ia;
em seguida outra vinha,
pequerrucha, bonitinha.
Conservo, de criança, o medo
(de coragem, o arremedo);
insegurança e desejos mil
são me lembranças,
assim do egoísmo puro
ante o longínquo futuro.
Também, com saudade, me dou conta
dos poucos brinquedos,
da folia,
dos folguedos,
das fartas estripulias.
Guardei a chaves a verdade,
o ódio da mentira, da vaidade,
a timidez natural e a vergonha
que me chegaram pelo bico da cegonha.
Não sei, hoje, se sou velho,
muito menos se menino,
certo é que já não tenho
curiosidade tanta
pra tudo querer saber.
A mim basta o estar vivo
e nem tão breve morrer.
Que o resto não me apoquente.
Criança inda o é minh’alma
postada à etapa seguinte:
talvez eu morra com a morte,
fugindo a qualquer requinte,
ou nasça pra eternidade
e cultive a sobriedade.
Melhor mesmo é ser menino,
agonia, só mais tarde.


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