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sábado, 2 de julho de 2016

Paradoxal


dema


Acaso um amigo indagasse, em dado momento,
o que dos poetas sem a solidão,
livre de paixão, eis o que eu lhe diria:
_ antes sofrimento do que ausente a poesia.

Será contrassenso,
mero paradoxo?
Não sei se consenso
ou pensar ortodoxo.

Razão não terá, por certo,
sem os contrários,
haver intermediários
nesse vão inserto:

o de cá e o de lá,
muro alto no meio,
e alguém com receio
de à noite o saltar;

lua e estrelas,
a nuvem a escondê-las;
o sol e o luar,
a terra e o mar;

céu e inferno,
ódio e amor,
verão e inverno,
espinho e flor;

gato e rato,
prazer e dor,
desrespeito e acato,
frio e calor;

azul e vermelho,
branco e preto
face e espelho,
centro e gueto;

feio e belo,
prego e martelo,
dor e prazer,
trabalho e lazer;

dia e noite,
alegria e tristeza,
carinho e açoite,
Antônio e Tereza.

Quem me dera soubesse
ser mesmo verdade
que a musa não anda
com a  felicidade.

Ah, pudesse eu dizer,
na sinceridade,
que a tal solidão
me tem grande amizade!





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